segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Mudança Necessária / Folha do Sul - 6.Janeiro.2014



A Mudança Necessária

Quando um produto aumenta de preço mas seu consumo não diminui, este produto é descrito pelos economistas como sendo “inelástico”. Exemplos de produtos inelásticos podemos citar o pão, açúcar, etc. Enfim todo produto que para que façamos sua substituição por outros, o preço teria que subir muito. Mesmo que o pão aumente de preço, não iríamos deixar de degustar um pãozinho com manteiga pela manhã, questão de gosto e necessidade. O preço é mantido por força da concorrência no mercado de padarias. O governo também pode intervir no mercado para abaixar o preço através de tabelamentos ou de “desova” de estoques de farinha. Tanto um como o outro tem sido usados historicamente por diversos governos para conter a alta de preços.
As noticias veiculadas recentemente de que iremos ter um aumento do IPI (imposto sobre produtos industrializados) nos carros zero e que se espera que este aumento não irá trazer diminuição da procura mostra um mercado altamente inelástico para veículos novos. Como naquela música dos anos 60: “a questão social, industrial, não permite não quer que eu ande a pé, na vitrine o corcel cor de mel”.
Talvez precisemos desviar nosso olhar do corcel na vitrine e tentar entender as causas e as consequências de tantos veículos na rua. O gasto com o carro da família, incluindo ai compra, impostos, gasolina, manutenção, etc, fazem com que este item se torne um dos mais pesados no orçamento das famílias. A propaganda também tem o efeito de que o objeto de desejo seja sempre um carro grande (tipo SUV) com todas as consequências que isto gera. Problemas adicionais como estacionamento são muitas vezes críticos. Hoje quem procura estacionamento no centro da cidade passa muitas vezes por um calvário. É impressionante que numa rua em que todas as vagas estão tomadas, a vaga deixada pela saída de um veiculo é preenchida por outro praticamente na mesma hora.
Assim como no caso do pão, para mudarmos isso, ainda que parcialmente, necessitamos de substitutos, visto que para mudar este padrão de comportamento teríamos que ter um aumento de preços de tal monta que acabaria gerando uma crise econômica imprevisível. Na verdade passamos por esta crise na década de 70 com o aumento dos preços do petróleo. As soluções existem e passam por melhorias no sistema de transporte público. Um transporte de qualidade, com veículos confortáveis e adequados, preços compatíveis, horários confiáveis, etc, certamente teriam o efeito benéfico de diminuir a pressão que hoje temos com o aumento no número de carros. Não basta apenas resolver um ou outro aspecto do problema, mas é necessário que todos as faces críticas sejam enfrentadas.
Particularmente aqui em Bagé seria interessante, a exemplo de outras cidades no mundo, termos em cada parada de ônibus, placas com a indicação do horário e roteiro dos ônibus que passam por aquela parada, com um número de telefone para possíveis queixas. Também seria interessante um mapa com as linhas de ônibus e como elas se interligam. Esta pequena mudança traria como consequência uma maior confiabilidade da população no serviço e com isso uma maior demanda. Ou seja, alem de diminuir o número de carros nas ruas, teríamos um maior conforto no serviço pela certeza e conhecimento dos horarios. Uma maior demanda traria também uma maior arrecadação das concessionarias e impostos, trazendo assim a real possibilidade de melhoras no sistema de transporte. Obviamente isto passa pela fiscalização do serviço pelo poder público e a cobrança destas melhoras. Mas com todos os problemas causados pelo excesso de carros, isto se torna de interesse do próprio governo municipal. Uma melhora no transporte público significaria no final das contas menos gastos com melhorias e manutenção nas vias para carros particulares e mais recursos para serem usados em outras áreas tais como educação e saúde.

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