Para todos os gostos
Após longos quatro anos estamos de volta a uma
eleição majoritária. Os cargos disputados incluem deputado estadual e federal,
senador, governador e o mais ambicionado de todos, a vaga de presidente da
república. A campanha já está na rua, ou melhor, na televisão. O horário
eleitoral gratuito acaba se tornando o anti-horário pela chatice e mesmice.
Digo isto independente de partido ou candidato. Alias quero deixar bem claro
que a minha posição pública nesta eleição será da mais absoluta neutralidade e
se neste artigo existirem critica ou elogios, peço desculpas, mas estes são
para todos, independente de partido, ideologia, passado, etc.
Se o leitor se der ao trabalho de procurar na
internet “Guri de Uruguaiana” e “candidato”, irá encontrar os vídeos parodia
que o nosso grande humorista faz desta situação de campanha. Ele se apresenta
como o grande candidato (ou anti candidato) do partido da língua do pê, com
promessas como cavalo-via, chimarrão para todos, trem bala de Porto Alegre para
as praias, etc. Seu vice foi escolhido pela altura, pois é mais baixo que ele.
Ele nunca consegue dizer seu número ao fim do programa. O risco de se anunciar
este número, claramente fictício, é que muitos iriam votar nele, o chamado voto
de protesto.
Enquanto isto a campanha continua na televisão.
Todos se dizem maravilhosos e ótimos, de passados impecáveis, e as promessas de
casa, comida e roupa lavada continuam, cada uma mais mirabolante que a outra. O
eleitor certamente fica confuso no meio de tantos nomes, propostas e partidos.
O Guri de Uruguaiana está certo em pertencer ao partido da língua do pê, assim
ele simplifica esta colcha de retalhos. Considerando-se que entre as propostas
dos candidatos reais temos o calote interno e externo da dívida pública, a
revolução e queda do regime, a manutenção da situação atual “pois estamos no
caminho certo”, programas sociais de todo tipo, etc, a cavalo-via do Guri de
Uruguaiana não soa tão extravagante assim. Stanislaw Ponte Preta deve estar se
rolando no seu túmulo de tanto rir (nome artístico de Sérgio Porto, autor do,
entre outras obras, FEBEAPÁ – Festival da Besteira que Assola o Pais).
Fico aqui a me perguntar se os candidatos levam a
sério o que estão dizendo na televisão. Não me refiro ao candidato A, B ou C.
Estou me referindo a todos eles. Alguns se referem a situações que sabemos
inexistentes, outros prometem coisas sem nenhuma chance de serem feitas, e
assim por diante. E a quantidade de candidatos, partidos, propostas e
contrapropostas são de deixar tonto qualquer um.
Em cima de tudo isto, com os índices de rejeição
que a política costuma ter normalmente entre os brasileiros, nada mais natural
que apareçam os anticandidatos, ou candidatos de protesto, hoje tornados
impossíveis com a urna eletrônica. O macaco Tião no Rio de Janeiro e o
rinoceronte Cacareco em São Paulo costumavam ter um índice bem alto nas urnas.
Muitas vezes a população escolhe um determinado candidato não pelo seu
currículo ou proposta mas como uma forma de protesto. Protesto silencioso, é
verdade, mas protesto.
Por incrível que possa parecer para os políticos,
as necessidades básicas que todos querem são saúde, educação, segurança,
infraestrutura e a possibilidade de poder trabalhar e gerar a riqueza que
sustentará isto tudo além, é claro, dos próprios políticos. Acordar, trabalhar
duro, chegar em casa, ver a família feliz e voltar a dormir com tranquilidade
são demandas universais e o povo brasileiro nunca se negou a trabalhar com o
afinco necessário para construir um pais melhor.
O momento, mais do que nunca, é de debate, de como
iremos querer nosso pais no futuro próximo. Somos livres para fazer nossas
escolhas, inclusive as eleitorais, boas ou ruins, mas seremos prisioneiros das
consequências das mesmas nos próximos quatro anos.