segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Condições Sanitárias / Folha do Sul - 28.Out.2013



Condições Sanitárias

Até época relativamente recente era fato normal não existir sistema de esgotos nas cidades. As famosas cidades tais como Atenas, Roma, Cartago, etc, não possuíam um sistema de esgoto elaborado. No máximo um sistema de distribuição de água como na Roma Antiga. O sistema de aquedutos romanos é de fama imorredoura. Mas não havia um sistema de distribuição como o nosso. A água jorrava em fontes onde era apanhada pelos usuários. Também não existia um sistema de tratamento de água e muitas vezes o esgoto era jogado no meio da rua. Se lançava o esgoto da janela sem nenhuma consideração com os passantes. Isto era particularmente comum em Lisboa na época dos descobrimentos. Mais normal ainda e ninguém ligava muito para isso era o esgoto correr rua abaixo até encontrar um córrego ou rio.
Sem condições sanitárias adequadas, era de se esperar o alastramento rápido de epidemias, cada uma mais mortal que a anterior. O número enorme de ratos, camundongos e ratazanas em decorrência de toda esta situação era exorbitante. A falta de estatísticas é um problema mas a chamada Peste Negra no fim da Idade Média matou com certeza entre 1/3 e metade da população europeia. Nem todas eram transmitidas pela água, mas com certeza a falta de água e esgoto amplificava tremendamente a disseminação das doenças, quaisquer doenças contagiosas.
Atualmente com vacinas, remédios, tratamentos médicos, etc, tendemos a esquecer como era a situação no passado. A hoje erradicada varíola matou tanta gente ao longo da história que muitos acontecimentos poderiam ter sido diferentes. Aparentemente foi uma epidemia desta doença que ajudou a precipitar a queda do Império Romano. Os europeus, ao chegarem ao Novo Mundo no inicio do Século XVI, trouxeram com eles os germens para os quais já tinham imunidade. A varíola matou cerca de 90% da população indígena nos Impérios Inca e Asteca. Imagine se de repente ficasse apenas 10% das pessoas que você conhece vivas. Não existe civilização que possa suportar este golpe. Afora isto temos gripe, malaria, febre amarela, sarampo, etc. Como foi dito antes, nem todas transmitidas diretamente pela falta de água ou esgoto, mas muito amplificadas pela falta dos mesmos. A malaria, a febre amarela e outras são transmitidas por mosquitos e para estes mosquitos se reproduzirem é necessária a presença de água parada. Nada melhor que poças de esgoto para tal.
Nos últimos anos muito foi feito no Brasil afora para melhorar as nossas condições sanitárias. Mas mesmo assim cerca de 30% dos domicílios não tem ainda esgoto e cerca de 15% não tem água encanada. Isto significa que a grosso modo pelo menos 15% da população tem uma fossa sanitária (onde o esgoto doméstico é jogado em um buraco na terra) e um poço para abastecimento da casa. E este poço é sempre próximo da fossa. Temos assim uma bomba relógio que precisamos desativar.
Não é necessário lembrar que este problema afeta a todos, ricos e pobres, "camisados" e descamisados. A doença não escolhe o candidato, ela é aleatória. Basta dar uma olhada na periferia das cidades brasileiras para ver que esta é uma situação urgente. Muito pior no norte-nordeste, mas com muita coisa ainda a ser feita no resto do pais, incluindo o nosso Sul. Apesar de ser um investimento que pode ser considerado alto, temos que nos lembrar que a lógica fria dos números demonstram que o dinheiro gasto em melhoria sanitária se reflete em menos gente indo parar em hospitais públicos, ou seja menos gastos com médicos e remédios. Mas se quisermos sair da frieza dos números, podemos nos lembrar que a maioria das vítimas de diarreias e disenterias são sempre crianças, e é nas crianças que reside o futuro de qualquer nação. O investimento-gasto de hoje significa a preservação do amanhã.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Final do Curso do Projeto de Extensão UNIPAMPA Presente

Final do Curso do Projeto de Extensão UNIPAMPA presente de apoio aos funcionarios(as) terceirizados(as). Para aqueles que decidiram fazer o ENEM: BOA SORTE (foto tirada hoje 25/10 ao meio dia)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Evolução / Folha do Sul - 21.Outubro.2013


Evolução

A sociedade brasileira tem passado por transformações extraordinárias. Uma delas tem sido o nosso perfil demográfico. Com o advento de métodos anticoncepcionais e com o novo papel da mulher, as famílias começaram a ter menos filhos, muito menos filhos! Onde antes eram comuns Brasil afora dez ou mais filhos em um mesmo casal, hoje temos no máximo dois. Com esta mudança no perfil das famílias começamos a ter um envelhecimento da população. Ainda não estamos na situação da Ucrânia, onde existem lugares que começam a ficar com um mínimo de população. Os Estados Unidos e a Europa Ocidental conseguem compensar esta mudança no perfil populacional com imigração, legal ou não. Provavelmente iremos ficar em alguma posição intermediaria, o que não deixa de ter aspectos tremendamente positivos, pois assim como a Ucrânia chega a pagar uma ajuda para que as famílias tenham filhos, os Estados Unidos e a Europa Ocidental sofrem com os problemas do excesso de imigrantes.
Com este envelhecimento da pirâmide, as empresas estão tendo que se adaptar. Onde antes era possível contratar um jovem de vinte e poucos anos, hoje temos pessoas na faixa dos 50 e até 60. Melhor, aparentemente se está descobrindo que pessoas com vivência e experiência podem ser um ativo tremendamente valioso.
Esta mudança, que prefiro chamar de evolução, vem ocorrendo pouco a pouco sem que tomemos consciência dela. Chamo evolução exatamente por ela estar ocorrendo lenta mas inexoravelmente.
Antigamente era comum escutarmos que ao completarmos 40 anos, era impossível encontrar um emprego. Não era incomum encontrar pessoas com excelente qualificação nas mais diversas areas que não conseguiam encontrar por meses ou até anos uma posição. Ninguém iria dizer abertamente, mas a verdade é que a política das empresas era de contratar apenas jovens e somente pessoas de mais idade para cargos específicos. O grande paradoxo e mudança paralela a própria necessidade de mão de obra é que as empresas estão descobrindo o imenso potencial de mão de obra não utilizada que no caso são as pessoas com mais de 40 anos de idade.
Esta evolução-mudança é tremendamente salutar para todos nós. Não precisamos mais ficar com o medo de que com o tempo seremos simplesmente jogados de lado pela sociedade. As empresas ganham de toda a maneira com esta mudança de filosofia. A sociedade passa a aproveitar uma criação de riqueza que não iria ocorrer. E o governo? Bem, o governo ganha mais impostos, não é mesmo?
Muitos mitos estão sendo postos de lado. Um empregado de meia idade é além de experiente, tem menos tendência a mudar de emprego sendo mais estável no trabalho. Uma melhor estabilidade emocional, indispensável em qualquer trabalho, é mais comum em pessoas maduras que em jovens, e com isso empregados de mais idade tendem a se meter em menos problemas e a trazer mais soluções. E assim por diante poderíamos enumerar diversas imagens que existiam e que estão caindo tal como aquelas estórias antigas de que “a morte é certa se comermos manga e leite juntos”.
Estas mudanças são importantes também na medida que temos uma crise cada vez pior no sistema de seguridade social. Outros países já aprenderam há muito tempo atrás a força e o valor das pessoas não só de meia idade como até mesmo dos idosos. Nossa maturidade como sociedade terá de passar necessariamente por este processo. Um novo Brasil, diferente e maduro surge das cinzas do anterior.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Nova Pátria - Folha do Sul / 14.Outubro.2013



Nova Pátria

O Professor Fritz Feigl (1891-1971) é um nome conhecido e de certa forma uma lenda na área da química brasileira. Nascido na Áustria, lutou na Primeira Guerra Mundial chegando até a patente de capitão. Já era cientista conhecido mundialmente quando os nazistas tomaram a Áustria. Por ser judeu foi demitido da Universidade e buscou refugio com a família na Bélgica. Com o avanço nazista na Europa, foi preso e chegou a ir para um campo de concentração. Graças ao embaixador brasileiro em Paris (Luiz de Souza Dantas), conseguiu refugio para si e para a família no Brasil onde chegaram em novembro de 1940. Tendo arranjado emprego no Laboratório de Produção Mineral do Ministério da Agricultura, o Professor Feigl pode, junto com a família, passar longe do pesadelo da guerra. Suas colaborações científicas foram de tal monta que por décadas o Brasil foi referência na área de química analítica. Muitos dos ensaios que ele inventou (análise de toque ou spot test em inglês) são até hoje usados e ensinados nos cursos de química mundo afora. O Professor Feigl se naturalizou brasileiro com a familia e após a guerra recebeu inúmeros convites para ir morar em outros países. Oportunidades e honrarias não lhe faltavam, mas ele aqui preferiu ficar até seu falecimento. Seu nome é uma referência no meio profissional brasileiro (química) e seu amor e carinho pelo Brasil são sempre lembrados.
Países como o nosso, com tradição de receber o elemento estrangeiro, com hospitalidade, tem muito a lucrar com isto. Os Estados Unidos, na maior parte de sua história, sempre também tiveram esta atitude. Poderíamos lembrar vários outros: Austrália, Canada, etc. O imigrante, muitas vezes vindo de um meio hostil, ao ser recebido bem na nova terra, faz dela sua nova pátria e a defende as vezes com mais energia do que os nativos. O Professor Feigl é apenas uma estória entre tantas, lembrado pela importância, mas certamente muitas famílias vieram para cá, na maior parte das vezes nas mais precárias condições e com muita luta e esforço aqui se radicaram e se tornaram parte da comunidade. Aqui no Rio Grande do Sul temos todo este cadinho, europeus, africanos, árabes, judeus, enfim todo tipo de etnia está presente aqui. Não preciso lembrar a pujante e esforçada comunidade palestina de Bagé, forte e presente na área comercial.
Os Estados Unidos hoje levantaram uma serie de barreiras para a imigração. Isto tem levado a uma serie de problemas como tráfico de gente, separação de famílias, etc. Esta política tem sido um tiro no pé por trazer uma serie de problemas que não servem para nada. Um imigrante sem papéis nos EUA é praticamente um cidadão de segunda classe sem as oportunidades que são oferecidas para os demais tendo que se submeter muitas vezes a trabalhos extenuantes por uma remuneração mínima. A espada de Damocles da deportação está sempre presente. Diga-se a verdade que o atual governo do Sr. Obama tem tentado passar legislação para atenuar estes problemas mas existe muita resistência no Congresso e com isso os problemas continuam.
Aqui no Brasil, tem havido noticias de exploração de mão de obra oriunda principalmente da Bolívia e da África. As pessoas, muitas vezes famílias inteiras, vem para cá na esperança de conseguir uma vida melhor, mais segura e com mais oportunidade para si e para seus filhos. Até onde se pode acompanhar o noticiário, o problema se concentra principalmente em São Paulo. Neste ponto a policia e o Ministério do Trabalho tem tentado fazer seu papel. Mais do que nunca precisamos impedir que pessoas sejam no nosso pais transformados em cidadãos de segunda classe. O empresario que quer aumentar seu lucro deve buscar novas técnicas, novas máquinas, enfim novos investimentos ao invés de fazer uso explorativo ao extremo da miséria alheia. Se alguém quer vir para aqui trabalhar e pagar seus impostos, nada deve existir contra estas pessoas. Caso se prove, após o tempo que a lei estipula, que este cidadão é pessoa de bem, o interesse de ele se tornar brasileiro é reciproco. Diga-se de passagem que muitos preferem voltar para sua pátria de origem, mais por quererem voltar para família e amigos que outra coisa. O grande lucro é nosso com a riqueza gerada, e também com a exposição a novas culturas e aos impostos que aqui são deixados.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Texto reproduzido da Revista Química e Derivados Edição nº 495 - Março de 2010

Texto reproduzido da Revista Química e Derivados
Edição nº 495 - Março de 2010


<Na época, eu trabalhava no Instituto Loker em Los Angeles com o Professor Olah (Prêmio Nobel 1994) e com o Professor Prakash e em parte da reportagem eu dou minha opinião sobre as possibilidades do metanol para o Brasil - grifo meu>


Pesquisas indicam caminhos para
fazer metanol com CO
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Fernando Cibelli de Castro

A proposta denominada “economia do metanol” pretende incentivar a obtenção desse insumo químico de fontes renováveis e movimenta, atualmente, aproximadamente quarenta milhões de toneladas cúbicas por ano, sendo dois milhões provenientes de duas unidades produtivas. Os números sobre esta nova fronteira da ciência e da tecnologia estão descritos em Beyond Oil and Gas: The Methanol Economy, livro editado nos Estados Unidos, ainda sem tradução para o português, mas de fácil aquisição pela internet. A obra é assinada por George Olah, Prêmio Nobel de Química de 1994, em coautoria com os pesquisadores Surya Prakash e Alain Goeppert.

Os três estudiosos pesquisam a obtenção do álcool metílico via dióxido de carbono nos laboratórios do Loker Hydrocarbon Research Institute, da University of Southern California. Olah dirige o instituto, Prakash atua como vice-diretor e Alain trabalha como um importante colaborador. A palavra-chave para Olah é o termo “carreador”, pois, para ele, no mundo não há falta de energia. O problema é fazer com que essa energia, seja qual for – solar, eólica, hidroelétrica –, chegue aos centros consumidores no momento em que se faça necessária. Essas fontes alternativas estão cada vez mais competitivas. Em alguns casos, como a energia eólica, já empatam em custos até mesmo com a fonte tradicional mais barata, o carvão.

Em outras palavras, a tecnologia de produção energética não é mais problema, mas conservá-la e distribuí-la ainda são dificuldades a superar. Para Olah, a obtenção do metanol obtido com a redução do dióxido de carbono poderia ser direta, por meio de eletrólise, ou por reação a hidrogênio, mas este é mais difícil de armazenar, distribuir e transportar como combustível. O metanol líquido, à temperatura ambiente, apresenta condições bem menos complexas em termos de acondicionamento e de distribuição. Ele não chega a condenar o hidrogênio como fonte alternativa de energia. Apenas o entende mais útil para produzir metanol em reação com o dióxido de carbono, funcionando como um carreador.

Olah afirma que a utilização do álcool metílico proveniente da reação com dióxido de carbono é uma excelente alternativa para produzir combustível de maneira racional e barata. Com isso, não haveria necessidade de adaptar a rede de distribuição de combustíveis, visto que o metanol líquido pode ser acondicionado em tanques convencionais, à temperatura e pressão ambiente, sem necessidade de modificações importantes. Por sua vez, o hidrogênio exige a instalação de um reservatório especial e a observação de rotinas de segurança mais rigorosas. O cientista acrescenta que o metanol pode ser misturado à gasolina numa situação menos problemática que a mistura com etanol e também pode substituir o óleo diesel na forma de éter dimetílico, ou DME.

Surya Prakash comenta que o país mais avançado na produção industrial do metanol via dióxido de carbono é a Islândia. O pequeno país nórdico, com 300 mil habitantes, controla fontes de energia geotérmica de baixo custo. Há ainda a disponibilidade de gás carbônico, pois o mesmo é obtido como subproduto da indústria de alumínio, por usar eletrodos de carbono. A Islândia mantém diversas usinas de beneficiamento de alumínio. Uma planta piloto já está instalada e pronta para a etapa de testes para a fabricação de álcool metílico utilizando o CO2 retirado da fabricação do alumínio. Segundo Prakash, é importante entender a proposta da economia do metanol como um método de produção do combustível obtido de fontes renováveis.

Atualmente, a maior parte do metanol vem da rota petrolífera ou mesmo do carvão, baseado na reação de carbono com hidrogênio e água, para formar um gás de síntese, ou seja, uma mistura de monóxido de carbono com hidrogênio. Com base neste gás de síntese, após ajuste da proporção de carbono com H2, o metanol surge da reação sob pressão e com um catalisador apropriado. Por exemplo, a equação a seguir descreve o metano como matéria-prima:


A sobra de hidrogênio pode ser aproveitada na síntese de amônia, ou em reações de hidrogenação, ou em outros ramos da indústria petrolífera ou petroquímica. É o caso da China, onde a forte presença do carvão na matriz poderá gerar mais de 30 milhões de t/ano de metanol em 2010, um acréscimo de 10 milhões de t na comparação com 2008, quando ocorreu a última aferição sobre a conversão de gases provenientes das minas em álcool metílico.

O professor Prakash já esteve diversas vezes no Brasil realizando palestras dirigidas ao meio empresarial e técnico sobre as vantagens da tecnologia do metanol proveniente da captura do CO2. Manteve contato até mesmo com pesquisadores ligados aos centros de pesquisa da Petrobras, porém a opção pelos investimentos na extração de óleo bruto da camada de pré-sal provavelmente tenha relegado a economia do metanol a um segundo plano.

A obtenção do metanol pela rota de captura e redução do CO2 é também descrita com entusiasmo pelo cientista brasileiro-israelense Sérgio Meth, formado em engenharia química pela Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. De acordo com Meth, o metanol poderia também ser obtido de algumas fontes interessantes, tais como a reforma a seco do metano, utilizando o gás carbônico sem adicionar água para formar gás de síntese – CH4 + CO2 --> 2 CO + 2 H2 – em que a proporção correta da mistura pode ser ajustada através da reação reversa água-gás – reverse water gas shift com o CO2. “É uma forma interessante de se fazer combustível e ao mesmo tempo retirar da atmosfera os dois principais gases causadores do efeito estufa”, reforça Meth. Além disso, o metanol pode servir como matéria-prima petroquímica para a obtenção do eteno e do propeno, como já se faz nos EUA.

No Brasil a produção de metanol pela rota tradicional está restrita a duas empresas, a Metanor e a Prosint, ambas do grupo Peixoto de Castro, sendo que a Petrobras tem alguma participação na Metanor. As duas unidades podem processar aproximadamente 300 mil t/ano do produto, pouco mais de um terço do consumo interno. A diferença é importada, principalmente do Chile.

O processo de obtenção convencional do metanol começa com o gás natural, no chamado syn-gas process, sendo utilizado como produtos intermediários, notadamente, formaldeídos e éter metil tert-butilico (MTBE). Atualmente, 7% do metanol proveniente de plataformas é convertido em combustível.

O álcool metílico entrou recentemente num novo nicho de mercado com a expansão das usinas de biodiesel brasileiras, pois é insumo fundamental no processo de transesterificação, no qual reage com óleos vegetais ou gorduras animais na presença de um catalisador, normalmente a soda cáustica. O etanol, neste processo, é ineficiente e caro.

Meth afirma que existe um consenso no meio político e empresarial nos Estados Unidos de que a energia proveniente do petróleo tem futuro limitado e que outras fontes deverão ser exploradas. Um indício dessa tendência é que a principal potência econômica do planeta ergueu sua última refinaria de petróleo há trinta anos e por enquanto não existe qualquer projeto de construir novas unidades. Para Meth, o petróleo envolve projetos grandiosos, mas é decadente em termos de sustentabilidade. Serve às economias de países periféricos, como a Nigéria e a Líbia.

Quanto ao etanol, Meth explica que os norte-americanos produzem tanto álcool etílico quanto o Brasil, porém não têm mais como aumentar o volume do combustível sem diminuir a oferta de cereais para a cadeia alimentar. “O que salva o etanol norte-americano é o lobby dos produtores entre os políticos que aqui também é muito forte”, reconhece Meth.

Descobertas científicas – Integrante contratado da seleta equipe de George Olah, Sérgio Meth é também um aficionado em desvendar novas possibilidades de catálise. Por conta dessa vocação, em 2005, desembarcou em Los Angeles, com um diploma de doutorado em química pela Universidade Bar Ilan, de Tel Aviv. 

Dentre as atividades desenvolvidas por Meth, constam os sistemas de catálise para a absorção industrial de gás carbônico, utilizando nanotecnologia. Este trabalho gerou patentes e entrou em fase de industrialização por meio de contrato com uma empresa de engenharia norte-americana.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Entendendo a falácia da falta de engenheiros no mercado - by Luciano Netto de Lima

Entendendo a falácia da falta de engenheiros no mercado


O mercado aquecido sente falta de profissionais

As principais revistas e jornais vem anunciando incessantemente a falta de engenheiros no Brasil. Porém, para os engenheiros, desde os recém-formados aos que tem 25 anos de experiência, é um consenso que esta informação não confere no cenário nacional. Diante desta situação fica a dúvida: Que escassez é essa?
Este assunto dá margem a uma série de textos, porém vou focar no aspecto mais imediato deste desencontro entre empresas, recrutadores, profissionais e jornalistas. Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar as tão famigeradas vagas disponíveis para engenheiros e começar a entender a situação.
Primeiro, é preciso que as empresas entendam que um engenheiro mecânico possui a denominação profissional de engenheiro mecânico, e isso somente. Não existe qualquer referência no CREA a engenheiro mecânico com experiência em calibração de instrumentos de precisão expostos a ambiente corrosivo. Portanto, um engenheiro mecânico que trabalhou por 10 anos em calibração de instrumentos de precisão em ambientes explosivos tem total capacidade de atuar na área de ambientes corrosivos também. De forma mais direta, qualquer engenheiro mecânico será capaz de trabalhar nesta área, após o devido treinamento. É por isso que ele estudou por 5 anos, e por este mesmo motivo o preço pela sua hora de trabalho tem o valor que o CREA estipulou. Se a empresa treinou, ganhou um profissional capaz.

Pelo CREA, o piso salarial de um engenheiro é de 8 salários mínimos. Nos valores atuais( meados de 2013) equivale a R$ 5.414,00. As empresas insistem em recusar esta realidade a ponto de configurarem, a grosso modo, quase um cartel salarial. Se ninguém paga o valor pedido, ninguém vai poder exigir barganhando que outra ofereceu. Agrava-se o fato de que pouquíssimas das vagas de recém-formados abrangem este salário. Por outro lado, é ponto comum nos requisitos para vagas de engenheiros a tríade experiência anterior, inglês fluente e experiência em liderança. Sem muito esforço, é natural perceber que citar recém-formado na mesma frase que experiência anterior é no mínimo, mal gosto. Portanto, o mercado está superaquecido para profissionais com experiência, correto? Infelizmente não. Porque se é para preencher uma vaga, a preferência vai para quem tem experiência exatamente naquela área específica. Se este profissional não é encontrado, outro profissional com 15 anos de experiência em uma área ligeiramente distinta também não é uma boa escolha, pois está “velho demais para aprender truque novo”. Mas caso haja a continuidade do desejo de preencher esta vaga com este profissional experiente, a vaga continuará fazendo jus à sua definição de lugar livre, quando durante a entrevista, o engenheiro com 15 anos de experiência, inglês fluente, espírito de liderança, capacidade de lidar em equipe, domínio do pacote Office, Autocad, programação em Visual Basic e residindo próximo ao local de trabalho, se recusar a trabalhar quando souber o valor do salário.

Aprendendo para fazer

Existe um ponto no qual as empresas brasileiras( ou aqui situadas) insistem em contrariar os teóricos da administração mais moderna: o investimento no capital humano. Dentro das metas de corte de custos, naturalmente se poda qualquer pensamento de investimento em capacitação. Assim, é um cenário quase utópico imaginar uma empresa investindo por 1 ou 2 anos em treinamento para capacitar um profissional. Mas porque utópico? Porque nossas empresas, diante da necessidade de um profissional, consideraram mais econômico contratar o profissional da empresa em frente em vez de investir na formação do novo engenheiro. Mas como é costume se adotar a solução mais conveniente, a empresa que teve o seu profissional abduzido, aprendeu também esta manobra. Assim, como segue a escalada natural da oferta x demanda, os salários deste profissional irão aumentar até o ponto em que ninguém mais estará disposto a arcar com aquele valor. Então o que acontecerá? Passarão a contratar os recém-formados e investir em seus treinamentos? Não. Se não há engenheiro com experiência no mercado e a empresa não tem uma política pré-existente de capacitação – pela simples falta de necessidade anterior- ela irá dizer que faltam profissionais, divulgar isso nas revistas e dizer que precisam de profissionais e estes estão lá de fora. Alegando que falta mão de obra no Brasil. Mas não, não falta mão de obra aqui. Falta mão de obra treinada, lê-se, que não necessita de investimento. E esta sim, lá fora tem mais do que aqui, afinal, a Europa está em crise.

Ao conversar com uma amiga, recrutadora da área de Oléo e Gás, conversamos sobre os “altos” salários dos engenheiros e em seguida ela comentou que o principal problema é a qualificação. Ela citou o exemplo da vaga de analista de compras, que é muito difícil encontrar um engenheiro com experiência na área e inglês fluente. Particularmente, não cai bem a presença e a co-relação entre os termos fluência em inglês, experiência anterior e analista quando a vaga se destina a engenheiros. A não ser que este analista receba mais que um engenheiro júnior, o que nunca é o caso. Após sua citação, a perguntei porque eles não contratam um administrador para fazer a parte de compras. Ela me respondeu que é necessário alguém com formação técnica para esta vaga. Então esclareci para ela que “o cidadão passa 5 ou 6 anos numa faculdade de engenharia, lida com os tipos mais absurdos de professores, aprende todo o desenvolvimento da tecnologia humana até os dias atuais em sua área de atuação. Existe o CREA, existe um piso, e ESTE É O PREÇO DA FORMAÇÃO TÉCNICA.” O engenheiro é formado para aprender, desenvolver e aplicar os conhecimentos em sua área. Possui domínio das ciências bem como de suas atribuições, além da facilidade nata com números e por fim obrigatoriamente possui nível básico de inglês, porque as próprias disciplinas o exigem. Olhe bem para este profissional, agora adicione 2 anos de experiência em compras técnicas e por fim adicione mais um curso de 4 anos de inglês para ficar fluente. Qual a parte da dificuldade destes profissionais se candidatarem a uma vaga que exige o necessário para ser CEO pelo salário de um caixa de banco* não ficou clara?

O nascimento do Trainee

Não é segredo para ninguém que o nosso país passou por um período de instabilidade econômica pouco tempo atrás. Mesmo os que não eram nascidos nas época, lembram dos mais velhos contando sobre ir comprar tudo de manhã porque a tarde os preços já subiam. Como a saúde financeira e o investimento em infra-estrutura e tecnologia andam lado a lado, durante o crescimento da inflação a engenharia nacional começou a sofrer sua queda, chegando ao ápice durante a abertura do nosso mercado e a natural competição com os países estrangeiros. Assim nossa engenharia tomou um golpe violento enquanto nossos ilustres políticos não se emocionaram com a situação. Nesta época, os engenheiros se tornaram taxistas, passaram a vender suco e etc… Houve um desemprego em massa dos engenheiros, os mais bem-sucedidos foram os que conseguiram fazer seus nomes no mercado financeiro. Diante dessa realidade, a quantidade de alunos nos cursos de engenharia despencou e ninguém mais olhava nossa profissão como boa opção. Os alunos da época que não abandonaram seus cursos, optaram pela vida acadêmica como a única salvação. Os engenheiros civis foram os que menos sofreram com isso, por conta deste ramo não necessitar tanto de tecnologias e assim, não ter sofrido a competição externa. Mas sofreram o impacto pela freada econômica geral da nossa pátria também.

Mas o que isso tem a ver com os dias atuais? Tudo, porque hoje praticamente não existe engenheiro no mercado com 15 a 20 anos de experiência. Diante disso, as empresas se viram diante de um problema enorme. O que fazer agora?

Algumas passaram a tirar os aposentados da companhia dos netos com ofertas pomposas para voltarem ao trabalho, mas isso não salvou todas as empresas. Então as empresas veem uma luz no fim do túnel. Elas passam a pegar o recém-formado, investem um ano em cursos e treinamentos e outro ano em “job rotation”, os fazendo circular pelas diversas áreas da empresa. Assim, após 2 anos, as empresas agraciam estes jovens com os cargos destinados aos gerentes com 15 anos de experiência, inclusive com o salário da função de chefia. Vale ressaltar que nestes 2 anos, estes jovens não recebem o piso de engenheiro, pois estão recebendo parte deste salário em treinamento e conhecimento. Bom para as empresas e bom para os recém-formados!

No entanto, pela brasileiríssima Lei de Gérson, algumas empresas menos sérias começaram a adotar o modelo de Trainee, porém, usaram a máxima do “se aprende fazendo” e assim, consideraram desnecessários os treinamentos e colocaram o Trainee para exercer as funções de engenheiro, mas com salário de quem está aprendendo, é claro. Assim, criou-se a falácia que o engenheiro com “cheirinho de novo” é um peso morto nos primeiros anos, não gera lucro e assim, não merece o salário estipulado pelo CREA. Esse modelo de escrav… digo… de Trainee, também passou a ser bastante conhecido no mercado pelo nome de Analista. Uma ótima forma de contratar engenheiro sem pagar o salário necessário para desfrutar da capacidade desse profissional. Outra situação comum é a exigência de inúmeras qualificações, idiomas e experiência para no cotidiano do trabalho executar atividades simples e que qualquer aluno de ensino médio seria capaz de fazer.


O que vem acontecendo

Então, um engenheiro diante disso, deveria recusar tal oferta de emprego e só aceitar cargo como engenheiro, correto? Corretíssimo… se todos os formandos em engenharia fossem solteiros, bons herdeiros e de classe média alta. Porém como essa não é a realidade, alguns se submeteram a tal situação. Estes seriam poucos e logo tudo estaria resolvido, porque isso seria em pontos isolados, correto? Novamente correto, se não fossem as revistas e jornais fazendo uma enxurrada de notícias dizendo que faltam engenheiros no país. “Engenharia é mão de obra escassa! Daremos salários de juizes para engenheiros! Engenheiro vai poder comprar sua própria ilha no Caribe!” Diante de tal situação, os cursos de engenharia lotaram, muito mais engenheiros se formaram. Mas agora caíram sem freio diante de um mercado onde a maioria das vagas são para aprender fazendo, ou seja, para Analistas ou Trainees de mentirinha. E se você é um cidadão engajado pela valorização profissional e não aceitará estas vagas, parabéns pela garra, porque tem mil se acotovelando pela vaga que você recusa.

E diante disso tudo o mercado continua: “Faltam engenheiros…”, o governo facilita a importação de profissionais, as revistas fazem matérias “comprovando” este fato, os que insistem em ficar na área em que se formaram recebem miséria enquanto se amontoam em volta de editais de concursos, e lá fora… o Brasil é o país da engenharia! As escolas de idiomas que mais viram o faturamento crescer nos últimos anos foram as de português para estrangeiros.

De toda forma, é totalmente compreensível a busca de profissionais com know-how em áreas pioneiras no país. Se determinada atividade nunca foi realizada em solo nacional, é natural que se traga o profissional do exterior. Mas esta deve ser uma prática de importação de conhecimento, não de mão de obra. O estrangeiro virá agregar e formar seus companheiros de trabalho e não substituir os engenheiros nacionais enquanto estes estão sem emprego. Porém, o que parece haver hoje é a estratégia de trazer um fast-food. Trazer os profissionais formados e prontos, que os headhunters usam como sinônimo de “qualificados”, para assumir os cargos vagos no Brasil. Então novamente impera o vício do jeitinho brasileiro, mas agora, durante o recrutamento.

*Todo respeito aos atendentes de caixa de banco. O exemplo só foi citado pela não necessidade das qualificações citadas no texto para desempenho da função.