A Mudança Necessária
Quando um produto aumenta de preço
mas seu consumo não diminui, este produto é descrito pelos economistas como
sendo “inelástico”. Exemplos de produtos inelásticos podemos citar o pão,
açúcar, etc. Enfim todo produto que para que façamos sua substituição por
outros, o preço teria que subir muito. Mesmo que o pão aumente de preço, não iríamos deixar de degustar um pãozinho com manteiga pela manhã, questão de
gosto e necessidade. O preço é mantido por força da concorrência no mercado de
padarias. O governo também pode intervir no mercado para abaixar o preço
através de tabelamentos ou de “desova” de estoques de farinha. Tanto um como o
outro tem sido usados historicamente por diversos governos para
conter a alta de preços.
As noticias veiculadas recentemente
de que iremos ter um aumento do IPI (imposto sobre produtos industrializados)
nos carros zero e que se espera que este aumento não irá trazer diminuição da
procura mostra um mercado altamente inelástico para veículos novos.
Como naquela música dos anos 60: “a questão social, industrial, não
permite não quer que eu ande a pé, na vitrine o corcel cor de mel”.
Talvez precisemos desviar nosso olhar
do corcel na vitrine e tentar entender as causas e as consequências de tantos veículos na
rua. O gasto com o carro da família, incluindo ai compra, impostos,
gasolina, manutenção, etc, fazem com que este item se torne um dos mais pesados
no orçamento das famílias. A propaganda também tem o efeito de
que o objeto de desejo seja sempre um carro grande (tipo SUV) com todas as
consequências que isto gera. Problemas adicionais como estacionamento são
muitas vezes críticos. Hoje quem procura estacionamento no centro da
cidade passa muitas vezes por um calvário. É impressionante que
numa rua em que todas as vagas estão tomadas, a vaga deixada
pela saída de um veiculo é preenchida por outro praticamente
na mesma hora.
Assim como no caso do pão, para
mudarmos isso, ainda que parcialmente, necessitamos de substitutos, visto que
para mudar este padrão de comportamento teríamos que ter um aumento
de preços de tal monta que acabaria gerando uma crise
econômica imprevisível. Na verdade passamos por esta crise na década
de 70 com o aumento dos preços do petróleo. As soluções existem e passam
por melhorias no sistema de transporte público. Um transporte
de qualidade, com veículos confortáveis e adequados,
preços compatíveis, horários confiáveis, etc, certamente teriam
o efeito benéfico de diminuir a pressão que hoje temos com o aumento
no número de carros. Não basta apenas resolver um ou outro aspecto do problema,
mas é necessário que todos as faces críticas sejam enfrentadas.
Particularmente aqui em Bagé seria
interessante, a exemplo de outras cidades no mundo, termos em cada parada
de ônibus, placas com a indicação do horário e roteiro
dos ônibus que passam por aquela parada, com um número de telefone para possíveis queixas. Também seria interessante
um mapa com as linhas de ônibus e como elas se interligam. Esta
pequena mudança traria como consequência uma maior confiabilidade da
população no serviço e com isso uma maior demanda. Ou seja, alem de diminuir o
número de carros nas ruas, teríamos um maior conforto no serviço
pela certeza e conhecimento dos horarios. Uma maior demanda traria também uma maior
arrecadação das concessionarias e impostos, trazendo assim a real possibilidade
de melhoras no sistema de transporte. Obviamente isto passa pela fiscalização
do serviço pelo poder público e a cobrança destas melhoras. Mas com todos os
problemas causados pelo excesso de carros, isto se torna de interesse do
próprio governo municipal. Uma melhora no transporte público significaria no
final das contas menos gastos com melhorias e manutenção nas vias para carros
particulares e mais recursos para serem usados em outras áreas tais como
educação e saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário