segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Condições Sanitárias / Folha do Sul - 28.Out.2013



Condições Sanitárias

Até época relativamente recente era fato normal não existir sistema de esgotos nas cidades. As famosas cidades tais como Atenas, Roma, Cartago, etc, não possuíam um sistema de esgoto elaborado. No máximo um sistema de distribuição de água como na Roma Antiga. O sistema de aquedutos romanos é de fama imorredoura. Mas não havia um sistema de distribuição como o nosso. A água jorrava em fontes onde era apanhada pelos usuários. Também não existia um sistema de tratamento de água e muitas vezes o esgoto era jogado no meio da rua. Se lançava o esgoto da janela sem nenhuma consideração com os passantes. Isto era particularmente comum em Lisboa na época dos descobrimentos. Mais normal ainda e ninguém ligava muito para isso era o esgoto correr rua abaixo até encontrar um córrego ou rio.
Sem condições sanitárias adequadas, era de se esperar o alastramento rápido de epidemias, cada uma mais mortal que a anterior. O número enorme de ratos, camundongos e ratazanas em decorrência de toda esta situação era exorbitante. A falta de estatísticas é um problema mas a chamada Peste Negra no fim da Idade Média matou com certeza entre 1/3 e metade da população europeia. Nem todas eram transmitidas pela água, mas com certeza a falta de água e esgoto amplificava tremendamente a disseminação das doenças, quaisquer doenças contagiosas.
Atualmente com vacinas, remédios, tratamentos médicos, etc, tendemos a esquecer como era a situação no passado. A hoje erradicada varíola matou tanta gente ao longo da história que muitos acontecimentos poderiam ter sido diferentes. Aparentemente foi uma epidemia desta doença que ajudou a precipitar a queda do Império Romano. Os europeus, ao chegarem ao Novo Mundo no inicio do Século XVI, trouxeram com eles os germens para os quais já tinham imunidade. A varíola matou cerca de 90% da população indígena nos Impérios Inca e Asteca. Imagine se de repente ficasse apenas 10% das pessoas que você conhece vivas. Não existe civilização que possa suportar este golpe. Afora isto temos gripe, malaria, febre amarela, sarampo, etc. Como foi dito antes, nem todas transmitidas diretamente pela falta de água ou esgoto, mas muito amplificadas pela falta dos mesmos. A malaria, a febre amarela e outras são transmitidas por mosquitos e para estes mosquitos se reproduzirem é necessária a presença de água parada. Nada melhor que poças de esgoto para tal.
Nos últimos anos muito foi feito no Brasil afora para melhorar as nossas condições sanitárias. Mas mesmo assim cerca de 30% dos domicílios não tem ainda esgoto e cerca de 15% não tem água encanada. Isto significa que a grosso modo pelo menos 15% da população tem uma fossa sanitária (onde o esgoto doméstico é jogado em um buraco na terra) e um poço para abastecimento da casa. E este poço é sempre próximo da fossa. Temos assim uma bomba relógio que precisamos desativar.
Não é necessário lembrar que este problema afeta a todos, ricos e pobres, "camisados" e descamisados. A doença não escolhe o candidato, ela é aleatória. Basta dar uma olhada na periferia das cidades brasileiras para ver que esta é uma situação urgente. Muito pior no norte-nordeste, mas com muita coisa ainda a ser feita no resto do pais, incluindo o nosso Sul. Apesar de ser um investimento que pode ser considerado alto, temos que nos lembrar que a lógica fria dos números demonstram que o dinheiro gasto em melhoria sanitária se reflete em menos gente indo parar em hospitais públicos, ou seja menos gastos com médicos e remédios. Mas se quisermos sair da frieza dos números, podemos nos lembrar que a maioria das vítimas de diarreias e disenterias são sempre crianças, e é nas crianças que reside o futuro de qualquer nação. O investimento-gasto de hoje significa a preservação do amanhã.

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