domingo, 3 de março de 2013

Folha do Sul - Lançamento da idéia do Polo




Uma questão de vocação - Folha do Sul / 9.7.2012

                                                          Uma questão de vocação

Hoje a nossa tão querida região do Pampa, em particular Bagé e municipios vizinhos, vive um momento de transição. Após toda uma epopéia, digna de filmes, durante a qual ocorreu a instalação de toda uma estrutura urbana (incluindo-se ai um comércio ativo, forte e vibrante), estamos hoje a enfrentar novos desafios de que rumos iremos tomar nesta nossa caminhada! Um destes grandes desafios é encontrarmos novas vocações econômicas. Mas que vocações seriam estas? Texto após texto, relatórios, oficiais ou não, sugerem, apontam, descrevem, argumentam o que chamam de “decadência local”. De fato muitas atividades “tradicionais” perderam a importância ou mesmo fecharam. Mas isto ocorre pelos mais diversos motivos, não necessariamente por causa de algum destino inevitável da região. Esta transição econômica não ocorre sómente no Pampa e quem percorre grandes capitais mundo afora pode verficar o mesmo fenômeno.
Toda essa mudança traz junto com ela aquele sentimento “coletivo” de que caimos em uma “armadilha histórica” da qual nunca sairemos, de uma crise sem saída. Estas visões apocalíticas sempre foram comuns em diferentes comunidades e em diferentes momentos. Faz-se necessário olhar esta situação com uma outra perspectiva e poderemos ver um cenário radicalmente diferente. Assim onde se pensa haver estagnação, é ai mesmo que temos possibilidades e oportunidades! A vibração com que a comunidade local toca projetos e empreendimentos demonstra isso. Além de uma ativa agro-pecuária, temos a area comercial, os empreendimentos imobiliarios e a area de serviços, para citar alguns dos pontos mais fortes desta nossa comunidade da fronteira.
Toda uma infra-estrutura foi construida em torno destas atividades: comunicações, transporte, educação, serviços médicos, etc. Hoje o grande salto para o futuro deverá ser feito tirando vantagens desta infra-estrutura, da mão de obra disponivel e das matérias primas locais. Em outras palavras, temos que nos direcionar e focar para as nossas vocações. Certamente seria contraprodutivo incentivar a instalação de industrias que utilizem insumos ou mão de obra não existentes localmente! As grandes oportunidades se transformarão em conquistas por aqueles empreendedores que souberem ver a imensa potencialidade, até aqui mal ou até mesmo não explorada, dos imensos recursos humanos e matérias primas locais. Exemplos disto não faltam: carvão, cerâmica, energia eólica, oleos vegetais, etc. A instalação destas indústrias na região trará a tão desejada dinamização e integração da economia e junto com elas um mercado mais amplo e mais profundo. Tal mercado reforçaria os setores já existentes (agro-pecuária, comércio, serviços, etc) criando as condições para um crescimento econômico sadio e auto-sustentavel. O setor público seria outro a lucrar com este crescimento.
Hoje todas as condições estão maduras para esta nova etapa da história da nossa região, um passo que será a ponte entre um passado glorioso e um futuro que já se delineia brilhante. Visão e ousadia, que sempre foram uma forte marca do Pampa, mais do que nunca serão os guias que nos norterarão nesta arrancada para o futuro.
Folha do Sul Gaucho - 9 de Julho de 2012

Carvão na Encruzilhada - O Globo - 31 Julho 2012

Carvão na encruzilhada

Poucas imagens são tão vinculadas ao trabalho degradante quanto a de homens, com rostos cobertos de fuligem negra, saindo de uma mina de carvão mineral. Poucos episódios simbolizam tão bem a poluição do ar quanto o grande nevoeiro letal, resultante de uma mistura de névoa natural com fumaça negra, que encobriu a cidade de Londres, em 1952. O fenômeno, que matou 12 mil londrinos, especialmente crianças e idosos, ficou conhecido como Big Smoke. Desde então, a fama de feio, sujo e malvado não se desgrudou mais do carvão - o combustível fóssil que mudou a face do mundo propiciando a Revolução Industrial.

Dois séculos se passaram e ainda hoje o carvão é a principal fonte geradora de energia elétrica do mundo. Países como Estados Unidos, Japão, China, Índia, África do Sul e Rússia são tão dependentes do carvão no século XXI, quanto era a Inglaterra, no século XIX. O Brasil é uma rara exceção. Aqui, o carvão tem um peso irrisório na matriz energética, apenas 1,5%. No mundo, ele responde por 41%. Motivo de tamanho poder? Preço baixo, oferta abundante e estoques longevos. As reservas de carvão somam hoje 860 bilhões de toneladas e são suficientes para 130 anos - pouco mais que o dobro da vida útil prevista para o petróleo, que pode se exaurir em cerca de seis décadas.
Essas características transformaram o carvão numa fonte de energia atraente do ponto de vista econômico, mesmo respondendo por 30% a 35% das emissões globais de gás carbônico (CO2), um dos principais responsáveis pela intensificação do efeito estufa. Seu uso é imenso e ascendente. A China queima 3 bilhões de toneladas de carvão por ano. A Alemanha, alarmada com o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, está construindo 11 usinas de carvão. E até o Brasil, que há 27 anos não fazia prospecção, entrou na corrida.
O estoque nacional de 7 bilhões de toneladas não passa de 1% das jazidas totais do planeta. Se consideradas as áreas não trabalhadas, ele pode superar em três vezes e meia as reservas de petróleo no Brasil. Não é à toa que o governo incluiu a indústria do carvão no programa Brasil Maior.
- Todos os países estão investindo em fontes amigáveis, mas nenhum deles banca o escoteiro. O Brasil vai esquecer essa energia debaixo da terra? - questiona Maria Luiza Sperb Indrusiak, coordenadora do Núcleo de Estudos Térmicos e Energéticos da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul.
O Serviço Geológico do Brasil já identificou indícios do mineral nas bacias do Parnaíba (no Maranhão e no Piauí) e do Solimões (no Amazonas), assim como no balneário do Rincão, em Santa Catarina. Só que o carvão está numa encruzilhada e o desafio é adotar tecnologias que permitam a produção de um carvão mais limpo. Mesmo usando pouco, o passivo ambiental deixado pelo carvão no país é alto. Em Santa Catarina, águas de rios e subterrâneas foram contaminadas até a década de 80, quando surgiram as primeiras restrições ambientais.
- Não precisamos cometer os mesmos erros do passado, os erros da ignorância - justifica o engenheiro Francisco Porto, gestor de Meio Ambiente da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), do sistema Eletrobras, que opera a usina Presidente Médici, no município de Candiota, no Rio Grande do Sul.
Mina a céu aberto
É justamente nos pampas gaúchos, onde o carvão aflora do chão, a menos de dois metros da superfície, que se encontra a maior mina a céu aberto do país. O município de Candiota produz 38% da produção nacional de carvão. A economia da cidade é baseada nessa indústria: 80% das suas receitas saem das minas. A mais nova revolução foi a construção da termoelétrica Candiota 3, inaugurada em janeiro de 2011. O investimento, uma das obras grandiosas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), correspondeu à soma do PIB municipal de Candiota de 1997 a 2005.
Na sede do sindicato dos trabalhadores, os diretores defendem o emprego e o carvão. Admitem que nunca foi feito um estudo sobre a saúde dos trabalhadores. A bióloga Paula Rohr, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em sua tese de doutorado, trouxe à luz uma preocupação. Foram coletados sangue e mucosa oral de 57 trabalhadores expostos ao carvão e de 71 não expostos. O resultado foi mais lesões do que o esperado e alterações cromossômicas nos que foram expostos ao carvão. O próprio organismo é capaz de promover reparos, mas cada indivíduo é único e, em alguns casos, isso pode não acontecer e dar origem a um câncer.
- O carvão é, por si só, danoso. Além do pó, na queima são geradas outras substâncias. Dezesseis delas são consideradas prioritárias em estudos do surgimento de câncer - afirma Juliana da Silva, especialista em Genética e Toxicologia Aplicada.
Os trabalhadores nas minas a céu aberto, como a de Candiota, têm direito a aposentadoria especial, com 25 anos de trabalho. Nas minas subterrâneas, são 15 anos. Edson Budó, diretor do Sindicato dos Mineiros, diz que dificilmente os trabalhadores conseguem obter o benefício:
- Temos de ir à Justiça sempre. Uns conseguem, outros não.
Um dos piores lugares para se trabalhar na mina é a região na qual o carvão começa a ser quebrado para ser transportado por esteira. Geralmente um buraco fundo, escuro e repleto de cinza, também chamado de toca da onça", na chegada na usina. Quando chove, a cinza vira lama. Protegidos por máscaras, cerca de 70 operários se revezam em três turnos na limpeza. Décadas atrás, era normal fazer o serviço sem qualquer proteção.
- É o começo do inferno - descreve Alexandre Trindade Silveira, 47 anos, único mineiro a ter identificada a pneumoconiose, doença provocada pela poeira do carvão. A mancha no pulmão foi descoberta nos exames anuais feitos pela mineradora CRM em todos os que trabalham diretamente com o carvão. Alexandre foi transferido para o viveiro de plantas, onde germinam sementes e mudas que irão recompor a vegetação das áreas mineradas.
- Desenvolvimento sustentável não é não fazer nada. É fazer com responsabilidade - afirma Paulo Monteiro, do grupo EBX, de Eike Batista, que tem prontas termoelétricas no Ceará e no Maranhão, onde vai utilizar carvão da Colômbia, no Porto do Açu, no Rio Janeiro; e licenças para usinas no Rio Grande do Sul, onde comprou a Seival.
Hoje, 26 projetos de sequestro e uso de gás carbônico estão em curso no mundo. Os prazos de maturação deles geralmente variam de cinco a 15 anos. Países investem na captura do gás carbônico para injetá-lo em galerias subterrâneas de mineração ou em poços de petróleo desativados.
- O uso dos combustíveis fósseis no mundo continuará crescendo. A solução é investir em tecnologia para tornar as usinas mais eficientes, usando menos carvão - comenta Fernando Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM).
No Rio Grande do Sul, tanques verticais de microalgas serão testados nas termoelétricas. O projeto é do professor de engenharia bioquímica Jorge Alberto Costa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele espera reproduzir na usina o que ocorre na natureza, onde a fotossíntese nas águas gera 70% do oxigênio do planeta.
- Em cinco anos, poderemos reduzir pela metade a emissões de CO2. A ideia é ter um carvão limpo - promete Costa.
TERRA ESTÉRIL
" ... Se as sólidas veias de carvão proporcionam vidas às cidades, as veias líquidas da terra, os rios, perderam por completo a vida; as mesmas cristalinas águas, que levam a moinha para os fornos de coque, logo a seguir, poluídas, contaminam as vargens, esterilizam as sementes, silenciam as atafonas, os moinhos e as fecularias; se as gigantescas escavadeiras revolvem o solo, para racionalizar a céu aberto a extração do minério com o mínimo de esforço e o máximo de rendimento, transformam de outro lado o paraíso verde num inferno de crateras entregues à erosão..." A visão crítica do padre Agenor Neves Marques transcrita no livro "Memória e Cultura do Carvão em Santa Catarina", organizado por Alcides Goularti Filho, detalha bem o que foi, no passado, a exploração do minério no Brasil.
Ainda hoje, as regiões carboníferas pagam preço alto pelo desdém com a natureza. Em 1990, cerca de 6 mil hectares no Sul de Santa Catarina foram consideradas área crítica nacional. As terras, antes férteis, receberam cerca de 200 milhões de toneladas de rejeitos. Estima-se que dois terços da bacia hidrográfica da região tenham sido atingidos por poluentes. Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que o Rio Criciúma continua ainda hoje como o mais poluído do país. Graças a uma ação do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça obrigou as empresas a recuperar 1.650 hectares no estado.
No Rio Grande do Sul, a chuva ácida causada pela mineração chegou a motivar protestos de agricultores do Uruguai. Com o uso de filtros, as reclamações cessaram, mas a procuradora Paula Schirmer, do Ministério Público Federal em Bagé, afirma que resta um grande vácuo no controle e monitoramento das emissões na região de Candiota. Na usina de Candiota, a Dragline, máquina gigante, de 1.620 toneladas e 40 metros de altura, retira do solo 800 metros cúbicos por hora de material estéril para revelar, por baixo dele, o carvão. A diferença em relação ao passado é que a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) implantou um grande programa de recuperação das áreas degradadas, para repor a camada fértil do solo e, ao mesmo tempo, isolar a pirita, para que ela não atinja as águas, tornando-as ácidas.
MOBILIDADE ENERGÉTICA
Polo carboquímico pode gerar negócios de até US$ 3 bilhões
Tudo o que se produz com petróleo, se faz com carvão. Até plástico. É com essa ideia que um professor nascido no Rio de Janeiro, que já viveu nos Estados Unidos e em Israel, pode mudar o rumo das discussões sobre o mineral no Brasil. Há menos de dois anos morando em Bagé, onde leciona na Universidade Federal do Pampa, Sérgio Meth é um eloquente defensor do desenvolvimento do setor carboquímico no país, colocando em segundo plano a discussão do uso do carvão para energia elétrica.
- Usar o carvão de Candiota para produzir energia é um desperdício. Com pelo menos 52% de cinzas e 20% de água, ele é ideal para a carboquímica. Pode ser transformado em metanol, insumo do qual o Brasil é grande importador. Podemos fazer produtos com muito mais valor agregado e menor emissão de gás carbônico. A redução seria de um terço - diz o especialista.
Para ele, um polo carboquímico em Candiota causaria, no Rio Grande do Sul, o mesmo impacto que o Polo Petroquímico de Camaçari teve, no passado, na Bahia. O primeiro passo seria transformar o carvão em gás de síntese, dando origem ao metanol. A partir daí, é possível listar uma série de derivados, de amônia a polipropileno, de resinas a ureia. O enxofre, assinala, deve ser direcionado à indústria de fertilizantes.
- O carvão pode gerar uma cadeia de negócios entre US$ 2 bilhões e U$ 3 bilhões - acrescenta Meth.
Ele afirma que produzir energia elétrica a carvão na região do Pampa não é inviável, mas a competição será dura com a energia eólica. Afinal, o vento minuano, de origem polar, atinge justamente os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, estados da região carbonífera.
Meth foi ouvido em Brasília pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, que coordena o Roadmap Tecnológico para Produção Limpa e Eficiente e Uso Limpo e Eficiente do Carvão Mineral Nacional - de 2022 e 2035, encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O estudo está sendo finalizado. Para o engenheiro Elyas Medeiros, coordenador do Roadmap, o desenvolvimento da indústria carboquímica viabilizará a extração do mineral no Brasil.
- A pior coisa que o Brasil pode fazer é queimar o carvão. Ele tem subprodutos essenciais para uso tecnologias modernas - afirma Medeiros. Segundo o engenheiro, um dos produtos inovadores que podem ser feitos pela indústria carboquímica é o semicondutor orgânico. Trata-se de um plástico que conduz eletricidade e pode cobrir um prédio inteiro. Para o futuro, o semicondutor significa nada menos do que garantia de mobilidade energética.

Cleide Carvalho 
 
Fonte: O Globo - Julho 2012 - página central

Polo Carboquímico em Brasilia





 Projeto do Polo Carboquímico de Candiota é apresentado no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação



CANDIOTA - Projeto do Polo Carboquímico de Candiota é apresentado no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação O empreendimento pretende garantir a instalação de empresas produtoras de metanol, eteno, polietileno, propeno, polipropileno, amônia, ureia, entre outros, com base na utilização do carvão mineral. O ministro, ao ser informado da iniciativa, garantiu apoio à iniciativa ao colocar o Ministério à disposição para quaisquer encaminhamentos que sejam necessários, conforme o andamento do projeto. Segundo Folador, a medida é um novo viés no fortalecimento das políticas de utilização do mineral, existente em grandes quantidades em Candiota e no Rio Grande do Sul, assim como em Santa Catarina. A proposta é constituída no mesmo nível de escala dos polos petroquímicos ou mesmo maiores. "É um projeto que irá trazer benefícios socioeconômicos para toda a região", comentou o prefeito. O tema, inclusive, já motivou o início de estudos por parte de empresas multinacionais interessadas em investir no projeto. O projeto inicial, de autoria do professor adjunto do curso de Engenharia Química, Ph.D. da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Sérgio Meth, já traça alguns pontos do empreendimento. De acordo com a avaliação, todas as condições para a concretização da iniciativa são atendidas, tendo em vista que a tecnologia já é disponível, bem como a grande produção da matéria prima: o carvão, mão de obra existente, mercado, entre outros.

Felipe Valduga Coordenadoria de Comunicação

 05/11/2012 Fonte: Prefeitura Municipal de Candiota