domingo, 14 de abril de 2013

Nosso Carvão é Ruim - Folha do Sul / 13.Jul.2012


Nosso Carvão é Ruim!!!
Baixa qualidade, muitas cinzas, muito enxofre, poluente, baixo poder calorifico! Este é o tipo da descrição que se deve esperar quando o carvão nacional em geral e o carvão gaúcho em particular são trazidos ao centro da conversa. É como se estivéssemos numa espécie de automático e que apenas isso possa ser dito sobre esta matéria prima tão importante. Se alguém começar a falar em carvão nacional, a expressão “baixa qualidade” já se faz presente, caso contrario corresse o risco de ser até visto como “mal informado” ou inimigo do meio ambiente. A pergunta, que não quer calar, é: baixa qualidade para que? Se estamos falando de carvão mineral para siderurgia, o carvão nacional não é de baixa qualidade pois simplesmente não pode ser usado para esta finalidade. Durante meio século se insistiu nisso com reservas de mercado e todo tipo de barreiras para se forçar a indústria siderúrgica nacional a usar uma matéria prima que ela simplesmente não queria pois o importado é bem melhor. A desregulamentação no inicio da década de 90 terminou com o reinado artificial da mistura do carvão nacional com o importado. A mistura era necessária pois o nacional tinha que ser usado, por força de lei! O fim desta obrigatoriedade trouxe um alivio para a siderurgia brasileira. Com o fim deste mercado para o carvão, passou-se o foco para a geração de energia termelétrica, a qual passou a ser a grande finalidade depois da desregulamentação. Hoje as termelétricas movidas a carvão, tais como as instaladas em Candiota, atendem por mais de 1 % da matriz energética brasileira. O sucesso deste modelo, ao longo do tempo, é inegável. Nossas termelétricas exportam energia para São Paulo e temos a possibilidade de instalação de novas unidades. Hoje no entanto vários interesses agem, aberta ou veladamente, contra o carvão para esta finalidade, usando toda uma serie de argumentos, científicos ou não, como se as outras fontes de energia também não apresentassem problemas. Este embate tem feito com que a indústria do carvão nacional apresente um quadro de quase estagnação quando comparado com outros setores da economia. Isto não é bom, pois estamos num momento pujante da economia brasileira. O grande uso para o nosso carvão (este “nosso” dito com muito orgulho!), para o qual ele nunca foi usado em escala industrial no pais, chama-se carboquímica! Carboquímica eh a transformação do carvão em produtos químicos e plásticos, tais como metanol, amônia, ureia, polietileno, polipropileno, etc, e é algo que é feito em larga escala mundo afora. E o carvão nacional (e de Candiota em particular) parece ter sido feito para isso: as cinzas, tão deletérias para outros fins, são importantes auxiliares na etapa de gaseificação em total contraste com o carvão chinês, que por ter baixo teor de cinzas precisa que areia seja adicionada no reator. O nosso carvão já vem com a umidade necessária ao processo! Até mesmo o enxofre, tão difamado, é recuperado na operação industrial com economia e pode ser transformado em fertilizante. A agregação de valor é tão grande que o custo da matéria prima na carboquímica é de 10 a 20 %, em alguns casos até menos! Compare isto com os valores da petroquímica tradicional, baseada em nafta ou gás natural, situados entre 75 e 90 %! Ambientalmente, além da eliminação da poluição pelo enxofre, temos também um grande abatimento da quantidade de CO2 emitido. Por tudo isso, da próxima vez que alguém dizer que o “carvão nacional é ruim”, deve-se perguntar de volta: “Ruim para que?”.

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