Uma mercadoria com as mesmas leis de mercado
Li
no jornal sobre uma manifestação do sindicato dos trabalhadores da construção
civil com as reinvindicações salariais. Aparentemente apenas mais um protesto.
No entanto dentro do contexto da nossa realidade, se mostra instrutivo da
evolução socioeconômica pela qual a nossa cidade vem passando. Vejamos, se
existe pouco arroz no mercado, os preços sobem, pois a demanda é relativamente
a mesma, ou como dizem os economistas, é “inelástica” (sempre fico a me
perguntar a imaginação de quem arranjou estes termos). Mas se no entanto houver
oferta excessiva de produto, os preços irão baixar. Diferentes ramos
econômicos, com mercados mais ou menos concentrados, tem uma dinâmica parecida,
mais ou menos lenta. O mercado de telefonia é outro exemplo. Dificilmente os
preços das ligações irão cair além de pacotes promocionais que na verdade se
parecem muito uns com os outros. Além da regulamentação dada pelo governo, a
lógica deste mercado é de uma certa estabilidade de preços, para o bem ou para
o mal. Agora voltamos para o nosso caso do mercado de trabalho. Nos sistemas
sociais anteriores, escravidão e servidão, não existiria esta discussão. Na
escravidão o “mercado” aqui discutido seria o trabalhador em si, ele a
mercadoria e não sua força de trabalho. Na servidão, com o servo preso a
“gleba”, ou seja a terra, nem mesmo o mercado dos trabalhadores seria debatido.
Com o advento das revoluções “burguesas” que ocorrem em todo o planeta ao longo
do século 19, o trabalhador ganha a liberdade de poder vender a sua força de
trabalho para quem quiser e do empregador de contratar aquele que bem entender.
Em cima desta lógica se estabeleceu um novo mercado, não de mercadorias
físicas, mas do “serviço” prestado pelo empregador. E o que isso tem a ver com
as mudanças que estamos sentindo não só na nossa região mas no Brasil todo?
Muito simples, como qualquer um que necessite de um pedreiro ou marceneiro para
fazer uma obra ou reforma, iriamos descobrir que está difícil conseguir isto, e
quando se consegue, existe inflação nos preços solicitados. Com a economia
particularmente aquecida, temos ai uma falta relativa de mão de obra e com isso
este aumento nos preços da força de trabalho que todos nós sentimos. Nos
chamados países desenvolvidos, e estamos a caminho de ser um esperançosamente,
os salários são altos por causa desta dinâmica que lá também ocorreu. A solução
encontrada lá foi melhorar o nível educacional e a produtividade da classe
trabalhadora, diminuindo assim a carga que a sociedade iria pagar com o aumento
da massa de salários. Estas mudanças só ocorrem para melhor e para todos pois a
riqueza gerada é maior e a distribuição de renda também. Obviamente os
sindicatos dos trabalhadores jogaram um papel importante neste desenvolvimento.
Desta breve descrição dos fatos, na verdade muito mais complexos do que umas
poucas linhas, podemos tirar algumas conclusões. A primeira delas é de que será
muito difícil segurar aumentos para a classe trabalhadora, eu diria que inclusive
impossível, pois os mecanismos de mercado são frios e implacáveis. Outra
conclusão é de que a melhoria continua do nível educacional dos trabalhadores é
essencial e super importante. Finalmente investimentos nos meios de produção
com a modernização dos mesmos se fazem necessários para que as melhorias no
nível da mão de obra se reflitam também em ganhos na área produtiva.
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