segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Fim da Adolescência - Folha do Sul / 7.Outubro.2013



Fim da Adolescência

Um objeto como uma faca não é necessariamente bom ou mau. Ela será um ou outro dependendo do uso que lhe dermos. O mesmo se aplica para o assim chamado sistema financeiro. Bancos são instituições tão antigas quanto a civilização. Com a captação e o empréstimo de recursos eles fazem uma etapa importantíssima em qualquer sistema econômico que é a realocação de dinheiro para o crescimento econômico. O problema é se estes recursos são usados de forma abusiva provocando inflação nos preços de bens e serviços sem que ocorra um verdadeiro crescimento da atividade produtiva. No final acabam ocorrendo as inevitáveis crises do sistema financeiro.
Para evitar exatamente estes abusos é que foram criados bancos centrais (nos EUA é o “Federal Reserve” e no Brasil o Banco Central) que regulamentam a política de juros a nível de governo e também cobram dos bancos o chamado depósito compulsório. O depósito faz assim o papel de evitar que ocorra uma multiplicação artificial de recursos. Desta forma os financiamentos podem ser usados de forma sábia e cautelosa. Pelo menos em teoria.
A recente crise do sistema financeiro americano mostrou a necessidade desta e de outras regulamentações, mais drásticas ainda. Os bancos lá emprestaram a rodo. Muita gente comprou casa, o mercado imobiliário inflou, e os preços foram nas nuvens. De repente se escutou a grita na imprensa de que uma parte significativa das hipotecas não poderia ser paga. O crédito secou e com ele veio um esfriamento da atividade econômica e o desemprego resultante (mais de 10% da mão de obra ativa) só fez piorar as coisas. Dentro da lógica de uma recessão, ocorreram quebras de empresas e bancos, baixa do PIB e menos impostos. A troca dos republicanos pelos democratas teve suas raízes em grande parte na deterioração econômica e na continuação da guerra no Iraque (outra fonte de gastos do governo). Apesar de uma melhora significativa, ainda existe um longo caminho para a recuperação plena da economia dos EUA.
Um fato que não pode deixar de ser notado é que o valor das casas financiadas, que tinham sido compradas por um preço elevado com dinheiro emprestado dos bancos, este valor caiu! E caiu a um nível que mesmo que o banco tomasse o bem, a venda do mesmo não teria condições de pagar o débito ainda existente.
Tomando todos estes fatos é possível ver que um excesso de crédito acaba causando no fim mais malefícios que benefícios, por outro lado uma política de crédito cautelosa mas não restritiva tem o efeito benéfico de promover a economia. O abuso da política econômica por parte do governo acaba trazendo problemas que não interessam a quase ninguém. Política financeira não é como um jogo na escola. Na década de 90, vinte anos atrás, todo mundo recebia o salario e corria para o banco para aplicar no open. A inflação era galopante e a atividade econômica estava cada vez menor. O sequestro das contas pelo governo (Collor) foi talvez o fundo do poço dos abusos do governo na economia. Abusos estes que no final nada resolveram e só agravaram os problemas. Uma política mais madura viria apenas com a lei da responsabilidade fiscal e uma postura mais rígida do banco central. Enfim aparentemente deixamos de brincar com a moeda como adolescentes e entramos numa fase mais madura como sociedade.
O esfriamento atual da atividade econômica já começou a soar sinos de alarme em Brasília. A atitude do governo federal de querer injetar mais recursos através de empréstimos em um mercado já saturado com capital não deixa de ser preocupante. Por mais que seja tentador estarmos numa situação de superaquecimento econômico, é necessário lembrar que no final acabamos tomando um tombo que prejudica a todo mundo. O crescimento e desenvolvimento econômicos e sociais tem que ter uma base sólida para que possamos ter os mesmos de forma continua e permanente. Mais importante que tentar sanar o problema a curto prazo com injeção inócua de papel moeda seria dar condições para as empresas se modernizarem e a mão de obra poder ser treinada nas novas técnicas, aumentando desta forma a competitividade da sociedade como um todo. Mais riqueza produzida seria certamente melhor que mais dinheiro em circulação sem que exista o lastro econômico necessário de produção.

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