A Nossa Guerra
Cinquenta mil mortes. Vou repetir o número:
Cinquenta mil! Ao se visitar Washington Capital, a visita ao monumento a
Lincoln faz com que também seja necessária uma caminhada pelo monumento aos
mortos da guerra da Coreia e do Vietnã. Ambos os monumentos mostram a lembrança
de que guerras são um monumento a estupidez humana. Particularmente o memorial
da guerra do Vietnã mostra o nome dos cinquenta mil norte americanos que
morreram na aventura. Estes números até hoje provocam comoção na sociedade
americana. A pergunta que não quer calar se refere ao porque, não esclarecido,
dos Estados Unidos terem se envolvido no tal conflito. Tantas mortes para nada.
Por incrível que pareça, este é o número das mortes
nas estradas brasileiras, não o total de uma guerra, mas o total em apenas um
ano. Estes números são gritantes, chocantes e preocupantes. Em dez anos, um
total de meio milhão de brasileiros é morto nas estradas. Também não podemos
esquecer as pessoas que ficam mutiladas ou incapacitadas, ou ambos.
Particularmente nas grandes capitais, a impressão
que se tem no trânsito é de se estar realmente em terra de ninguém. Vale-tudo,
abusos ao volante, desrespeito aos demais, etc, são atitudes normais e acabamos
aceitando isto como coisa normal quando na verdade o abuso de uma pessoa é o
desrespeito de outra. Um transito mais tranquilo seria do interesse de todos. O
fim da atitude de que atrás do volante o cidadão se acha o dono do mundo seria
uma melhoria tremenda no padrão de vida de toda a coletividade.
Esta situação tem melhorado apenas através do
endurecimento das autoridades. Leis novas tem sido passadas. Álcool agora é
crime para o motorista pego dirigindo embriagado. Uma nova postura da sociedade
melhorou consideravelmente este quadro, mas muito ainda precisa ser feito. Mais
policiamento e uma aplicação mais rigorosa das leis já existentes certamente
terão como resultado uma diminuição das infrações e atitudes perigosas por
parte de motoristas imprevidentes.
Necessário lembrar que todos nós, motoristas ou
pedestres, infratores ou não, de qualquer classe social, idade, sexo, etc.
Enfim, todos, somos potenciais vítimas desta guerra que está debaixo dos nossos
olhos. Achamos doenças como o câncer algo terrível. Mas o que será que hoje
causa maiores dores numa comunidade, particularmente morte ou mutilação (e
principalmente entre jovens): doenças ou o transito? A diferença é que enquanto
doenças como o câncer dependem de pesquisas, o transito pode ser curado, ou
pelo menos minimizados seus problemas.
Uma mudança de atitude terá que ocorrer para que as
coisas melhorem. Para que ocorra, certamente um empenho das autoridades irá
fazer parte disto assim como uma mudança por parte do coletivo.
Certamente ter um carro é algo importante e
praticamente essencial no mundo moderno. Mas a aquisição de um carro não é ter
direito de colocar a vida alheia em perigo, ou pior, de tira-la.
Deixo minha solidariedade com as famílias que foram
vítimas de tragédias no transito. Tragédias que poderiam ter sido, na maioria
das vezes, evitada. Que estas mortes sirvam pelo menos para mostrar que uma lei
mais rigorosa teria o benefício de evitar que tenhamos mais famílias enlutadas.