A Grande Força Local
Existem certos aspectos culturais do Pampa que são
próprios apenas da nossa região. Provavelmente alguns destes traços tem
continuidade (e talvez origem) do outro lado da fronteira, no Uruguai e na
Argentina. Mas ainda assim, em um Brasil marcado por culturas tão distintas, em
um cadinho de nacionalidades e etnias que talvez só tenha um paralelo com o
“melting pot” norte-americano, a cultura do Pampa Gaúcho tem uma presença e
marca tão ou mais forte quanto a nordestina ou a mineira, por exemplo. Alias,
mais do que isso, de todas as culturas nacionais regionais, a nossa tem sido
talvez a mais resistente ao apelo de uma modernidade externa e destruidora.
Mais do que apenas resistência, a cultura local tem
uma força e carisma que a fazem parte integrante desta mudança e que a tornam
possível de se tornar um “produto de exportação”. Basta olharmos ao nosso redor
e veremos isso.
Se queremos um bom churrasco em Los Angeles, a
churrascaria tem que ser “do gaúcho”, “gaúcha”, “do Pampa”, etc. Muitas vezes o
churrasqueiro é mexicano (mas trajando roupas gaúchas), mas com certeza o dono
ou o gerente são gaúchos, do Pampa. Nosso vinho, local, nosso orgulho, rivaliza
com qualquer marca nacional ou internacional. Temos móveis, marca muito nossa,
feitos com madeira de cerca (ou pelo menos tentando ser) de um toque de
rusticidade tal que se tornam um artigo de requinte num imenso paradoxo de
opostos. A música gaúcha, não da capital, mas do interior, vai muito bem,
obrigado, em total contraste com o (lamentável) declínio dos repentistas
nordestinos. A juventude aprecia e gosta das roupas gaúchas, basta caminhar nas
ruas para se ver isso. Os quadros de Bagé, com temas bem campestres do Pampa,
são de uma beleza sem igual e temos lojas especializadas neste mesmos quadros.
Os Centros de Tradição Gaúcha – CTGs são referência Brasil afora. O hábito de
se tomar o chimarrão, apesar de ser comum em todo o sul, traz a marca certa de
ser gaúcho e gaúcho da fronteira. E assim por diante....
O apelo cultural é tão grande que um dos nossos
maiores comediantes, apesar de ser de Porto Alegre, prefere se dizer “de
Uruguaiana” e querer saber “onde fica o Alegrete” no seu show, sucesso de anos.
Numa época marcada por uma cultura dita
globalizada, com apelos fáceis dados pela televisão (certa vez chamada de
máquina de fabricar doido por Sérgio Porto), pela exposição que nos é dada pela
internet, por tudo e com tudo isso, é notável que esta cultura, tão local e ao
mesmo tempo tão marcante, se mantenha e ao contrario de outras, fique mais
forte no contato com esta modernidade derretedora de tradições.
Literatura, cinema e teatro são aspectos desta
cultura que são uma referência pelas estórias e charme todo deles. Certamente
muito mais dramas, romances, enfim, estórias de alto apelo emocional estão ai
para serem contadas além dos já clássicos, como o Tempo e o Vento”. Estórias do
nosso cotidiano, de nosso dia a dia, da nossa infância, dos que para aqui
vieram, enfim toda uma epopeia e seus detalhes estão ai para serem contados e
com isso propagar mais ainda a cultura do Pampa Gaúcho.
Além do aspecto cultural, podemos citar também o
econômico. Quantas pessoas tem sua renda (ou pelo menos parte dela) oriunda de
atividades culturais? Quanto dinheiro é trazido para a nossa região? Alias uma
pergunta melhor seria: Quanta renda poderia ser gerada com um aproveitamento
ainda maior da área cultural?