Números
Uma brincadeira de aula de estatística é que a
melhor definição de média aritmética é se quisermos saber a altura média entre
uma pessoa alta e outra baixa, devemos cortar a cabeça da alta e colocar em
cima da baixa. Assim teríamos um monstro que nada diz mas que representa o meio
do caminho entre um e outro. O problema com estatísticas é de elas
representarem muitas vezes exatamente isto: monstros que não conseguimos
entender. Mas se ao longo do tempo estes números se mantém, algo está
certamente acontecendo e o monstro da imaginação pode ser repentinamente real.
Contudo, médias ou não, fatos são fatos, e não
podem ser escondidos, pelo menos não de todos o tempo todo, mesmo que pareçam
monstros para alguns. A divulgação dos últimos dados da economia brasileira
pelos institutos de pesquisa, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) a frente, demonstraram o que já era do sentimento de todos: que
estamos numa recessão. A definição pelos entendidos é de que dois trimestres consecutivos
de crescimento negativo já denotam uma recessão. Alguns tentam amenizar a
situação, classificando a mesma como “recessão técnica” enquanto o governo diz
que isto é coisa passageira. Por outro lado parte da oposição procura tirar
proveito da situação ampliando ao máximo isso e a outra parte diz que a culpa é
do governo e também da parte que quer ampliar o problema. Enfim, quem está no
meio deste tiroteio de desculpas e acusações se sente bem perdido.
Junto com os números de recessão, temos os problemas
de sempre que acompanham a diminuição do ritmo econômico: uma inflação que
ainda está em níveis civilizados (muito embora uma ida ao supermercado está se
tornando cada vez mais um exercício de ginástica financeira) e um nível de
emprego que tem todas as características de estagnação. Os problemas se agravam
com um nível de endividamento grande da população. Mesmo que novas linhas de
crédito fossem liberadas, provavelmente a tendência da maioria seria
simplesmente empurrar a vida para a frente, pegando um empréstimo para pagar
outro sem criar expectativas de demanda por produtos e serviços. Sem esta
expectativa, as empresas provavelmente tomarão a decisão de demitir parte do
seu quadro de funcionários. Com o desemprego resultante, menos mercado consumidor,
e temos assim a possibilidade de entrarmos em um círculo vicioso pelo qual já
passamos nos últimos anos, a chamada estagflação, onde temos combinados
recessão, desemprego e inflação.
Num quadro de disputa eleitoral, nada pior que uma
situação destas. Farpas serão certamente trocadas e na verdade já o estão
sendo. O governo ficando numa situação delicada e pior, fragilizado. Se a
oposição faz críticas, importante que também apresente as soluções. Num
panorama destes, só resta ao eleitor tentar entender a situação para poder
tomar uma decisão consciente.
Os números desta semana também não foram favoráveis
para Bagé e região. Tivemos um aumento insignificante na população, abaixo do
aumento (em termos percentuais) da população brasileira. O significado disto é
que a migração de famílias para fora da cidade e da região continua a ocorrer,
com menos força, é verdade, mas continua. A falta de oportunidades e o baixo
nível dos empregos que são criados por aqui sendo a provável raiz do problema.
Lamentavelmente o clima de estagnação na nossa
economia continua a ser o nosso grande estigma, quebrado apenas aqui e ali na
serie histórica. De 2010 a 2014, a economia brasileira se manteve praticamente
nos mesmos 2 trilhões de dólares. Em comparação, a economia chinesa subiu de 6
para 8 trilhões de dólares. Um grande avanço seria saber quais as alternativas
que teríamos para sair desta situação. Deixo esta parte para o debate eleitoral
em que estamos imersos. Com a palavra os políticos.
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