A Escolha
Se olharmos para os últimos cem anos na história da
humanidade, podemos dizer que sem sombra de dúvidas este é o século mais
sangrento de todos. Se alguém duvida, podemos enumerar alguns episódios
rapidamente: Primeira Guerra Mundial, Extermínio de Armênios, Guerra Civil
Espanhola, Segunda Guerra Mundial, Holocausto, Guerra da Coreia, Guerra do Vietnã, etc. A lista parece infindável. Mesmo aqui na América do Sul tivemos
um conflito nos anos 30 entre Paraguai e Bolívia que ficou tristemente conhecido
como Guerra do Chaco. Os motivos que levam dois países a se destruírem
mutuamente são muitas vezes mais complexos do que pensamos. Políticos
experientes não tomam este passo sem ter certeza de ter apoio interno e externo
para tal. Mesmo assim esta é uma decisão pesada muito bem em sociedades
maduras. O preço de um conflito pode ser alto demais. Em outras palavras,
sabe-se como é a entrada na guerra, nunca se sabe como será a saída.
O presidente americano Roosevelt deu sinal verde
para a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra apenas após o ataque a
Pearl Habor e após ter certeza de que teria apoio interno. Antes do ataque, navios
americanos eram atacados por submarinos nazistas no meio do Atlântico, mas
mesmo assim a opinião pública era contra a entrada em um conflito distante de
casa. Político prudente e ciente das suas limitações, Roosevelt, apesar de
apoiar a Inglaterra, preferiu esperar o momento certo.
Recentemente tivemos um conflito na atual Bósnia,
em que um relutante Clinton esperou até o último momento para fazer uma
intervenção muito limitada, mas que mesmo assim teve efeitos sem sombra de
dúvida benéficos do ponto de vista humano. Quando ficou bem claro que a
intervenção externa era necessária e que o preço humano estava se tornando excessivo,
a comunidade internacional teve que agir, não por imposição de este ou aquele
pais, mas por decisão da maioria.
A oposição russa a estas intervenções é bastante
lógica. Muitos conflitos ocorrem perto das fronteiras ao sul da antiga União
Soviética, e qual o governante russo que não ficaria nervoso de saber que
existem tropas estacionadas perto da borda? Para piorar o fato do ponto de
vista estratégico, a política internacional da Rússia, seja czarista, comunista
ou atual, sempre foi no sentido de se conseguir uma saída para o Oceano Índico
através do Irã. Os russos travaram uma guerra cinco séculos atrás para ter a
sua saída para o Atlântico (São Petersburgo) e depois desbravaram toda a
Sibéria para ter uma no Pacífico, ao norte da China. Uma simples olhada no mapa
pode esclarecer o porque de eles não serem a favor de intervenções externas
perto do território deles.
A estória que acompanhamos agora na Síria parece
ser uma repetição de outros episódios semelhantes. Atrocidades estão sendo
cometidas, a vista de todos. Prefiro não denunciar este ou aquele lado, já que
em toda e qualquer guerra, todo mundo faz coisas que não são boas. Isto faz
parte da lógica de um conflito. Qualquer conflito! Não existe lado bom ou mau.
Existem vítimas, a imensa maioria entre os civis, que pouco ou nada podem
fazer. O uso de gás na Síria é extremamente sério, mas pode-se ver que existe
uma inércia da comunidade internacional para se tomar (ou melhor não tomar) uma
atitude.
Países são movidos por interesses, mas existe um
lado humanitário que precisa ser considerado tanto quanto o político ou o
econômico. Se tomarmos todo este quadro, pode-se ver as razões que fazem com
que este conflito na Síria continue por tanto tempo que já está sendo chamado
de “a guerra esquecida”.
Qual o caminho a ser tomado? O próprio Obama está
tendo oposição doméstica para aquilo que a opinião pública americana parece
estar vendo como mais uma aventura do governo, mais um Vietnã ou Iraque. O
apoio externo parece ser minguado. Provavelmente se alguma ação for tomada,
esta deverá ser limitada.
Esperemos que uma solução de compromisso possa ser
encontrada por via diplomática. As crianças sírias agradeceriam com certeza.
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