Feira Livre
Uma das estórias antigas sobre política brasileira,
talvez mais lenda que estória, ou melhor mais boato que lenda, reza que votos
eram comprados nas cidades pequenas do Brasil pelo sistema de par de sapatos.
Um pé do par era fornecido antes da eleição e o outro após a vitória do
“comprador”. Mesmo com a alcunha de “boato”, diz a sabedoria popular que todo
boato tem lá o seu fundo de verdade. Não é minha pretensão julgar a chamada
República Velha, aquela que os revolucionarios de 1930, Getúlio Vargas a
frente, varreram para debaixo do tapete da História. Na República Velha era
endêmica a corrupção eleitoral, poder-se-ia dizer que parte do sistema. Seria
de se esperar que nos tempos atuais este tipo de coisa, compra de votos, maquiada
ou não, par de sapatos, vantagens pessoais não legais, etc, fosse coisa do
passado. A grande surpresa é encontrar no noticiario que é necessaria uma
verdadeira mobilização do poder público para coibir este tipo de prática, não
na República Velha, mas na eleição que estamos vivendo agora.
Quem compra voto, se o faz, é porque vai querer “recuperar
o investimento”, e esta “recuperação” só poderá ser feita com o uso (indevido)
do dinheiro público, ou seja, do dinheiro que pagamos na forma de impostos e da
degradação das areas em que o poder público é inoperante ou omisso quando
deveria ser atuante. Não preciso repetir mas o tempo todo vemos os candidatos
falando em saúde, educação, infraestrutura e segurança. Na verdade, eleição
vem, eleição vai, temos dois paises, o que é descrito nas promessas dos candidatos
e aquele em que vivemos. Se o eleitor duvida das minhas palavras, sugiro uma
breve leitura dos jornais ou ver o noticiario na TV.
Fica também a duvida, quanto será que vale um voto
neste “mercado livre”, verdadeira feira livre da imoralidade? Provavelmente bem
mais que um par de sapatos do sistema antigo, ou será que tivemos uma
desvalorização do mercado por causa da lei da oferta e procura? Estas palavras
são duras mas a verdade é que um candidato que se propõe a comprar eleitores no
lugar de querer mostrar um passado de trabalho e propostas para o futuro, este
candidato não deveria ser candidato e sim ter um lugar no lixo da História.
Chegamos ao fim da campanha deste ano, pelo menos
para o primeiro turno. Para que o nosso voto tenha mais valor que o mero preço
de uma barraca de feira, e esperemos que tenha muito, muito mais valor do que
isso, precisamos escolher muito bem nosso candidatos, para podermos ser bem
representados nos centros de decisão, ainda mais que no final seremos nós que
iremos pagar a conta. É triste e degradante saber que um direito do cidadão
seja moeda de troca com se fosse um cacho de banana ou uma dúzia de laranjas.
Charles Chaplin no discurso final do filme “O
Grande Ditador” disse que “existem aqueles que tudo prometem mas nada cumprem e
pede para os soldados que lutem, lutem pelas democracias”. Certamente não
estamos numa guerra (muito embora correndo o risco de escutar o pessoal das
favelas do Rio de Janeiro me chamando de mentiroso), mas temos armas, e estas
armas são os nossos votos, com eles podemos mostrar o que queremos para o nosso
pais. Parodiando Chaplin eu diria para os meus colegas cidadãos da cidade e
região que escolhi para viver: “votem, votem pelo bem da democracia, democracia
esta pela qual tanto lutamos, luta esta para ter exatamente o direito de poder
usar esta arma tão poderosa e valiosa, o voto”.
Daqui a pouco, menos de uma semana, o silêncio irá
cair nas ruas e será a vez do povo falar. Foi com a mensagem das urnas que
pudemos mudar ou não muita coisa no nosso pais. Este momento não será excessão.
Precisamos mais do que nunca de lideres, de homens de decisão, enfim de
governantes e parlamentares dignos de ocuparem os cargos para os quais eles se
propõe. Com a palavra o eleitor.