segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Números / Folha do Sul - 1.Setembro.2014



Números

Uma brincadeira de aula de estatística é que a melhor definição de média aritmética é se quisermos saber a altura média entre uma pessoa alta e outra baixa, devemos cortar a cabeça da alta e colocar em cima da baixa. Assim teríamos um monstro que nada diz mas que representa o meio do caminho entre um e outro. O problema com estatísticas é de elas representarem muitas vezes exatamente isto: monstros que não conseguimos entender. Mas se ao longo do tempo estes números se mantém, algo está certamente acontecendo e o monstro da imaginação pode ser repentinamente real.
Contudo, médias ou não, fatos são fatos, e não podem ser escondidos, pelo menos não de todos o tempo todo, mesmo que pareçam monstros para alguns. A divulgação dos últimos dados da economia brasileira pelos institutos de pesquisa, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a frente, demonstraram o que já era do sentimento de todos: que estamos numa recessão. A definição pelos entendidos é de que dois trimestres consecutivos de crescimento negativo já denotam uma recessão. Alguns tentam amenizar a situação, classificando a mesma como “recessão técnica” enquanto o governo diz que isto é coisa passageira. Por outro lado parte da oposição procura tirar proveito da situação ampliando ao máximo isso e a outra parte diz que a culpa é do governo e também da parte que quer ampliar o problema. Enfim, quem está no meio deste tiroteio de desculpas e acusações se sente bem perdido.
Junto com os números de recessão, temos os problemas de sempre que acompanham a diminuição do ritmo econômico: uma inflação que ainda está em níveis civilizados (muito embora uma ida ao supermercado está se tornando cada vez mais um exercício de ginástica financeira) e um nível de emprego que tem todas as características de estagnação. Os problemas se agravam com um nível de endividamento grande da população. Mesmo que novas linhas de crédito fossem liberadas, provavelmente a tendência da maioria seria simplesmente empurrar a vida para a frente, pegando um empréstimo para pagar outro sem criar expectativas de demanda por produtos e serviços. Sem esta expectativa, as empresas provavelmente tomarão a decisão de demitir parte do seu quadro de funcionários. Com o desemprego resultante, menos mercado consumidor, e temos assim a possibilidade de entrarmos em um círculo vicioso pelo qual já passamos nos últimos anos, a chamada estagflação, onde temos combinados recessão, desemprego e inflação.
Num quadro de disputa eleitoral, nada pior que uma situação destas. Farpas serão certamente trocadas e na verdade já o estão sendo. O governo ficando numa situação delicada e pior, fragilizado. Se a oposição faz críticas, importante que também apresente as soluções. Num panorama destes, só resta ao eleitor tentar entender a situação para poder tomar uma decisão consciente.
Os números desta semana também não foram favoráveis para Bagé e região. Tivemos um aumento insignificante na população, abaixo do aumento (em termos percentuais) da população brasileira. O significado disto é que a migração de famílias para fora da cidade e da região continua a ocorrer, com menos força, é verdade, mas continua. A falta de oportunidades e o baixo nível dos empregos que são criados por aqui sendo a provável raiz do problema.
Lamentavelmente o clima de estagnação na nossa economia continua a ser o nosso grande estigma, quebrado apenas aqui e ali na serie histórica. De 2010 a 2014, a economia brasileira se manteve praticamente nos mesmos 2 trilhões de dólares. Em comparação, a economia chinesa subiu de 6 para 8 trilhões de dólares. Um grande avanço seria saber quais as alternativas que teríamos para sair desta situação. Deixo esta parte para o debate eleitoral em que estamos imersos. Com a palavra os políticos.

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