sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Debate / Folha do Sul - 15.Setembro.2014



O Debate

Faltando menos de três semanas para a eleição, estamos diante de um quadro ainda muito cheio de indefinições. Aparentemente não irão ocorrer mais as grandes oscilações anteriores mas devido ao fato de muitos candidatos estarem praticamente empatados mesmo pequenas variações no humor do eleitorado podem acabar definindo a disputa, pelo menos no que se refere ao primeiro turno. No segundo turno irá pesar bastante o fator “rejeição”. Não será surpresa que candidatos hoje em segundo ou terceiro lugar acabem ganhando na reta final do segundo turno. Isso explica a posição mais do que cautelosa de todos os partidos, bem longe do clima de oba oba.
Em um clima de extrema disputa tal como temos agora, a velha politicagem eleitoral entra em cena deixando de lado o muito mais sadio debate de ideias. A maior vítima sendo como sempre o eleitor. Troca de acusações, denuncias, dedos em riste uns nos outros, etc. Temos enfim uma campanha no mesmo estilo das anteriores. Certo que o currículo dos candidatos ajuda mas seria muito mais coerente sabermos quais as suas proposições. Passado é bom para os historiadores, temos que pensar no presente e no futuro. Um currículo minimamente sem problemas já está de bom tamanho. Precisamos acreditar que a cultura do “rouba mas faz”, “é bandido mas vai se eleger”, “é um bom candidato mas não conseguirá”, etc, será posta cada vez mais no passado. Um pais moderno precisa de lideranças com coragem e não de politiqueiros que pensam apenas nos seus interesses particulares imediatos.
Dentro deste quadro, soa como bastante significativo o silêncio do cidadão comum. Apanhado no meio da troca de acusações, tiroteio este que acaba tendo o mesmo efeito de uma bala perdida, entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Preocupante que uma eleição de tal peso acabe por causa disso sendo bastante ignorada pelo cidadão que será mais tarde atingido pelas decisões dos candidatos eleitos.
O debate em torno da proposta de maior autonomia ou independência do Banco Central está dentro desta vertente. Por ter sido posto no debate, nada mais natural que os lados da disputa se posicionassem. O embate de ideias ia muito bem (obrigado) até que resolveram começar as acusações, seus interesses para cá, os outros interesses para lá. Ficou parecendo até a música da Elis Regina (“dois pra lá, dois pra cá”,♫). Será muito difícil, mesmo com um rol de acusações sérias, conseguir mudar a cabeça dos eleitores que já decidiram o seu voto, faltando poucos dias para a eleição. Com a diminuição do debate em favor da guerra de acusações, menos ainda poderá ser feito para as cobranças das promessas uma vez encerrada a disputa. Seria interessante saber quais as razões que levam um(a) candidato(a) ou outro(a) a terem uma determinada posição, como esta relativa ao Banco central, e como eles pretendem administrar isto.
O Banco Central norte-americano, ou Federal Reserve como é chamado, goza de uma autonomia digna de um poder de estado e isto foi fruto de décadas de debate, a célebre contenda entre a “fronteira” e o leste. A intenção lá foi evitar que a política de estado tenha um poder de intervenção maior em decisões de cunho eminentemente técnico e com isso evitar inflação e/ou quebradeira pelo mau uso da política financeira. Certamente que o Brasil não é os Estados Unidos e a célebre frase “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil” teve o seu registro mais que perpétuo no FEBEAPÁ (Festival das besteiras que assolam o pais). Contudo tentar entender as razões desta política lá e em outros países para podermos encontrar nossas próprias soluções é com certeza bastante salutar.
Os votos indecisos e em branco ainda perfazem quase dez porcento. Poderão ainda decidir muitos dos cargos em disputa. Certamente que propostas positivas em vez de ataques negativos deverão ser muito mais levados em conta por esta parte do eleitorado. Fica o registro positivo que pelo menos alguns dos candidatos deixaram bem clara a sua posição no que se refere pelo menos ao Banco Central sem aquelas enrolações da política enlatada. O eleitorado certamente agradece emocionado.

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