segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Gigantes do Nosso Tempo - Folha do Sul / 30.Setembro.2013



Gigantes do Nosso Tempo

Três grandes nomes marcam a nossa época: Mahatma Ghandi, Martin Luther King e Nélson Mandela. Nos cem anos que podemos traçar desde o inicio da Primeira Guerra Mundial (1914), são eles que nos dão uma referência importante para a luta por um planeta melhor e com menos distorções sociais.
Ghandi enfrentou o todo poderoso Império Britânico, muito embora este império tivesse ficado esgotado pelo esforço para derrotar o nazismo. A sua vitória ao conseguir a Independência da Índia é apenas eclipsado pela mensagem de paz que ele deixou. Lutou até onde pode para que parassem as lutas étnicas que explodiram entre hindus, muçulmanos e sikhs na época da independência. Apenas o seu assassinato (e uma atitude dura das autoridades) conseguiu parar com a luta fratricida entre irmãos. Sua luta sempre foi no campo onde os britânicos nunca conseguiram derrotá-lo: na não-violência.
Luther King combateu o racismo entranhado na sociedade americana. O seu sonho de uma sociedade, se não igual, mas pelo menos com mais oportunidades para todos, independente da raça, se tornou, pelo menos no subconsciente social americano, uma realidade. Hoje existem leis contra discriminação, não só contra a cor da pele, como gênero sexual, escolha sexual, religião, deficiência física, etc. Muito resta a fazer mesmo nos Estados Unidos, mas o exemplo de luta que lá foi dado nos anos 50 e 60 foi pouco a pouco levado para todo o mundo. As imagens que ficaram guardadas nas fotografias, particularmente do sul dos Estados Unidos de antes da década de 60, são de uma realidade que aos nossos olhos de hoje, parecem de outro planeta, tamanhas foram as mudanças. King, assim como Ghandi, pagou com a vida por causa de suas ideias. Sua herança, não só para os norte-americanos, mas para todos nós, ficou sendo que a ideologia de discriminação, particularmente a racial, poderia e teria que ser quebrada.
O último destes nomes é de alguém que é praticamente nosso vizinho. Precisamos apenas atravessar o Oceano Atlântico para visitarmos a África do Sul. Muito tempo atrás o Rio Grande do Sul não teria nem o oceano para nos separar deste pedaço de terra fora de serie, parte do berço da especie humana que é a África. Tanto é assim que temos aqui no Rio Grande do Sul carvão com características bem semelhantes ao de lá, ou seja, províncias geológicas semelhantes que acabaram separadas pelo surgimento do Oceano Atlântico. Mandela soube dar neste pedaço de terreno espremido no extremo sul da África um exemplo de como podemos nos engrandecer como seres humanos se pudermos virar a mesa dos paradigmas que temos tão enraizados em nós mesmos.
A grande herança de Mandela não é a luta (e vitória) contra o Apartheid (regime racista sul africano). Esta vitória era previsível. Hoje o mundo está muito “intolerante com a intolerância”. O regime racista sul-africano ficou em uma situação insustentável com o cerco internacional e a desagregação social inevitável de uma sociedade injusta ao extremo. A grande herança de Mandela foi sim ter mostrado que o maior prêmio a ser obtido após a luta seria perdoar os vencidos (a elite racista do Apartheid), esquecer o passado e construir o futuro. Sua posição como presidente sul-africano foi sempre de conciliação. O acréscimo do “S” no final dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa) apenas mostra como estava certa a visão deste político não só brilhante como perseverante no seu projeto de uma sociedade mais aberta e sem discriminações e através disto forjar uma nação de peso no mundo. Sua maior contribuição é de mostrar que mais que reformar o mundo, podemos reformar a nós mesmos e onde antes só havia luta e desentendimento podemos encontrar paz e espíritos desarmados.
Talvez como testemunho de que algum progresso realmente ocorreu no mundo, Mandela continua vivo e não foi assassinado como Ghandi e King. Na sua idade avançada, ele está hoje aposentado da vida pública e pode ainda em vida ver o resultado do trabalho de toda uma vida: uma África do Sul melhor e um exemplo para o mundo, um total contraste com o que havia lá 20 anos atrás.

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