O Cala Boca
Retiro esta do dicionário on-line de português: “Censura
s.f. Exame crítico de obras literárias ou artísticas; exame de livros e
peças teatrais, jornais etc., feito antes da publicação, por agentes do poder
público”. A palavra é de origem latina onde o censor seria o elemento
encarregado de aplicar a mesma. A censura seria assim uma maneira de coibir a
liberdade de expressão e assim limitar a difusão do conhecimento através de uma
determinada comunidade. Normalmente este tipo de coibição é utilizado por
regimes ditatoriais, mas dependendo do nível de democracia de um determinado
pais, formas de censura, muitas vezes camufladas, podem estar presentes.
As consequências a nível histórico são por demais
conhecidas pois a falta de informação leva uma massa humana ficar subordinada
aos desígnios dos poderosos, sem conhecimento dos seus direitos, muitas vezes
básicos. O acesso à informação produz um povo consciente e informado e isso
tira poder dos controladores de decisão que precisam minimamente prestar algum
tipo de contas para a população.
A ditadura brasileira durou 20 anos e usou e abusou
da censura. Sem internet e com facilidade de controle dos meios de comunicação
existentes (rádio, tv, jornais, etc), foi muito fácil determinar o que poderia
ou não ser de conhecimento do público. Os órgãos de comunicação eram
monitorados de perto pelo “Conselho Superior de Censura” e ai de quem não
ficasse na linha. Artistas foram particularmente visados e acabaram indo ou
para a prisão ou para o exílio. Nomes que incluem Caetano Veloso, Elis Regina,
Milton Nascimento, Chico Buarque, etc. Até mesmo Sófocles (autor grego da
antiquidade) esteve sob a mira da tesoura, e teria ido mesmo em cana não
tivesse morrido em 406 a.C. por causa da sua peça Édipo Rei. Com o passar do
tempo, o caráter cada vez mais ridículo desta forma de arbítrio aumentava. Um
dos casos mais hilários ocorreu com o Sr. Nelson Silva, redator chefe da
revista Veja que entrou numa sala de embarque carregando o livro “Trotski, o
Profeta Armado”. Ao ser abordado por um censor, tomou um susto e pensou que iria certamente em cana, mas o
censor ao olhar o livro apenas disse que também era religioso...
A necessidade de vigilância sobre o sistema, não
sobre os cidadãos, é vital para que possamos manter a integridade e a
civilidade na nossa sociedade. O fim da censura nos anos 80 não quer dizer que
não possa existir um retorno da mesma disfarçada de inúmeras formas. Censuras
ditas judiciais como a que se abateu sobre o jornal “O Estado de São Paulo”
quando da denúncia (junho 2009) de que o mordomo de Roseana Sarney seria
empregado do Senado com salário de 12.000 reais são uma prova de que, de formas
ainda que vagas e escondidas, ainda estamos com uma censura, talvez mais leve, mas
censura. Aqueles que detém o poder sempre vão estar na tentação de querer
encobrir os fatos negativos que possam ser deletérios para a sua imagem, por
piores que sejam as consequências. Quando estas acontecem, o padrão dos donos
do poder é dizer “que nada sabiam”.
A liberdade de expressão é garantia constitucional
mas na prática muitas pessoas tem medo de externar a sua opinião por temor a
represálias e mesmo para jornalistas tarimbados é muitas vezes necessária
coragem para expor a verdade. Um exemplo da magnitude disto pode ser medido por
quantas tragédias não poderiam ter sido evitadas (desastre em Congonhas,
incêndio da Boate Kiss, etc) se a verdade tivesse sido externada antes. De nada
adianta a presença de políticos que aparecem somente depois que os fatos
ocorreram para reconfortar as famílias das vítimas. De que adianta termos
processos e mais processos para encontrar culpados se o sistema se mantém
basicamente o mesmo e pronto para agarrar novas vítimas.
A verdade é que governos não gostam de ser
cobrados, e no final a principal vítima da censura, disfarçada ou
institucional, acaba sendo a própria sociedade que se auto impõe esta forma de
controle.
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