Nosso Carvão é Ruim!!!
Baixa
qualidade, muitas cinzas, muito enxofre, poluente, baixo poder calorifico! Este
é o tipo da descrição que se deve esperar quando o carvão nacional em geral e
o carvão gaúcho em particular são trazidos ao centro da conversa. É como se
estivéssemos numa espécie de automático e que apenas isso possa ser dito sobre
esta matéria prima tão importante. Se alguém começar a falar em carvão
nacional, a expressão “baixa qualidade” já se faz presente, caso contrario corresse
o risco de ser até visto como “mal informado” ou inimigo do meio ambiente. A
pergunta, que não quer calar, é: baixa qualidade para que? Se estamos falando
de carvão mineral para siderurgia, o carvão nacional não é de baixa qualidade
pois simplesmente não pode ser usado para esta finalidade. Durante meio século
se insistiu nisso com reservas de mercado e todo tipo de barreiras para se
forçar a indústria siderúrgica nacional a usar uma matéria prima que ela simplesmente
não queria pois o importado é bem melhor. A desregulamentação no inicio da
década de 90 terminou com o reinado artificial da mistura do carvão nacional
com o importado. A mistura era necessária pois o nacional tinha que ser usado,
por força de lei! O fim desta obrigatoriedade trouxe um alivio para a siderurgia
brasileira. Com o fim deste mercado para o carvão, passou-se o foco para a
geração de energia termelétrica, a qual passou a ser a grande finalidade depois
da desregulamentação. Hoje as termelétricas movidas a carvão, tais como as
instaladas em Candiota, atendem por mais de 1 % da matriz energética
brasileira. O sucesso deste modelo, ao longo do tempo, é inegável. Nossas
termelétricas exportam energia para São Paulo e temos a possibilidade de
instalação de novas unidades. Hoje no entanto vários interesses agem, aberta ou
veladamente, contra o carvão para esta finalidade, usando toda uma serie de
argumentos, científicos ou não, como se as outras fontes de energia também não
apresentassem problemas. Este embate tem feito com que a indústria do carvão
nacional apresente um quadro de quase estagnação quando comparado com outros
setores da economia. Isto não é bom, pois estamos num momento pujante da
economia brasileira. O grande uso para o nosso carvão (este “nosso” dito com
muito orgulho!), para o qual ele nunca foi usado em escala industrial no pais,
chama-se carboquímica! Carboquímica eh a transformação do carvão em produtos
químicos e plásticos, tais como metanol, amônia, ureia, polietileno,
polipropileno, etc, e é algo que é feito em larga escala mundo afora. E o
carvão nacional (e de Candiota em particular) parece ter sido feito para isso:
as cinzas, tão deletérias para outros fins, são importantes auxiliares na etapa
de gaseificação em total contraste com o carvão chinês, que por ter baixo teor
de cinzas precisa que areia seja adicionada no reator. O nosso carvão já vem
com a umidade necessária ao processo! Até mesmo o enxofre, tão difamado, é
recuperado na operação industrial com economia e pode ser transformado em
fertilizante. A agregação de valor é tão grande que o custo da matéria prima
na carboquímica é de 10 a 20 %, em alguns casos até menos! Compare isto com
os valores da petroquímica tradicional, baseada em nafta ou gás natural,
situados entre 75 e 90 %! Ambientalmente, além da eliminação da poluição pelo enxofre,
temos também um grande abatimento da quantidade de CO2 emitido. Por
tudo isso, da próxima vez que alguém dizer que o “carvão nacional é ruim”,
deve-se perguntar de volta: “Ruim para que?”.
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