Gigantes do Nosso Tempo
Três grandes nomes marcam a nossa época: Mahatma
Ghandi, Martin Luther King e Nélson Mandela. Nos cem anos que podemos traçar
desde o inicio da Primeira Guerra Mundial (1914), são eles que nos dão uma
referência importante para a luta por um planeta melhor e com menos distorções
sociais.
Ghandi enfrentou o todo poderoso Império Britânico,
muito embora este império tivesse ficado esgotado pelo esforço para derrotar o
nazismo. A sua vitória ao conseguir a Independência da Índia é apenas eclipsado
pela mensagem de paz que ele deixou. Lutou até onde pode para que parassem as
lutas étnicas que explodiram entre hindus, muçulmanos e sikhs na época da
independência. Apenas o seu assassinato (e uma atitude dura das autoridades)
conseguiu parar com a luta fratricida entre irmãos. Sua luta sempre foi no
campo onde os britânicos nunca conseguiram derrotá-lo: na não-violência.
Luther King combateu o racismo entranhado na
sociedade americana. O seu sonho de uma sociedade, se não igual, mas pelo menos
com mais oportunidades para todos, independente da raça, se tornou, pelo menos
no subconsciente social americano, uma realidade. Hoje existem leis contra
discriminação, não só contra a cor da pele, como gênero sexual, escolha sexual,
religião, deficiência física, etc. Muito resta a fazer mesmo nos Estados
Unidos, mas o exemplo de luta que lá foi dado nos anos 50 e 60 foi pouco a
pouco levado para todo o mundo. As imagens que ficaram guardadas nas fotografias,
particularmente do sul dos Estados Unidos de antes da década de 60, são de uma
realidade que aos nossos olhos de hoje, parecem de outro planeta, tamanhas
foram as mudanças. King, assim como Ghandi, pagou com a vida por causa de suas ideias. Sua herança, não só para os norte-americanos, mas para todos nós, ficou
sendo que a ideologia de discriminação, particularmente a racial, poderia e
teria que ser quebrada.
O último destes nomes é de alguém que é
praticamente nosso vizinho. Precisamos apenas atravessar o Oceano Atlântico
para visitarmos a África do Sul. Muito tempo atrás o Rio Grande do Sul não
teria nem o oceano para nos separar deste pedaço de terra fora de serie, parte
do berço da especie humana que é a África. Tanto é assim que temos aqui no Rio
Grande do Sul carvão com características bem semelhantes ao de lá, ou seja,
províncias geológicas semelhantes que acabaram separadas pelo surgimento do
Oceano Atlântico. Mandela soube dar neste pedaço de terreno espremido no
extremo sul da África um exemplo de como podemos nos engrandecer como seres
humanos se pudermos virar a mesa dos paradigmas que temos tão enraizados em nós
mesmos.
A grande herança de Mandela não é a luta (e
vitória) contra o Apartheid (regime racista sul africano). Esta vitória era
previsível. Hoje o mundo está muito “intolerante com a intolerância”. O regime
racista sul-africano ficou em uma situação insustentável com o cerco
internacional e a desagregação social inevitável de uma sociedade injusta ao
extremo. A grande herança de Mandela foi sim ter mostrado que o maior prêmio a
ser obtido após a luta seria perdoar os vencidos (a elite racista do
Apartheid), esquecer o passado e construir o futuro. Sua posição como
presidente sul-africano foi sempre de conciliação. O acréscimo do “S” no final
dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa) apenas mostra como
estava certa a visão deste político não só brilhante como perseverante no seu
projeto de uma sociedade mais aberta e sem discriminações e através disto
forjar uma nação de peso no mundo. Sua maior contribuição é de mostrar que mais
que reformar o mundo, podemos reformar a nós mesmos e onde antes só havia luta
e desentendimento podemos encontrar paz e espíritos desarmados.
Talvez como testemunho de que algum progresso realmente
ocorreu no mundo, Mandela continua vivo e não foi assassinado como Ghandi e
King. Na sua idade avançada, ele está hoje aposentado da vida pública e pode
ainda em vida ver o resultado do trabalho de toda uma vida: uma África do Sul
melhor e um exemplo para o mundo, um total contraste com o que havia lá 20 anos
atrás.