Fim da Adolescência
Um objeto como uma faca não é necessariamente bom
ou mau. Ela será um ou outro dependendo do uso que lhe dermos. O mesmo se
aplica para o assim chamado sistema financeiro. Bancos são instituições tão
antigas quanto a civilização. Com a captação e o empréstimo de recursos eles
fazem uma etapa importantíssima em qualquer sistema econômico que é a
realocação de dinheiro para o crescimento econômico. O problema é se estes
recursos são usados de forma abusiva provocando inflação nos preços de bens e
serviços sem que ocorra um verdadeiro crescimento da atividade produtiva. No
final acabam ocorrendo as inevitáveis crises do sistema financeiro.
Para evitar exatamente estes abusos é que foram
criados bancos centrais (nos EUA é o “Federal Reserve” e no Brasil o Banco Central)
que regulamentam a política de juros a nível de governo e também cobram dos
bancos o chamado depósito compulsório. O depósito faz assim o papel de evitar
que ocorra uma multiplicação artificial de recursos. Desta forma os
financiamentos podem ser usados de forma sábia e cautelosa. Pelo menos em
teoria.
A recente crise do sistema financeiro americano
mostrou a necessidade desta e de outras regulamentações, mais drásticas ainda.
Os bancos lá emprestaram a rodo. Muita gente comprou casa, o mercado imobiliário
inflou, e os preços foram nas nuvens. De repente se escutou a grita na imprensa
de que uma parte significativa das hipotecas não poderia ser paga. O crédito
secou e com ele veio um esfriamento da atividade econômica e o desemprego
resultante (mais de 10% da mão de obra ativa) só fez piorar as coisas. Dentro
da lógica de uma recessão, ocorreram quebras de empresas e bancos, baixa do PIB
e menos impostos. A troca dos republicanos pelos democratas teve suas raízes em
grande parte na deterioração econômica e na continuação da guerra no Iraque
(outra fonte de gastos do governo). Apesar de uma melhora significativa, ainda
existe um longo caminho para a recuperação plena da economia dos EUA.
Um fato que não pode deixar de ser notado é que o
valor das casas financiadas, que tinham sido compradas por um preço elevado com
dinheiro emprestado dos bancos, este valor caiu! E caiu a um nível que mesmo
que o banco tomasse o bem, a venda do mesmo não teria condições de pagar o
débito ainda existente.
Tomando todos estes fatos é possível ver que um
excesso de crédito acaba causando no fim mais malefícios que benefícios, por
outro lado uma política de crédito cautelosa mas não restritiva tem o efeito
benéfico de promover a economia. O abuso da política econômica por parte do
governo acaba trazendo problemas que não interessam a quase ninguém. Política
financeira não é como um jogo na escola. Na década de 90, vinte anos atrás,
todo mundo recebia o salario e corria para o banco para aplicar no open. A
inflação era galopante e a atividade econômica estava cada vez menor. O
sequestro das contas pelo governo (Collor) foi talvez o fundo do poço dos
abusos do governo na economia. Abusos estes que no final nada resolveram e só
agravaram os problemas. Uma política mais madura viria apenas com a lei da
responsabilidade fiscal e uma postura mais rígida do banco central. Enfim
aparentemente deixamos de brincar com a moeda como adolescentes e entramos numa
fase mais madura como sociedade.
O esfriamento atual da atividade econômica já
começou a soar sinos de alarme em Brasília. A atitude do governo federal de
querer injetar mais recursos através de empréstimos em um mercado já saturado
com capital não deixa de ser preocupante. Por mais que seja tentador estarmos
numa situação de superaquecimento econômico, é necessário lembrar que no final
acabamos tomando um tombo que prejudica a todo mundo. O crescimento e
desenvolvimento econômicos e sociais tem que ter uma base sólida para que
possamos ter os mesmos de forma continua e permanente. Mais importante que
tentar sanar o problema a curto prazo com injeção inócua de papel moeda seria
dar condições para as empresas se modernizarem e a mão de obra poder ser
treinada nas novas técnicas, aumentando desta forma a competitividade da
sociedade como um todo. Mais riqueza produzida seria certamente melhor que mais
dinheiro em circulação sem que exista o lastro econômico necessário de
produção.
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