terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um Ano Atípico / Folha do Sul - 13.Janeiro.2014


Um Ano Atípico
 
Fora os acontecimentos “normais” de qualquer ano, tais como Carnaval e Fim de Ano, o presente ano de 2014 será marcante para nós brasileiros por termos também uma Copa do Mundo sediada aqui no meio do ano e eleições gerais na segunda metade do ano. Na verdade existe toda uma “conspiração” de coincidências atuando. Um exemplo típico é que o Carnaval irá ocorrer em Março, fazendo com que a “espera” da folia (entre o Ano Novo e o Carnaval) seja maior.

O evento da Copa deverá moldar uma serie de acontecimentos no meio do ano. No meio do caminho, é de se esperar a divisão que ocorreu ano passado, com parte da população apoiando, parte sem compromisso e uma parte protestando contra. Os acontecimentos recentes no Maranhão, com lagosta na mesa da governadora Sarney e presídios caindo aos pedaços são uma demonstração de como irá ser a visão que pelo menos parte da população irá ter desta estória. O governo não tem convencido muito bem a opinião pública de que irão ocorrer benefícios por conta da Copa e a oposição, consciente de suas limitações, tem esperado para ver. A verdade é que a partir de agora todos estarão pagando para ver as cartas. A troca de posição oficial da FIFA, apoiando o governo brasileiro, talvez seja uma demonstração de que o governo está dando garantias reais de que não permitirá perturbações no evento esportivo. A verdade é que se a Copa ocorrer sem maiores incidentes, isto terá sido por si só uma vitória do governo, mais ainda amplificada caso o time de Neymar consiga ganhar mais uma taça para a CBF, fato não de pouco provável, pois além de um bom time, estaremos jogando em casa, com toda a força da torcida ajudando. Provavelmente este panorama irá não só anular o mal estar causado pela condenação dos mensaleiros e pelo esfriamento da economia como também deixar o governo numa posição relativamente confortável, pelo menos até a eleição. A vitória no México em 1970 foi talvez o grande evento que conseguiu “segurar” o governo militar por mais alguns anos. Obviamente que o atual governo, eleito, não pode ser comparado com o governo da época, uma ditadura. Mas sem sombra de dúvida, um paralelo histórico se faz presente.

Mas é necessário lembrar que o Brasil de 2014 não é o de 1970. Exato terço de século nos separam, a população está mais educada, todo um histórico de acontecimentos fez com que as instituições ficassem mais fortes e que uma demanda por melhores serviços ocorresse. Querer comparar de forma absoluta um ano e outro é como comparar tomate com cebola, certamente uma salada será o resultado. O mais certo é que irão ocorrer protestos, e mesmo que consigamos a Copa, passados alguns meses, o eleitorado estará se questionando sobre o que realmente interessa, coisas tal como educação, saúde, segurança, infraestrutura, desemprego, etc. Pior, após algum tempo, e exatamente na época da eleição, se irá questionar todo o esforço feito para o evento, com vitória ou não da seleção canarinho.

O calcanhar de Aquiles da oposição ainda está na escolha de um nome que possa enfrentar o atual governo, vindo não só com críticas, que serão naturais no processo de uma eleição deste tamanho e importância, mas também com propostas viáveis. Diversas reformas são demandadas, a melhoria da infraestrutura é crítica, etc. Talvez o próprio governo tome a iniciativa e monte uma proposta se propondo a tal, fazendo um papel de “situação oposicionista” caso a oposição continue sem tomar uma posição mais concreta. Na falta de alternativa e embalada pela Copa (com ou sem vitória), a população certamente votaria no governo.

O quadro que está assim montado é de grande incerteza política, mas também de um debate certamente enorme, caso os atores, ou seja a população, se proponha a tal. Mais do que nunca os rumos do Brasil estarão na decisão do fim do ano (eleição) que será moldada pelos acontecimentos ao longo do ano.

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