segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Racismo / Folha do Sul - 8.Setembro.2014



Racismo

Entre os estudiosos do assunto existe o consenso firme e forte de que a origem do homem foi na África. Não só pelos restos arqueológicos extremamente antigos, mas também porque a maior diversidade genética humana se encontra lá. Em um lugar de colonização humana tão antiga seria de se esperar também uma rica história e na verdade assim é. Muitas vezes pouco é dito sobre isto, o que é uma grande injustiça com a herança que trazemos deste continente. Apenas para citar alguns pontos mas muito longe de esgotar o assunto: Egito, Cartago, os reinos negros do interior do continente e mais recentemente o fim do regime racista do apartheid na África do Sul. A rainha de Sabá da Bíblia é oriunda do sul do Egito e uma das mais famosas e antigas universidades do mundo (Timbuktu) fica ao sul do deserto do Saara.
O advento das grandes navegações no Século XV trouxe uma série de maldições para o Continente Africano. A mais perniciosa de todas e que tem efeitos até hoje foi a escravidão. Milhões de seres humanos foram capturados em seus locais de origem e trazidos ao Novo Mundo para serem submetidos a um regime de trabalho forçado. Muitos pereceram na travessia e se sobrevivessem, nas condições de trabalho a que foram submetidos nas plantations, o normal seria sobreviver por cerca de dez anos. Particularmente a Coroa Portuguesa incentivava a escravidão dos africanos e não a dos nativos locais, pois com o tráfico africano era possível cobrar taxas (pesadas) na entrada da “mercadoria” o que não seria possível ou muito difícil com o tráfico indígena. Criou-se o mito do “índio preguiçoso” para justificar isto mas na verdade nas ocasiões em que o tráfico negreiro foi quebrado como nas invasões holandesas, os bandeirantes paulistas não viram nenhum problema em ir “caçar” os índios, particularmente aqui no sul.
A herança cultural dos africanos que foram trazidos e de seus descendentes no nosso pais é também enorme. Desnecessário falar de samba, do colorido das roupas em Salvador, dos nomes e muito mais. Na parte técnica pouco se fala, mas a pouca produção de aço que existiu no Brasil até o advento das modernas siderúrgicas foi com tecnologia africana trazida pelos escravos. A bravura dos afrodescendentes sempre foi lendária e apenas a falta de união política, mesmo problema dos nativos, é que fez com que o predomínio dos portugueses fosse o vencedor. Mas não sem que o afrodescendente não deixasse de dar muita dor de cabeça ao luso e sem deixar de lembrar o valor deles, afrodescendentes. O Quilombo dos Palmares será sempre o símbolo marco desta luta. Aqui no Rio Grande do Sul temos o episódio do massacre das tropas negras ao fim da Revolução Farroupilha, evento que deveria ter mais atenção dos historiadores, pois mostra o quanto eles foram importantes nesta luta. Se não fossem importantes e decisivos não teriam sido alvo de tanta covardia.
Com o fim da escravidão (e mesmo antes) começa a ocorrer a natural ascensão do elemento afrodescendente. Fruto de muita luta, mais do que nunca, temos pessoas orgulhosas de estarem, com muito custo, subindo a escala social. Hoje temos em toda a sociedade brasileira a contribuição de pessoas cuja única diferença é ter um pouco mais de melanina na pele e que são tão humanos como qualquer pessoa. Para quem duvida disto, é certo que a possibilidade do Sr. Joaquim Barbosa, ministro e ex-presidente do Supremo, se candidatar a presidente causou um bocado de dor de cabeça em certos setores políticos, pois sua votação seria com certeza enorme.
Os episódios recentes, de demonstração de racismo em estádios, estão sendo, felizmente, repudiados pela sociedade brasileira. Insultar uma pessoa por ela ter alguma diferença na aparência é no mínimo lastimável. Mesmo o termo usado (macaco) é altamente problemático. Seria interessante lembrar que existem raças destes animais (os bonobos) que não matam o seu semelhante tal como a raça conhecida como Homo Sapiens ou humanos, que muitas vezes não vacila em assassinar o seu próximo, quase sempre por motivos mais que tolos e banais. Fica apenas a preocupação de uma reação excessiva em cima de uma pessoa só ou pior, uma punição coletiva. Desnecessário lembrar que vários jogadores do time em questão são eles mesmos afrodescendentes.

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