quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Material versus Espiritual - Folha do Sul / 2.Setembro.2013



 Material versus Espiritual

É sempre bom procurar ver os movimentos sociais e as escolas de pensamento dentro de um contexto histórico amplo. No período histórico conhecido como Idade Média, temos uma predominância ideológica voltada para o espírito. As razões para isso são claras: uma sociedade na maior parte analfabeta, muita pobreza e média de vida muito curta. Um bom filme sobre o assunto é “O Nome da Rosa” com Sean Connery.
Com o advento das Grandes Navegações, Descoberta do Caminho das Índias, Descoberta da América e a subsequente Revolução Comercial, todo um contexto muda. Mais riqueza circula, e a base da sociedade feudal começa a ser corroída. Seguem-se no rastro do debate ideológico, a Reforma e a Contra-Reforma, que geraram guerras ao longo dos séculos 16 e 17, até que por fim com o acordo conhecido como Paz de Westfália (1648) tem-se o fim de conflitos na Europa devido a divergências religiosas. Toda uma mudança de pensamento ocorreu neste período. Um mundo mais materialista começava a dar seus passos.
Hoje, depois de toda uma caminhada histórica, incluindo a já citada Revolução Comercial, Revolução Industrial, conflitos ideológicos (principalmente comunismo versus capitalismo), avanços tecnológicos, etc, desembocamos numa sociedade altamente voltada para os bens materiais onde o importante é o agora e onde tudo é descartável. Muitas vezes nos esquecemos de que dinheiro resolve apenas problemas imediatos, e que muitas vezes não basta apenas dinheiro para alcançarmos a tão sonhada felicidade. Temos tanto orgulho de nossa posição hodierna que nos esquecemos que somos seres falíveis e que muito embora realmente tenhamos uma vida bem mais longa que nossos antepassados, esta continua a ter uma duração limitada.
Temos hoje no mundo todo um renascimento religioso de raízes ligadas a este problema. Muitas pessoas se sentem desencantadas com a vida moderna e querem uma saída espiritual para problemas de ordem pessoal que dinheiro não conseguiria a principio resolver. Poderíamos dizer que todo um refluxo de ideias está ocorrendo. Novos princípios baseados em uma visão sobre conceitos muito antigos parecem estar cada vez mais presentes ao mesmo tempo que uma reflexão sobre isto é feita. A busca moderna pela religião é justamente na nossa valorização como seres humanos e pelo respeito que devemos ter uns com os outros. Uma posição de maior humildade frente a problemas existenciais muitas vezes difíceis.
Interessante notar que um conceito muitas vezes incompreendido é o de humildade. Humildade no sentido de se sentir um ser limitado. Ao reconhecermos nossas limitações talvez estejamos dando um grande e imenso passo para nos tornarmos seres humanos melhores, pelo menos no plano espiritual, com óbvias repercussões no plano material. Em outras palavras, sairíamos da necessidade total pelo dinheiro e coisas materiais e teríamos pelo menos um aprimoramento da nossa capacidade espiritual.
Qual será o desemboca douro destas novas tendências? Na verdade elas existem desde o inicio da Revolução Industrial, 200 anos atrás. Recomendo o livro “A Era das Revoluções” de Eric Hobsbawn onde existe um capitulo dedicado especialmente a este tema. Certamente a necessidade espiritual de um ser humano moderno cheio de riquezas mas com um vazio pessoal tornam estas mudanças muito necessárias. Duzentos anos depois pode-se ver que esta procura continua a ser uma necessidade por parte de pessoas que não conseguem ser felizes apenas com a satisfação das suas necessidades materiais imediatas.
O que nos espera? Neste momento saímos da claridade do presente e entramos na escuridão do futuro. Dedico este pequeno texto aqueles que através da religião buscam ser, independente da crença, uma luz em um mundo em que muitas vezes estamos imersos em escuridão moral e espiritual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário