segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A Verdade! Que Verdade? / Folha do sul - 27.Janeiro.2014



A Verdade! Que Verdade?

Um problema ligado a governos se refere a como estes mesmos governos tecem pronunciamentos ou emitem comunicados. Distorções e mesmo mentiras deslavadas são muitas vezes usadas para confundir a opinião pública naquilo que a camada dirigente identifica como de caráter crítico para o sistema. Muitas vezes a enrolação é tão grande que mesmo elementos de alto escalão não sabem dizer o que está realmente acontecendo. Conhecida é a estória da época da ditadura em que o general Médici usava um radinho de pilha para ter informações confiáveis do que andava acontecendo. Nem mesmo todo o serviço de informação do governo era capaz de fornecer a situação concreta. Com tanta censura na época, o sistema governamental tinha sintomas claros de esquizofrenia institucional. Esquizofrenia é uma doença mental em que a pessoa tem delírios e imagina estar vendo coisas. Assim as coisas podem parecer cor de rosa para os dirigentes que nem sequer se dão ao trabalho de perguntar ou mesmo ver o que realmente anda acontecendo.
Nossos delírios governamentais de quarenta anos atrás nos levaram para uma crise de proporções gigantescas. Estes delírios incluíram a Transamazônica, Ferrovia do Aço, Projeto Nuclear, etc, etc. A situação de mega inflação foi uma das consequências. Com a deterioração da situação econômica, pela primeira vez na história o Brasil deixou de ser um pais de imigrantes e passamos a exportar mão de obra, muitas vezes a fina flor da nossa juventude. Um fenômeno que passou a ser conhecido como a diáspora brasileira surgiu em lugares como Nova Inglaterra e Flórida onde brasileiros foram buscar a oportunidade que lhes era negada aqui. Mas saímos do “Brasil grande” da ditadura e entramos nos planos malucos da era Sarney e Collor. O absurdo chegou ao limite de após o congelamento do dinheiro no primeiro plano Collor, nem mesmo pessoas com problemas de saúde tinham acesso ao seu próprio dinheiro para tratamento médico urgente. Mas para aqueles que detém as rédeas da situação, tudo está sempre na mais santa paz.
Com a lei de responsabilidade fiscal finalmente alguns limites começaram a ser impostos ao executivo, em todas as esferas. Não existe isto de se ter um limite infinito de recursos para tocar projetos, muitos dos quais sem nenhuma exequibilidade. No final a conta será paga pela nação, pelos contribuintes, ou na forma de impostos, ou na forma de inflação, ou pela deterioração dos serviços públicos.
Preocupante é escutarmos na televisão a versão de que a inflação está sob controle ou bem perto disto e que contraditoriamente uma ida ao supermercado revela que nosso poder de compra se deteriora a cada dia. No mesmo noticiário escutamos sobre estádios bilionários e usinas nucleares mais bilionárias ainda. Mesmo nestes itens temos atraso, ineficiência e estouro de orçamento. Enquanto isso continua a mesma lenga-lenga de serviços estatais essenciais precisando de melhorias e excesso de impostos. Mesmo os serviços privados que são concessões públicas necessitam de mudanças. Transporte público e telefonia celular são exemplos concretos disto. Todos sabem disto, incluindo os elementos na administração do executivo da nação.
Existem assim dois Brasis. Num deles o povo acorda, trabalha, gera a riqueza da nação e vai dormir sabendo de como é a sua dura realidade, no outro, temos uma camada dirigente do estado brasileiro que se recusa a ver a situação e que prefere descreve-la de uma forma que todos sabemos não ser verdade.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Busca pela Paz / Folha do Sul - 20.Janeiro.2014



Busca pela Paz

Si vis pacem, para bellum, ou seja, se queres paz, preparate para a guerra! Um antigo ditado romano atribuído em geral a Publius Flavius Vegetius é de grande sabedoria quando temos que entender o significado das relações entre nações. Um aparato militar, ou seja Forças Armadas, é algo inerente a qualquer estado organizado. Torna-se necessário entender que a presença de um exército comprometido com o povo e a organização política legítima de qualquer nação é via de regra uma das bases de um regime democrático. A presença de uma força militar capaz sempre é algo paradoxalmente inibidor de conflitos e guerras.
Desde que o homem se organiza que ocorrem conflitos, isso milhares de anos atrás. A guerra tem sido algo constante na história humana e apenas recentemente que se passou a sonhar com a esperança de um mundo sem conflitos. As experiências traumáticas do Século XX nos trouxeram a reflexão de que precisamos nos entender para podermos conviver entre si. O Brasil, diga-se de passagem, tem sido de maneira geral, um pais que busca a solução dos conflitos de forma pacífica e negociada. Nossas experiências com guerras deixaram sempre a impressão de que o melhor é ficarmos longe destas estórias. O brasileiro é por sua índole um amante da vida e do bem viver com seus vizinhos. Tanto é assim que vivemos numa terra em que pessoas que emigraram de países em conflito há séculos aqui se harmonizam e convivem muito bem.
Mas isto não quer dizer que o brasileiro tenha medo de enfrentar situações difíceis em meio a conflito armados. Os americanos nunca quiseram reconhecer, mas os nossos pracinhas demonstraram grande valor na campanha da Italia na Segunda Guerra. Sempre escutamos estória de brasileiros que vivem em áreas em conflito, e estas estórias sempre mostram o valor que carregamos conosco.
Nos dias de hoje, em que muitas vezes o inimigo é invisível, não necessariamente um outro pais, mais do que nunca se faz necessario termos uma força militar moderna e preparada. Um pais como o nosso, com uma imensa extensão continental, tem mais do que muitos outros, que estar preparado para qualquer eventualidade. A presença do exército nas nossas fronteiras é certamente uma demonstração da nossa soberania e paradoxalmente, do nosso desejo de vivermos em paz. Como exemplo forte disto podemos citar o fato de que o fenômeno do narco-tráfico em países vizinhos particularmente na região amazônica. As forças armadas são particularmente ali um braço necessário do estado brasileiro para mantermos nossa integridade territorial. Os traficantes só puderam ser reprimidos na Colômbia com auxílio externo, mas certamente não se escutou falar de que ocorreu infiltração destas organizações em nosso território e isto sem necessidade de nenhuma “mãozinha” estrangeira.
Felizmente também mais do que nunca os militares procuram se profissionalizar nos dias de hoje. Em muitos países na área empresarial, ter treinamento militar é visto como fator positivo na escolha de funcionários superiores pois tal experiência traz junto a capacidade de organização, liderança, cabeça fria para situações difíceis, etc. Muito embora a vida dita civil não seja de conflitos ou batalhas, ela traz a dura realidade de que precisamos abrir nosso caminho no dia a dia. Particularmente a capacidade de liderança é algo extremamente precioso para as organizações, tanto estatais como privadas.
Um exército forte, preparado, encaixado dentro da sociedade que pretendemos democrática e cumpridora das leis, enfim uma organização não só garantidora da integridade do estado como também formadora de cidadãos conscientes de seu papel na comunidade é algo necessário para um Brasil que queremos moderno e progressista.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um Ano Atípico / Folha do Sul - 13.Janeiro.2014


Um Ano Atípico
 
Fora os acontecimentos “normais” de qualquer ano, tais como Carnaval e Fim de Ano, o presente ano de 2014 será marcante para nós brasileiros por termos também uma Copa do Mundo sediada aqui no meio do ano e eleições gerais na segunda metade do ano. Na verdade existe toda uma “conspiração” de coincidências atuando. Um exemplo típico é que o Carnaval irá ocorrer em Março, fazendo com que a “espera” da folia (entre o Ano Novo e o Carnaval) seja maior.

O evento da Copa deverá moldar uma serie de acontecimentos no meio do ano. No meio do caminho, é de se esperar a divisão que ocorreu ano passado, com parte da população apoiando, parte sem compromisso e uma parte protestando contra. Os acontecimentos recentes no Maranhão, com lagosta na mesa da governadora Sarney e presídios caindo aos pedaços são uma demonstração de como irá ser a visão que pelo menos parte da população irá ter desta estória. O governo não tem convencido muito bem a opinião pública de que irão ocorrer benefícios por conta da Copa e a oposição, consciente de suas limitações, tem esperado para ver. A verdade é que a partir de agora todos estarão pagando para ver as cartas. A troca de posição oficial da FIFA, apoiando o governo brasileiro, talvez seja uma demonstração de que o governo está dando garantias reais de que não permitirá perturbações no evento esportivo. A verdade é que se a Copa ocorrer sem maiores incidentes, isto terá sido por si só uma vitória do governo, mais ainda amplificada caso o time de Neymar consiga ganhar mais uma taça para a CBF, fato não de pouco provável, pois além de um bom time, estaremos jogando em casa, com toda a força da torcida ajudando. Provavelmente este panorama irá não só anular o mal estar causado pela condenação dos mensaleiros e pelo esfriamento da economia como também deixar o governo numa posição relativamente confortável, pelo menos até a eleição. A vitória no México em 1970 foi talvez o grande evento que conseguiu “segurar” o governo militar por mais alguns anos. Obviamente que o atual governo, eleito, não pode ser comparado com o governo da época, uma ditadura. Mas sem sombra de dúvida, um paralelo histórico se faz presente.

Mas é necessário lembrar que o Brasil de 2014 não é o de 1970. Exato terço de século nos separam, a população está mais educada, todo um histórico de acontecimentos fez com que as instituições ficassem mais fortes e que uma demanda por melhores serviços ocorresse. Querer comparar de forma absoluta um ano e outro é como comparar tomate com cebola, certamente uma salada será o resultado. O mais certo é que irão ocorrer protestos, e mesmo que consigamos a Copa, passados alguns meses, o eleitorado estará se questionando sobre o que realmente interessa, coisas tal como educação, saúde, segurança, infraestrutura, desemprego, etc. Pior, após algum tempo, e exatamente na época da eleição, se irá questionar todo o esforço feito para o evento, com vitória ou não da seleção canarinho.

O calcanhar de Aquiles da oposição ainda está na escolha de um nome que possa enfrentar o atual governo, vindo não só com críticas, que serão naturais no processo de uma eleição deste tamanho e importância, mas também com propostas viáveis. Diversas reformas são demandadas, a melhoria da infraestrutura é crítica, etc. Talvez o próprio governo tome a iniciativa e monte uma proposta se propondo a tal, fazendo um papel de “situação oposicionista” caso a oposição continue sem tomar uma posição mais concreta. Na falta de alternativa e embalada pela Copa (com ou sem vitória), a população certamente votaria no governo.

O quadro que está assim montado é de grande incerteza política, mas também de um debate certamente enorme, caso os atores, ou seja a população, se proponha a tal. Mais do que nunca os rumos do Brasil estarão na decisão do fim do ano (eleição) que será moldada pelos acontecimentos ao longo do ano.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Mudança Necessária / Folha do Sul - 6.Janeiro.2014



A Mudança Necessária

Quando um produto aumenta de preço mas seu consumo não diminui, este produto é descrito pelos economistas como sendo “inelástico”. Exemplos de produtos inelásticos podemos citar o pão, açúcar, etc. Enfim todo produto que para que façamos sua substituição por outros, o preço teria que subir muito. Mesmo que o pão aumente de preço, não iríamos deixar de degustar um pãozinho com manteiga pela manhã, questão de gosto e necessidade. O preço é mantido por força da concorrência no mercado de padarias. O governo também pode intervir no mercado para abaixar o preço através de tabelamentos ou de “desova” de estoques de farinha. Tanto um como o outro tem sido usados historicamente por diversos governos para conter a alta de preços.
As noticias veiculadas recentemente de que iremos ter um aumento do IPI (imposto sobre produtos industrializados) nos carros zero e que se espera que este aumento não irá trazer diminuição da procura mostra um mercado altamente inelástico para veículos novos. Como naquela música dos anos 60: “a questão social, industrial, não permite não quer que eu ande a pé, na vitrine o corcel cor de mel”.
Talvez precisemos desviar nosso olhar do corcel na vitrine e tentar entender as causas e as consequências de tantos veículos na rua. O gasto com o carro da família, incluindo ai compra, impostos, gasolina, manutenção, etc, fazem com que este item se torne um dos mais pesados no orçamento das famílias. A propaganda também tem o efeito de que o objeto de desejo seja sempre um carro grande (tipo SUV) com todas as consequências que isto gera. Problemas adicionais como estacionamento são muitas vezes críticos. Hoje quem procura estacionamento no centro da cidade passa muitas vezes por um calvário. É impressionante que numa rua em que todas as vagas estão tomadas, a vaga deixada pela saída de um veiculo é preenchida por outro praticamente na mesma hora.
Assim como no caso do pão, para mudarmos isso, ainda que parcialmente, necessitamos de substitutos, visto que para mudar este padrão de comportamento teríamos que ter um aumento de preços de tal monta que acabaria gerando uma crise econômica imprevisível. Na verdade passamos por esta crise na década de 70 com o aumento dos preços do petróleo. As soluções existem e passam por melhorias no sistema de transporte público. Um transporte de qualidade, com veículos confortáveis e adequados, preços compatíveis, horários confiáveis, etc, certamente teriam o efeito benéfico de diminuir a pressão que hoje temos com o aumento no número de carros. Não basta apenas resolver um ou outro aspecto do problema, mas é necessário que todos as faces críticas sejam enfrentadas.
Particularmente aqui em Bagé seria interessante, a exemplo de outras cidades no mundo, termos em cada parada de ônibus, placas com a indicação do horário e roteiro dos ônibus que passam por aquela parada, com um número de telefone para possíveis queixas. Também seria interessante um mapa com as linhas de ônibus e como elas se interligam. Esta pequena mudança traria como consequência uma maior confiabilidade da população no serviço e com isso uma maior demanda. Ou seja, alem de diminuir o número de carros nas ruas, teríamos um maior conforto no serviço pela certeza e conhecimento dos horarios. Uma maior demanda traria também uma maior arrecadação das concessionarias e impostos, trazendo assim a real possibilidade de melhoras no sistema de transporte. Obviamente isto passa pela fiscalização do serviço pelo poder público e a cobrança destas melhoras. Mas com todos os problemas causados pelo excesso de carros, isto se torna de interesse do próprio governo municipal. Uma melhora no transporte público significaria no final das contas menos gastos com melhorias e manutenção nas vias para carros particulares e mais recursos para serem usados em outras áreas tais como educação e saúde.