terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Escolha - Folha do Sul / 9.Setembro.2013



A Escolha

Se olharmos para os últimos cem anos na história da humanidade, podemos dizer que sem sombra de dúvidas este é o século mais sangrento de todos. Se alguém duvida, podemos enumerar alguns episódios rapidamente: Primeira Guerra Mundial, Extermínio de Armênios, Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial, Holocausto, Guerra da Coreia, Guerra do Vietnã, etc. A lista parece infindável. Mesmo aqui na América do Sul tivemos um conflito nos anos 30 entre Paraguai e Bolívia que ficou tristemente conhecido como Guerra do Chaco. Os motivos que levam dois países a se destruírem mutuamente são muitas vezes mais complexos do que pensamos. Políticos experientes não tomam este passo sem ter certeza de ter apoio interno e externo para tal. Mesmo assim esta é uma decisão pesada muito bem em sociedades maduras. O preço de um conflito pode ser alto demais. Em outras palavras, sabe-se como é a entrada na guerra, nunca se sabe como será a saída.
O presidente americano Roosevelt deu sinal verde para a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra apenas após o ataque a Pearl Habor e após ter certeza de que teria apoio interno. Antes do ataque, navios americanos eram atacados por submarinos nazistas no meio do Atlântico, mas mesmo assim a opinião pública era contra a entrada em um conflito distante de casa. Político prudente e ciente das suas limitações, Roosevelt, apesar de apoiar a Inglaterra, preferiu esperar o momento certo.
Recentemente tivemos um conflito na atual Bósnia, em que um relutante Clinton esperou até o último momento para fazer uma intervenção muito limitada, mas que mesmo assim teve efeitos sem sombra de dúvida benéficos do ponto de vista humano. Quando ficou bem claro que a intervenção externa era necessária e que o preço humano estava se tornando excessivo, a comunidade internacional teve que agir, não por imposição de este ou aquele pais, mas por decisão da maioria.
A oposição russa a estas intervenções é bastante lógica. Muitos conflitos ocorrem perto das fronteiras ao sul da antiga União Soviética, e qual o governante russo que não ficaria nervoso de saber que existem tropas estacionadas perto da borda? Para piorar o fato do ponto de vista estratégico, a política internacional da Rússia, seja czarista, comunista ou atual, sempre foi no sentido de se conseguir uma saída para o Oceano Índico através do Irã. Os russos travaram uma guerra cinco séculos atrás para ter a sua saída para o Atlântico (São Petersburgo) e depois desbravaram toda a Sibéria para ter uma no Pacífico, ao norte da China. Uma simples olhada no mapa pode esclarecer o porque de eles não serem a favor de intervenções externas perto do território deles.
A estória que acompanhamos agora na Síria parece ser uma repetição de outros episódios semelhantes. Atrocidades estão sendo cometidas, a vista de todos. Prefiro não denunciar este ou aquele lado, já que em toda e qualquer guerra, todo mundo faz coisas que não são boas. Isto faz parte da lógica de um conflito. Qualquer conflito! Não existe lado bom ou mau. Existem vítimas, a imensa maioria entre os civis, que pouco ou nada podem fazer. O uso de gás na Síria é extremamente sério, mas pode-se ver que existe uma inércia da comunidade internacional para se tomar (ou melhor não tomar) uma atitude.
Países são movidos por interesses, mas existe um lado humanitário que precisa ser considerado tanto quanto o político ou o econômico. Se tomarmos todo este quadro, pode-se ver as razões que fazem com que este conflito na Síria continue por tanto tempo que já está sendo chamado de “a guerra esquecida”.
Qual o caminho a ser tomado? O próprio Obama está tendo oposição doméstica para aquilo que a opinião pública americana parece estar vendo como mais uma aventura do governo, mais um Vietnã ou Iraque. O apoio externo parece ser minguado. Provavelmente se alguma ação for tomada, esta deverá ser limitada.
Esperemos que uma solução de compromisso possa ser encontrada por via diplomática. As crianças sírias agradeceriam com certeza.

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