O Debate
Faltando menos de três semanas para a eleição,
estamos diante de um quadro ainda muito cheio de indefinições. Aparentemente
não irão ocorrer mais as grandes oscilações anteriores mas devido ao fato de
muitos candidatos estarem praticamente empatados mesmo pequenas variações no
humor do eleitorado podem acabar definindo a disputa, pelo menos no que se
refere ao primeiro turno. No segundo turno irá pesar bastante o fator
“rejeição”. Não será surpresa que candidatos hoje em segundo ou terceiro lugar
acabem ganhando na reta final do segundo turno. Isso explica a posição mais do
que cautelosa de todos os partidos, bem longe do clima de oba oba.
Em um clima de extrema disputa tal como temos
agora, a velha politicagem eleitoral entra em cena deixando de lado o muito
mais sadio debate de ideias. A maior vítima sendo como sempre o eleitor. Troca
de acusações, denuncias, dedos em riste uns nos outros, etc. Temos enfim uma
campanha no mesmo estilo das anteriores. Certo que o currículo dos candidatos
ajuda mas seria muito mais coerente sabermos quais as suas proposições. Passado
é bom para os historiadores, temos que pensar no presente e no futuro. Um currículo minimamente sem problemas já está de bom tamanho. Precisamos
acreditar que a cultura do “rouba mas faz”, “é bandido mas vai se eleger”, “é
um bom candidato mas não conseguirá”, etc, será posta cada vez mais no passado.
Um pais moderno precisa de lideranças com coragem e não de politiqueiros que
pensam apenas nos seus interesses particulares imediatos.
Dentro deste quadro, soa como bastante significativo
o silêncio do cidadão comum. Apanhado no meio da troca de acusações, tiroteio
este que acaba tendo o mesmo efeito de uma bala perdida, entrando por um ouvido
e saindo pelo outro. Preocupante que uma eleição de tal peso acabe por causa
disso sendo bastante ignorada pelo cidadão que será mais tarde atingido pelas
decisões dos candidatos eleitos.
O debate em torno da proposta de maior autonomia ou
independência do Banco Central está dentro desta vertente. Por ter sido posto
no debate, nada mais natural que os lados da disputa se posicionassem. O embate
de ideias ia muito bem (obrigado) até que resolveram começar as acusações, seus
interesses para cá, os outros interesses para lá. Ficou parecendo até a música
da Elis Regina (“dois pra lá, dois pra cá”,♫). Será muito difícil, mesmo com um
rol de acusações sérias, conseguir mudar a cabeça dos eleitores que já
decidiram o seu voto, faltando poucos dias para a eleição. Com a diminuição do
debate em favor da guerra de acusações, menos ainda poderá ser feito para as
cobranças das promessas uma vez encerrada a disputa. Seria interessante saber
quais as razões que levam um(a) candidato(a) ou outro(a) a terem uma
determinada posição, como esta relativa ao Banco central, e como eles pretendem
administrar isto.
O Banco Central norte-americano, ou Federal Reserve
como é chamado, goza de uma autonomia digna de um poder de estado e isto foi
fruto de décadas de debate, a célebre contenda entre a “fronteira” e o leste. A
intenção lá foi evitar que a política de estado tenha um poder de intervenção maior
em decisões de cunho eminentemente técnico e com isso evitar inflação e/ou
quebradeira pelo mau uso da política financeira. Certamente que o Brasil não é
os Estados Unidos e a célebre frase “o que é bom para os EUA é bom para o
Brasil” teve o seu registro mais que perpétuo no FEBEAPÁ (Festival das
besteiras que assolam o pais). Contudo tentar entender as razões desta política
lá e em outros países para podermos encontrar nossas próprias soluções é com
certeza bastante salutar.
Os votos indecisos e em branco ainda perfazem quase
dez porcento. Poderão ainda decidir muitos dos cargos em disputa. Certamente
que propostas positivas em vez de ataques negativos deverão ser muito mais
levados em conta por esta parte do eleitorado. Fica o registro positivo que
pelo menos alguns dos candidatos deixaram bem clara a sua posição no que se
refere pelo menos ao Banco Central sem aquelas enrolações da política enlatada.
O eleitorado certamente agradece emocionado.
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