terça-feira, 30 de abril de 2013

O Melhor dos Investimentos - Folha do Sul / 29.Abr.2013



O Melhor dos Investimentos

Brasilia parece estar acordando, talvez um pouco tarde, mas antes tarde do que nunca. No entanto, este despertar parece estar ainda naquele momento em que percebemos que precisamos levantar e batalhar, mas que ainda estamos voando no mundo dos sonhos. O sonho da nossa casta dirigente sempre foi que o Brasil tão sonhado por todos nós iria cair do céu, mas como no despertar, temos que levantar e batalhar para tal.
Continuamos um pais com problemas de sobra e já é um assunto bastante batido e repetido que precisamos de mais professores, mais escolas, mais universidades, mais pesquisa, enfim mais tudo que diga respeito a uma melhor inclusão cultural e no mercado de trabalho do nosso povo, não de uma parcela da população, mas de todo aquele que tendo a vontade, que possa ter a oportunidade de subir a escala social, através de trabalho, estudo e dedicação.

Para reverter uma situação que se arrasta há mais tempo que qualquer um de nós pode se lembrar, incluindo os mais velhos (mesmo com toda a mudança do perfil de idade da população), enfim para poder mudar esta armadilha histórica, é necessário que recursos sejam postos na nossa máquina educacional e que estes recursos sejam empregados com sabedoria e parcimônia. De nada adianta colocar dinheiro e este desaparecer sem que o devido fim tenha sido alcançado.

A transição tem sido lenta e dolorosa, as vezes com até um certo requinte de perversidade social. Era fato comum se dizer que Universidade Pública seria apenas para classe média, enquanto o pobre tinha que se ralar para fazer a particular. Hoje esta realidade já mudou bastante com as novas universidades e as quotas tanto raciais como de cunho econômico. O pais tem um grande passivo com as pessoas de origem mais humilde e nada mais certo que pagar esta “duplicata” com “dinheiro educacional”. Na verdade, esta é uma dívida de 5 séculos!

Além disto, pela primeira vez na história se percebe um esforço, na minha opinião ainda tímido, mas aparentemente bastante sincero no sentido de levar parte de nossa juventude universitária para passar pelo menos seis meses em universidades no exterior em programas patrocinados pelo governo federal. Isto constitui um grande progresso, mas ainda está longe de ser o ideal. Se andarmos em qualquer universidade americana ou europeia hoje, iremos ter a impressão que estamos em alguma cidade da China ou da Índia. É impressionante a quantidade de estudantes destes paises que ganham bolsas de estudo para fazerem cursos de graduação, pós graduação ou pós doutorado em contraste com um número pequeno de estudantes brasileiros. E eles são enviados para cursar TODO o curso e não um ou dois semestres. A China particularmente manda estudantes para todo o espectro educacional, de música até física atômica. A classe dirigente chinesa sabe que a maior riqueza de um pais não é seu ouro, nem diamantes, nem nada físico e contábil, mas sim algo totalmente intangível que é o seu povo em geral e sua juventude em particular.

O despertar em Brasília está sendo lento! Já deveria ter ocorrido décadas atrás. Como todo despertar, temos bocejos e a vontade de voltar a dormir. Compete à sociedade brasileira fazer bastante “barulho” para impedir esta volta ao estado letárgico que tanto danos já nos causou. Educação, e de primeira qualidade, esta sim é a bandeira que todos nós temos que abraçar para mudar o nosso pais para melhor.

sábado, 27 de abril de 2013

Encontro com o Deputado Estadual Pedro Westphalen



Presidente da AL conhece projeto que propõe nova alternativa de utilização do carvão gaúcho
Julia Machado MTB 16805 - 13:23 - 04/04/2013

Professor solicitou apoio de Westphalen na divulgação do projeto
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Pedro Westphalen (PP), recebeu, na manhã de hoje (4), a visita do professor Ph.D da Universidade Federal do Pampa, Sérgio Meth. O professor e engenheiro químico apresentou a Westphalen o projeto desenvolvido na universidade que propõe uma nova forma de utilização do carvão de Candiota. “O nosso carvão é muito ruim para a siderurgia, mas é comprovado cientificamente que ele é ótimo para a carboquímica”, ressaltou Meth. 

Diante dos resultados dos estudos realizados na universidade, o cientista defende a instalação de um Polo Carboquímico em Candiota para explorar o carvão de maneira a transformá-lo em diversos produtos como metanol e ureia, por exemplo. O professor solicitou o apoio do presidente do Parlamento Gaúcho na divulgação do projeto. “Precisamos de investidores interessados na implantação deste projeto que pode ajudar muito no desenvolvimento da região”.

Para Westphalen, que adotou como uma de suas frentes de atuação a defesa do carvão mineral, o projeto desenvolvido pela Unipampa contém informações consistentes que, sem dúvida, podem contribuir para uma exploração mais inteligente do carvão gaúcho. “Como Parlamento, estamos dispostos a ajudar no que for necessário para o desenvolvimento desta proposta”, afirmou.

Também participou do encontro o superintendente-geral Álvaro Fakredin.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Um Novo Horizonte - Folha do Sul / 22/Abr/2013

Um Novo Horizonte

           Existe algo de novo no ar. Este algo novo são as perspectivas de novos investimentos na região, principalmente no município de Candiota. As imensas reservas de carvão mineral existentes neste municipio são praticamente inesgotáveis por séculos, mesmo com uma exploração intensa. Praticamente meio por cento do carvão mineral do planeta está lá! Por ser extraido a céu aberto seu custo é extremamente baixo e com um número mínimo de acidentes. Atualmente praticamente todo o carvão obtido é usado nas usinas termelétricas também localizadas no municipio, gerando renda, empregos, impostos, etc. Toda uma cultura industrial foi formada na nossa região com base nestas indústrias.

Por razões que prefiro não debater aqui, ocorreu todo um movimento político para que os investimentos nesta area ficassem estagnados por muitos anos. Finalmente no final da década passada a fase C das usinas em Candiota foi posta em operação. Foi necessária a possibilidade de novos apagões no pais para que o governo se sensibilizasse e desse sinal verde para a expansão deste setor e com isso viabilizando novos empreendimentos na nossa região.

É dificil e complicado precisar quantas usinas e qual o valor do investimento que irá se realizar, mas certamente serão muitos bilhões de dólares. Com a possibilidade do Polo Carboquímico e da instalação de unidades de cerâmica baseadas na argila da mina de carvão, este número deverá ser varias vezes maior. Outras empresas já estão se instalando em Candiota (Vogel, Fida e Revepam) para uso da cinza do carvão em produtos de alto valor agregado voltado para construção civil.

Todos estes investimentos certamente também trarão outros em manutenção, infra-estrutura, etc. Uma bola de neve começa a se formar e será importante que a região se prepare para o impacto que está para acontecer. Deverá haver um fluxo migratório de tamanho consideravel de pessoal técnico e administrativo, além de mão de obra não tão qualificada que deverá vir atraida pelos empregos que irão ser ofertados. Certamente entraremos em um novo ciclo de demanda e construção de imóveis e o comércio deverá viver um grande momento. Quem sabe não iremos ter finalmente um Shopping?

Será importante que exista uma preparação para este momento que se aproxima. Na instalação da fase C, chegou-se a instalar pessoal em containers pois era impossível encontrar imóveis para todo mundo. Alias seria importante revisar as lições que foram aprendidas neste periodo para se evitar a repetição dos mesmos problemas, que alias deverão estar a espreita em escala muito maior.

Se por tantos anos a região esteve estagnada, urge que ela agora esteja preparada para toda uma nova dinâmica que irá ocorrer. Prefeituras e empresas devem estar atentas para uma situação que mais que uma crise, deverá ser de grandes oportunidades. Inclusive o símbolo chinês para crise é o mesmo que para oportunidade.

As universidades locais poderão também tomar grande partido da situação pois a demanda por novos profissionais, atividades de apoio (pesquisa e extensão) ou simplesmente consultoria de campo deverá ser bastante grande. Compete mais do que nunca que estas instituições de ensino estejam na vanguarda dos acontecimentos.

quinta-feira, 18 de abril de 2013


Proposta do Polo Carboquímico em Candiota
Afonso Hamm

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Carvão Mineral, a qual eu presido, participou, nesta semana, de audiência com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, e o secretário executivo, Luís Antônio Elias. Estavam presentes o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Zancan, os deputados Edinho Bez (PMDB/SC), Ronaldo Benedet (PMDB/SC) e o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB/SC).
O Brasil, nos próximos 20 anos, precisa dobrar seu parque de geração de energia elétrica. Com a necessidade das usinas térmicas e de produzir gás no país, o carvão nacional, maior recurso energético brasileiro (66,7% do total), tem que estruturar ações que visem a sua inserção definitiva na matriz energética brasileira. Queremos modernizar esses parques, com enfoque ao meio ambiente e à potencialização de todos esses investimentos. O suporte tecnológico virá da pesquisa da inovação e desenvolvimento com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O setor já contou com o apoio deste Ministério na destinação de recursos à Rede Carvão e à execução do Roadmap Tecnológico para o Carvão elaborado pela CGTEE. Para dar continuidade à atenção voltada ao segmento, desta vez, apresentamos nova pauta de reivindicação pautada na abertura de Edital CNPq (ou Finep) na área de Carvão Mineral para financiamento de Bolsas de Estudo em diversas áreas; para financiamento de Projetos de Pesquisa, Equipamentos de Pesquisa e apoio à indústria em suas demandas junto aos fundos de financiamento do BNDES.
Outra solicitação é para que, de médio a longo prazo, seja criado um programa de desenvolvimento tecnológico da produção e do uso do carvão mineral nacional dentro de uma economia de baixo carbono, baseado nas ações sugeridas no Roadmap Tecnológico do Carvão Mineral.

CANDIOTA
Durante audiência, apresentamos ao ministro importante proposta pautada pela Associação Pró-Carvão, fundada em 2012, em Candiota, no sentido de defender a adoção dessa nova tecnologia em projetos futuros de termoeletricidade a carvão mineral, em conjunto com a Unipampa. A proposta visa à instalação de um Polo Carboquímico em Candiota, em parceria com as esferas governamentais, que poderia fornecer o syngás (gás de síntese do carvão mineral) para possíveis empreendimentos termoelétricos na região. A sugestão da Associação é para a criação de um programa de pesquisa e inovação no desenvolvimento de um gaseificador que utilizasse o carvão mineral com as características do carvão gaúcho. Esta proposta chegou ao meu conhecimento pelo senhor Anselmo Malaguez, da Associação Pró-Carvão de Candiota, e pelos professores da Unipampa Jocemar Parizzi e Sérgio Meth, que escreveram um artigo sobre “Carvão Limpo – Tecnologia para não Poluir”. Eles sugerem a utilização da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) para esse objetivo.
No artigo dos profissionais da Unipampa é citado que existem tecnologias capazes de fazer uso do carvão para gerar energia elétrica com baixíssimos índices de emissão de CO2 equivalente. Ainda aponta que a gaseificação do carvão é um processo que, sob temperatura e pressão elevadas, converte-o em um gás de síntese (syngas) composto de H2 e impurezas de CO, as quais podem ser removidas resultando em um combustível rico em H2. Tecnologias de captura de carbono, que estão em operação comercial há muitos anos, oferecem capacidade eficiente e rentável de remover o carbono do syngas após a queima. O gás resultante final, após a queima, é essencialmente livre de carbono.
Atualmente, o Brasil possui imensas reservas de carvão de excelente qualidade para aplicações com gaseificação e há tecnologia consolidada e disponível comercialmente para ser aplicada em novas plantas, com menor custo de redução de emissões de poluentes e uma maior eficiência na produção de energia.
Durante audiência com o ministro, aproveitamos para entregar o convite da abertura do IV Congresso do Carvão Mineral, que será no dia 23 de agosto, às 18h, no Centro de Eventos da Ufrgs, em Gramado.

Folha do Sul – 18/04/2013

Coluna de Afonso Hamm

Deputado federal pelo Rio Grande do Sul

 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mente e Corpo - para reflexão de como somos de verdade...


Necessidade de Mudanças - Folha do Sul / 15.Abr.2013

Necessidade de Mudanças

          Sempre somos levados a pensar que o chamado “Sistema Penal”, incluindo-se ai policia, juízes, promotores, penitenciarias, etc, é feito para “punir”. Nas modernas sociedades não é exatamente este o entendimento. As assim chamadas “penas” existem para, principalmente nos casos graves, tentar ressocializar o infrator e mostrar aos demais que aquele tipo de ato tem consequências. A sociedade brasileira já tomou consciência há muito tempo que penitenciarias em estado precário significam apenas “escolas do crime” onde muitas vezes um pequeno infrator entra ali como tal e sai um bandido diplomado. Por outro lado certamente ninguém gosta de saber que os nossos impostos são gastos demasiadamente com isto. Ficamos assim entre o martelo e a bigorna: melhorar o sistema carcerário em detrimento de outras áreas (educação, saúde, e o próprio judiciário) ou deixar que as cadeias sirvam para “aprimoramento” de criminosos.

Se tratando dos assim chamados “menores”, isto fica ainda pior. Começando pela legislação: nossas leis nesta área tem raízes de mais de um século! Um “menino” de 16 anos já têm consciência no mundo atual (televisão, internet, escola, etc) do que é certo e errado ao contrario de meio século atrás. Isto é um fato e não adianta dizer o contrario para o cidadão que paga no final as contas (leia-se imposto). Não importa se o perpetrador é “maior ou menor”. Ele, o cidadão, simplesmente não quer ser vítima de assalto ou coisa pior, seja de um ou de outro. O sistema existe, pelo menos na teoria, para proteger os cidadãos, que são os que pagam a conta no final! O esforço da policia para capturar um criminoso (maior ou menor) é sempre custoso em termos financeiros, quando não com a vida de um policial.

Fica aqui a pergunta: até quando a Sociedade Brasileira irá se dar ao luxo de deixar que criminosos (muitas vezes escolados na “área”) sejam presos e em seguida soltos por serem menores de idade, para em seguida cometerem crimes maiores ainda?

Argumentasse que se a maioridade for baixada para 16 que os traficantes irão usar meninos de 15, e assim por diante, até que iremos ter meninos de 5 anos armados com Uzis e granadas... Este tipo de argumento é meio deturpado. Hoje damos aos cidadãos de 16 anos, o direito de dirigir, de votar, etc. A sociedade, desta forma, mostra ter consciência de que os jovens de hoje são mais maduros e conscientes que antes. Mas direitos maiores também devem trazer deveres maiores. Isto infelizmente não é bem assim. A chamada “emancipação” (artificio legal para dar aos jovens o poder de tirar carteira) significa que um poder imenso é dado a um jovem e as consequências (que podem incluir acidentes com morte) serão dos seus pais. Esta atitude leniente leva ao que acontece, em que jovens se sentem com o poder de fazer o que querem sem nenhum respeito pelos demais, pois sabem que o sistema legal irá de um jeito ou de outro protege-los.

A redução da maioridade para 16 anos é um clamor da sociedade que os nossos congressistas em Brasilia estão tendo que escutar. Assim como no caso da embriaguez ao volante, a repressão de crimes cometidos por menores terá que ser revista. O caso do jovem assassinado em São Paulo por um “menor” que deverá ser solto em breve, para provavelmente cometer outras barbaridades, um entre inúmeros outros casos semelhantes, é sintoma de que o sistema penal não está funcionando adequadamente e que mudanças são necessárias. Qual a lógica em ficarmos sem um jovem de futuro promissor, não ressocializarmos o assassino e deixarmos a mensagem de que até os 18 anos nada tem consequências, mesmo um assassinato?

Previdência Social - Folha do Sul / 8.Abr.2013

Previdência Social

           29 de Outubro de 1929, uma data que ficaria conhecida como Terça Feira Negra (Black Tuesday). Neste dia a Bolsa de Valores de Nova York entrou em colapso dando inicio à Grande Depressão. Quatro anos mais tarde mais de 25 por cento da mão de obra nos Estados Unidos estaria desempregada. Toda uma atmosfera de revolta social contra os sistemas sociais existentes estava literalmente na rua. Agitações e revoluções são parte deste período. Os acontecimentos que se seguiram foram dramáticos e fazem parte da formação do mundo atual: o New Deal nos Estados Unidos, a ascensão de Hitler e a Segunda Guerra são talvez os maiores exemplos. Aqui no Brasil tivemos a Revolução de 30 que em breve levaria ao Estado Novo. A ameaça de revoltas e revoluções esteve presente mesmo nos Estados Unidos onde grande parte da massa desempregada falava em revolução comunista. Alguma coisa precisava ser feita para que esta situação social explosiva ficasse menos tensa. Não é coincidência que o inicio para valer dos sistemas de previdência social seja desta época.

O governo Roosevelt instituiu no inicio da década de 1930 um primeiro programa embrionário de “Social Insurance” que iria levar pouco a pouco ao atual sistema de “Social Security”. Vários setores na época acusaram Roosevelt de estar tentando envenenar os EUA com “socialismo”. Mas na verdade o programa era muito limitado para os padrões atuais e uma tentativa para diminuir o sofrimento entre idosos, desempregados, viúvas, órfãos, etc. Mesmo assim muitos grupos como a maioria da mulheres e minorias foram excluídos no inicio para só serem incluídos pouco a pouco. As mudanças na Seguridade Social americana foram (e são) no sentido de se conseguir um maior igualitarismo entre os diversos grupos sociais.

No Brasil, apesar de tentativas tímidas a partir da década de 1920, somente em 1933 com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões é que esta ideia começa a tomar real forma até se consolidar na década de 1960 com a criação do INPS e de lá para cá outras mudanças ocorreram como a criação do INSS e a nossa Seguridade Social passou a abranger as aposentadorias, pensões, auxílio-doença, salário-maternidade, salário-família, auxílio reclusão, SUS (Sistema Único de Saúde), etc.

Os problemas da nossa Seguridade são semelhantes aos de outros países. No inicio, a expectativa de vida do brasileiro era de 43 anos e as famílias tinham muitos filhos. Hoje com uma vida média de quase 70 anos e o envelhecimento da população, a relação contribuinte/beneficiário diminuiu de 8 para 1,2. Não é de surpreender que existam problemas. Para gravar a situação problemas de corrupção são sistematicamente expostos pela imprensa. No final das contas se estima como sendo de R$ 50 bilhões a diferença entre o que o governo paga e o que arrecada e isto é dado o nome de “rombo”. Certamente um choque de gestão melhoraria esta situação mas mesmo assim mudanças se fazem necessárias. Um aumento no tempo de contribuição e no valor da contribuição tem sido a solução encontrada mundo afora. Aqui no Brasil em 1998, passou a ser exigida uma idade mínima para a aposentadoria, que, no caso das mulheres, é de 55 anos e do homem, 60 anos. Anteriormente não existia este limite de idade. Certamente mudanças virão pois o risco de colapso do sistema é grande. O debate importante para toda a sociedade brasileira é que se o governo pedir sacrifícios para a população que também existam contrapartidas de melhoria gerencial no sistema. Este debate será um dos principais temas políticos e sociais nos anos que virão. A pergunta que teremos que responder é que tipo de Seguridade Social pretendemos ter dentro das nossas possibilidades!

Flexibilização e Mudança - Folha do Sul / 25.Mar.2013

Flexibilização e Mudança

          Nossa sociedade é pelo menos teoricamente capitalista e liberal, com estas instituições jogando um papel importante no assim chamado “social”. Nossa Constituição (1988) inclusive cita logo no inicio que temos como fundamentos “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. Os nossos legisladores, um quarto de século atrás, reconheceram o papel da livre iniciativa, tanto economicamente como socialmente. Na verdade o povo brasileiro é um dos mais empreendedores do mundo. Empresas são criadas muitas vezes do nada e Impérios econômicos são erguidos pelo esforço e imaginação de visionários.

Muito embora os constituintes de 1988 tivessem reconhecido isso, as barreiras para que o empreendedorismo desabroche são enormes. Já citei anteriormente os problemas com impostos: a sociedade, como um todo, paga mais de 33 % de tributos, uma das maiores taxas do mundo sem que existam serviços públicos de qualidade em contrapartida. Em outras palavras, cobramos impostos do nível da Suécia e temos contrapartida destes impostos nos serviços públicos ao nível de Honduras. Anos atrás isto era descrito com “belgíndia” (Bélgica + Índia).

A parte trabalhista é outro pesadelo. Um empregado que teoricamente custa cerca de R$ 678 mensais (um salario mínimo), sairá para o empregador, dependendo da atividade, por quase R$ 2.000, boa parte disto pagos ao erário. Muito embora estejam embutidos neste valor assistência médica e previdenciária, todos aqueles que podem pagam planos de saúde e de aposentadoria privados. Quando se fala em “flexibilização” do mercado de trabalho, o discurso oficial é quase sempre no sentido de se sacrificar o trabalhador. Seria mais interessante e produtivo que o Estado, em todas as esferas, federal, estadual e municipal, tentasse corrigir o problema na raiz, que é exatamente a má gerência dos recursos governamentais. Felizmente, apesar de todas as pressões para abafa-los, temos sindicatos, que são a resistência natural aos excessos que o sistema faria se pudesse (e as vezes faz assim mesmo). Excessos estes cuja conta é sempre paga, na maior parte pelos trabalhadores e em parte pelas empresas, que obviamente repassam isto para o consumidor.

Finalmente, temos a burocracia de registro, mudança e término das empresas. Uma empresa industrial para ter registro legal, necessita minimamente de CNPJ, inscrições estaduais e municipal, licença dos bombeiros, IBAMA, licenças ambientais prévia, de instalação e de operação, registro no órgão técnico competente (CREA, CRQ, etc). Se eu tiver esquecido algo, peço ao leitor que me perdoe. A estrutura é tão complexa que uma empresa, para poder estar completamente legalizada, pode levar mais de seis meses no meandro desta selva burocrática. Alguma dúvida do porque de muitos empreendedores, preferirem o anonimato e a ilegalidade mesmo com o risco de serem autuados e até presos. Muitos dos funcionários públicos se empenham, eu diria até no máximo de suas capacidades, para diminuir esta tramitação, mas ela continua a ser lenta, por conta de um sistema que definitivamente não ajuda.

Mudanças se fazem necessárias! A situação que se formou não é culpa de ninguém e sim da armadilha histórica em que nos metemos. Mudanças para uma flexibilização e agilidade na área de negócios se fazem urgentes para podermos liberar todo o potencial empreendedor do nosso povo. Com mais geração de riqueza, com certeza mais empregos (de qualidade), mais impostos e mais progresso virarão uma bola de neve para melhor.

Francisco - Folha do Sul / 18.Mar.2013

Francisco

          Nossa civilização conseguiu alcançar patamares de conforto e bem estar dificilmente sonhados algumas décadas atrás. A idade média de vida hoje é de mais de 70 anos. Temos tecnologia, máquinas, nível de conforto, etc. Mesmo o trabalhador mais humilde consegue trazer para si e sua família bens e serviços que antes não estavam ao alcance dos seus avós. Toda uma estrutura educacional foi instalada e com ela menos ignorância e acesso a informação para praticamente toda a população, pelo menos para aqueles que quiserem ir atrás.

Tudo isto acabou tendo um efeito bumerangue. O cidadão hoje se tornou arrogante. Vivemos como se pudéssemos fazer tudo. Em outras palavras, ficamos mais materialistas. Numa sociedade como a medieval, 1000 anos atrás, haveria mais preocupação com o espírito! Os recursos eram imensamente menores e as pessoas viviam muito menos. Um escritor bom sobre o assunto é Maurice Druon, cuja serie “Os Reis Malditos” mostra muito bem como era a vida na França antes da Guerra dos Cem Anos e o contraste com os dias de hoje é imenso se não cruel.

Atualmente aprendemos que podemos viver mais do que antes, tanto qualitativamente como quantitativamente. Lamentavelmente tendemos a perder valores importantes, de cunho moral e social. Nossa sociedade atribui valores monetários aos seus membros, seja em estatísticas, como em seguros, em qualquer atividade ou investimento de cunho social, etc. Isto acontece devido ao caráter racional e lógico que acabou permeando todo o subconsciente coletivo. Um exemplo chocante disto foi a decisão por Truman de jogar as bombas atômicas no Japão ao fim da Segunda Guerra. Ele pesou todas as possibilidades e tomou esta decisão pois a considerou a menos dolorosa e melhor politicamente. Centenas de milhares de pessoas morreram em consequência disto. Muitos outros exemplos, não tão drásticos poderiam ser citados, inclusive no nosso país.

E é neste ponto que entram as religiões no cunho moderno que elas tomaram. Digo isso independente de qualquer uma. O valor do ser humano não pode ser quantificado, não podemos virar números de uma companhia de seguros ou de uma repartição governamental. É necessário que sejamos lembrados que mesmo na nossa arrogância moderna, ainda somos seres humanos. O respeito, amor e consideração pelo próximo é de importância fundamental se queremos construir uma sociedade melhor.

A Igreja Católica, depois do Concilio Vaticano II, tomou rumos importantes em uma serie de questões. Questões estas fundamentais nos caminhos em que hoje estamos. O dialogo com as outras vertentes religiosas, a tolerância e a lucidez se tornaram grandes instrumentos para uma Igreja renovada. Com o dialogo veio também a possibilidade de se assumir a liderança a nivel espiritual. Não uma liderança baseada na força ou na intimidação, mas aquela baseada na compreensão mútua e no desejo de paz, que é o intuito de qualquer uma das crenças modernas.

João Paulo II foi a encarnação viva deste espírito. Em qualquer parte do mundo, as pessoas ficavam extasiadas com ele, independente de serem católicas ou não. Lamentavelmente seu sucessor sucumbiu aos problemas conjuntos da idade e internos da própria Igreja. A eleição do Papa Francisco nos traz (com toda a carga de um passado dedicado ao próximo) algo muito importante: Esperança! Esperança de que Tolerância e Paz serão cada vez maiores neste mundo tão sofrido. “Habemus Papam” e que com ele venha junto toda esta atmosfera necessária para que possamos construir um  mundo cada vez melhor.

Inflação e Impostos - Folha do Sul / 11.Mar.2013

Inflação e Impostos

          Os economistas identificam dois tipos de inflação. O primeiro é aquele em que por haver dinheiro demais em circulação, os preços sobem por excesso de demanda para uma mesma oferta de bens e produtos. O segundo caso é quando temos queda generalizada na produção, causando uma deseconomia de escala e forçando uma alta de preços para compensar o aumento do custo fixo unitário (custos fixos são aqueles em que as empresas tem que gastar, com ou sem produção, por exemplo, aluguel de um prédio, e “unitário” é o valor por unidade de produto vendido). O segundo tipo de inflação está ligado ao fenômeno conhecido como estagflação, ou seja, união de estagnação econômica com inflação.

O problema é que isto (estagflação) acaba se tornando uma armadilha para a sociedade. O governo, com a queda da atividade econômica, acaba recebendo menos impostos. Como o governo tem compromissos de toda ordem, tem-se aparentemente três recursos: ou aumentar os impostos, ou emitir moeda, ou reduzir os gastos governamentais. Todas as três soluções apresentam problemas ligados a empecilhos econômicos ou políticos.

Como nenhum governo quer assumir a sua parcela de responsabilidade nesta estória, muitas vezes tentasse culpar os comerciantes ou os industriais. “Acordos”, “congelamento de preços”, “choques econômicos heterodoxos”, “choques econômicos clássicos”, etc, todo tipo de receita foi aplicado na sociedade brasileira na década de 1980 e 1990. O plano “Cruzado” (Governo Sarney) foi uma destas estórias. A tomada da poupança (Governo Collor) foi outra. Apenas conseguiu-se controlar a inflação com a implementação da lei de responsabilidade fiscal, para com isso evitar abusos pelo poder executivo, em qualquer das três esferas (federal, estadual e municipal). Os resultados ao longo de uma década são notáveis. Temos toda uma geração de brasileiros para os quais “hiperinflação” parece coisa de 1900 e antigamente. Simplesmente não passaram por esta experiência!

Lamentavelmente estamos tendo dois fenômenos que, para os mais velhos, trazem lembranças amargas: um pico de inflação no inicio do ano (que felizmente não é de 100% ao mês como nos anos 1990) e um arrefecimento da atividade econômica. Ambos os efeitos não são grandes ainda, tanto que aumento no nível de desemprego e diminuição na renda das famílias aparentemente não se fez sentir. Isso pode ser medido pela atividade sindical (protestos, greves, etc) que permanece relativamente calma. Mas certamente este panorama irá se deteriorar caso nada seja feito.

Até aqui o Brasil foi um porto seguro no meio de uma tempestade econômica internacional. Tivemos inclusive o retorno de muitos brasileiros (incluindo eu mesmo), que já moravam fora há muitos anos. Este retorno da “diáspora tupiniquim” é mais uma prova de que havendo condições e oferta de trabalho, o brasileiro prefere morar no seu país!! Nada contra outros países, mas é aqui ainda é um dos melhores lugares do mundo, de um povo de índole fantástica.

Para exatamente reverter a inflação e o esfriamento econômico, foi lançado pelo governo federal um pacote de diminuição dos impostos de produtos básicos. Talvez finalmente estejamos evitando caminhos fáceis e tomando as decisões certas! Fica a esperança de que se isso der certo, que os governos (em todas as esferas) repitam a mesma receita para outros produtos e serviços. Desonerar a população dos impostos atuais (uma das maiores taxas do mundo) certamente irá trazer benefícios para todos, incluindo-se ai o sistema governamental.

Liderança - Folha do Sul / 4.Mar.2013

Liderança

         A palavra em inglês é “Leadership”. Repetida inúmeras vezes no jargão oficial de qualquer universidade americana que se pretenda de primeira linha. Mas o que será realmente o significado deste conceito tão citado? Fala-se o tempo todo em “lideres políticos”. Qual a diferença entre um líder político, um burocrata e um ditador? A diferença que faz com que uma figura, não necessariamente pública, possa ser considerada de liderança, é que esta pessoa nos traz inspiração e é capaz de nos mostrar aquilo de que somos capazes. A inspiração de um líder é sempre no sentido de formar novos lideres!

Ditadores ou administradores com esta tendência são sempre contra parlamentos, conselhos, senados, imprensa, enfim, todo e qualquer tipo de exposição daquilo que estão “produzindo” na sua administração. Na Roma antiga, era temor difundido até o fim da República que alguém se sobressaísse na politica e se torna-se rei ou pior “dictator”. Uma das razões do assassinato de Júlio Cezar era exatamente este temor. Cezar era um líder inspirador, membro da nobreza mas ligado ao partido popular e por fim a elite nobre o matou a punhaladas no Senado. Augusto resolveu este dilema se tornando “apenas Imperator”...

Nos tempos modernos, grandes lideres como Churchil e Roosevelt são fonte para gerações. Formados na tradição democrática, sempre souberam aceitar críticas e inspirar seus liderados. Não fosse pela controvérsia de ter sido ditador (Estado Novo), certamente Getúlio Vargas seria uma figura muito mais cultuada no Panteão histórico brasileiro. Por isso ele é muito mais lembrado como o presidente eleito que tantos legados nos deixou ao ser o líder político eleito com perspectivas e heranças históricas ao invés das lembranças de excessos e repressão como são as descrições do “Estado Novo”.

Mais do que nunca lideres são necessários, inspiradores, corretos nos seus atos, sem medo de críticas e atentos aos desejos daqueles que eles inspiram. Nada mais triste que ver alguém que se diz líder vociferar contra críticas e não querer que elas sejam ditas. A liderança verdadeira sabe, que seu trabalho, sendo sincero, verdadeiro e honesto, será sempre reconhecido. Lamentavelmente, existem pessoas que ao atingir cargos de responsabilidade, preferem agir como “pequenos ditadores” e reprimir a expressão da verdade dos seus pares.

O Espírito de Liderança é mais do que nunca necessário na nossa região, seja na política, nos negócios, nas escolas e particularmente nas universidades. É fundamental que nossos jovens saibam o valor de agindo corretamente, serem eles também inspiradores de novos lideres, que esperam para ser formados entre este Povo do Pampa, que mais do que nunca quer ver a região se transformar para melhor sem que isto signifique perder seu ar tradicional.

Para aqueles que duvidam das minhas palavras, sugiro uma leitura da história do Rio Grande do Sul e assim possa ver que temos uma tradição de liderança das mais fortes. Resta apenas inspirar a formação nos dias de hoje destas lideranças e evitar o caminho fácil de simplesmente olharmos para o outro lado e deixarmos elas serem sufocadas por aqueles que querem tudo para si e nada para a comunidade.

Uma figura humana - Folha do Sul / 25.Fev.2013

Uma figura humana

        John Maynard Keynes (1883-1946) é certamente uma das figuras mais influentes no pensamento econômico do Século 20. Numa época difícil, entre o fim da Primeira Guerra e o fim da Segunda, suas ideias ajudaram a resolver problemas econômicos que pareciam insolúveis. Hoje quando patinamos em problemas semelhantes, seria interessante uma releitura das ideias keynesianas pelos gestores públicos.

Filho de uma família de classe média alta, foi estudante e mais tarde professor de Cambridge. Sua reação ao não passar em um exame público foi apenas disser que os examinadores sabiam menos que ele. Mais tarde na vida recebeu o título de Barão de Tilton, ganho por seu valor e não por herança.

Na época de Keynes, o debate era entre liberalismo e comunismo. Talvez pelas ideias keynesianas ficarem no meio do espectro de ideias, Keynes era considerado pela esquerda como um representante do capitalismo e pela esquerda como um comunista perigoso. Nada mais perigoso que advogar ideias que são novidade...

Ao fim da Primeira Guerra, sendo convidado a participar da Conferência de Versalhes, sua posição foi de rejeição às indenizações que foram impostas à Alemanha. “Paz Cartaginesa” foi como ele descreveu o acordo afirmando que ao pedirem uma indenização vultuosa, França e Inglaterra estariam apenas punindo toda Europa, incluindo eles mesmos. Os acontecimentos que se seguiram nos próximos 15 anos, principalmente a ascensão de Hitler mostrou o quanto ele estava certo. Nos seus escritos ele inicialmente descreve Lloyd George, chefe da delegação inglesa, como aquele “menestrel pé de bode”. Mas ninguém é perfeito, mais tarde Keynes tirou a expressão do texto.

Criticou com firmeza a atitude de Churchil de voltar ao padrão ouro que causou, com os desequilíbrios cambiais resultantes, desemprego na Inglaterra e finalmente foi um dos grandes fatores da quebra da bolsa em Nova York, que colocaram o mundo todo na Grande Depressão.

Com o desemprego batendo em quase 50 % nos Estados Unidos, finalmente as ideias keneysianas foram postas em prática pelo Presidente Roosevelt, inicialmente de forma tímida, e mais tarde com a Segunda Guerra, de forma intensa. A proposta era simples: aumentar o nível de emprego pelo aumento dos gastos do governo em obras públicas e assim manter a atividade econômica funcionando. A represa Hoover nos Estados Unidos é uma das obras desta época. Com a guerra, o gasto estatal em defesa foi nas alturas e com ele toda a economia americana foi reativada.

Keynes, tendo vivenciado a Grande Depressão, tinha um grande sentimento de perda pessoal ao ver tanta gente desempregada e faminta nas ruas. Suas posições são mais do que um economista, a de um humanista preocupado com uma sociedade melhor.

Hoje nos defrontamos com um inicio de esfriamento econômico no pais. Temos milhões de coisas a serem feitas, temos mão de obra, temos a tecnologia, temos o dever moral de pedir uma melhoria na infraestrutura. Talvez apenas uma releitura de Keynes e uma lista de prioridades pudessem ajudar para serem dados inicio em obras estatais de vulto para que junto com uma melhoria da infraestrutura possamos manter um nível aceitável de funcionamento do mecanismo econômico e também evitarmos o que sempre foi o grande fantasma do Brasil moderno: o Desemprego.

O Poder da Terra - Folha do Sul / 18.Fev.2013

O Poder da Terra

          A maior parte da história da humanidade, no que entendemos como civilização, é ligada à sociedades agrarias. No mundo antigo, e mesmo no Brasil Colônia e ainda no Império, a função das cidades era principalmente administrativa. Não existiam indústrias no sentido em que estamos acostumados. Nestas sociedades as relações sociais eram (ou ainda são, dependendo de que parte do mundo estamos falando) escravagistas ou feudais. A maior riqueza é portanto a própria posse da terra. Isto explica o fenômeno da “nobreza” hereditária. Poderíamos dizer que de uma forma ou de outra, este foi o modus operante econômico durante 10.000 anos, começando no antigo Egito e na Mesopotâmia (onde é o atual Iraque). Com o advento da indústria, processo este iniciado na Inglaterra 250 anos atrás, a agropecuária começa a passar por mudanças no sentido de uma “modernização” em um processo que está longe de terminar.

Algumas mudanças já são bem claras, principalmente nos países desenvolvidos. A agropecuária deixou de ser extensiva e ineficiente e passou a ser uma atividade altamente capitalista, onde cada centímetro de terreno tem que ser explorado para gerar lucro e justificar o investimento. A modernização das técnicas é outro sintoma claramente sentido. Algo que pareceria estranho aos nossos ancestrais é o fim do “campesinato tradicional”. A população que vive diretamente da terra é cada vez menor!! Números como 3% são comuns. E o mais impressionante é que com uma parcela ínfima do numero de trabalhadores que labutavam anteriormente, muito mais alimento é gerado por hectare. Devido a estrutura altamente competitiva do mercado, a modernização das propriedades e a mudança das relações sociais se tornam uma necessidade real.

Sempre existirão os saudosistas que querem manter um mundo que já não existe mais ou que rapidamente se desintegra em contato com a modernidade. Mas as forças históricas são poderosas e impiedosas.

Na nossa região, a criação de gado extensiva é uma tradição desde os tempos do Brasil colônia. Houve uma época em que o gado solto se multiplicou sózinho e na ausência de predadores maiores, se tornou uma das maiores forças econômicas da época. Esta natureza favorável aos bovinos foi a força motriz que gerou toda uma cultura. Dai para as charqueadas foi um passo. Interessante relembrar que o grande motivo que detonou a Revolução Farroupilha foi a negativa do Governo Imperial de não taxar a carne importada da Argentina.

A criação extensiva de gado se tornou assim a mola mestra da economia local. Isto só começa a mudar com as culturas de arroz, que chega trazendo novas técnicas e modos de produção. Hoje a grande mudança está com a soja. Basta viajar um pouco na região para vermos a diferença nos campos. Mesmo assim a soja não tirou área do arroz nem diminui o tamanho dos rebanhos. Mas certamente o produtor rural se vê forçado, até para manter a rentabilidade mínima exigida pelo seu negócio, a modernizar cada vez mais as áreas tradicionais.

Ainda não sentimos a força desta mudança na economia local. Mas certamente em 3 anos ou um pouco mais, poderemos perceber que a pujança do nosso rincão, que sempre foi marcada pela Terra, estará mais do que nunca presente. As oportunidades para empreendedores ousados, que montarem indústrias baseadas em produtos de origem agropecuária serão enormes.