A Verdade sempre aparece
Dez anos atrás morria Leonel Brizola (21
de junho de 2004). Nascido em Carazinho - RS em 1922, sua presença na História
brasileira ao longo de mais de meio século é marcante. Aliados, adversários e
indiferentes concordariam com esta afirmação. Sua liderança, de carisma
inegável, foi inegável ao lado de gigantes como Ulysses Guimarães, Juscelino
Kubitschek e Teotônio Vilela.
A vida de Leonel foi marcada por amor ao
Brasil e aos brasileiros. Suas posições claras de mudanças na estrutura social
só lhe custaram problemas. Como todo político tinha seus focos, mas a mudança
para uma sociedade melhor sempre foi seu centro de atenções.
O detratores lhe chamavam de
“comunista”. Vivendo numa época de um conflito não declarado entre Ocidente e
Bloco Comunista, nada mais fácil para se destruir a carreira de um elemento
incomodador. Com o fim da guerra fria, aparentemente o discurso dos seus
detratores mudou: da acusação de “comuna” passou a ser o “dono de torneiras de
ouro”. Suas posições fortes e determinadas sempre foram a liderança esperada
pelo povo brasileiro que sempre lhe correspondeu fortemente nas urnas.
Em um debate na TV na campanha para
governador do Rio de Janeiro em 1982, perguntou ao candidato apoiado pelo governador
qual a sua opinião sobre determinado assunto. A resposta do seu oponente que
aquilo era um absurdo e sua clara posição contraria foi prontamente rebatida
por Leonel que apresentou documentos mostrando que o governador fazia
exatamente aquela política. No confronto entre o político macilento vindo do
corredor palaciano e a liderança nascida do embate e da dificuldade, vencia o
líder que particularmente naquela eleição, para desespero dos últimos estertores
da ditadura, foi eleito governador. Digno de nota que de tudo fizeram para
impedir que Leonel se elegesse incluindo fraude (caso Proconsult).
Até hoje foi o único a se eleger
governador em dois estados (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro). Seus aliados
políticos incluíram figuras de peso como Darci Ribeiro e mesmo a nível
internacional François Mitterrand.
Seu discurso de que é possível nos
transformarmos como sociedade continua tão vivo hoje como 50 anos atrás. As
mudanças no Brasil passam pela educação. Apenas com educação iremos mudar nossa
realidade tão sofrida e tão amesquinhada pelo egoísmo de poucos. Ao ganhar
educação, entender o panorama em que se encaixa e a realidade que o cerca, terá
o povo brasileiro mais e mais condições de fazer escolhas fora da indução da
propaganda enganosa. Mais que isso, como era o discurso central do próprio
Brizola, ao tirarmos as pessoas da ignorância, dando cultura e profissão, do
ignorante surge o doutor, do analfabeto surge o letrado, e com isso trocamos
mão de obra de baixo rendimento por outra altamente qualificada, esta sim capaz
de mudar a realidade sócio econômica do pais.
Não são necessárias estátuas nem
monumentos para Leonel Brizola. Tal como outros gigantes da História, seu
principal monumento é a sua carreira. Mas se alguém se queixar de que todo
homem público precisa de tais marcos, não precisamos apontar uma estátua, basta
apontar as escolas que ele construiu nos dois estados que governou. Não por
acaso escolheu Darci Ribeiro, um dos maiores educadores brasileiros, para ser
seu Vice-Governador em 1982. Vitimado por problemas cardíacos aos 82 anos,
Leonel hoje repousa ao lado dos homens que foram a sua inspiração ao longo da
vida. Foi enterrado em São Borja ao lado dos presidentes Getúlio Vargas e João
Goulart.