Origem da Diferença
Se pudéssemos voltar no tempo uns 250 anos, mais ou
menos 1750. Com certeza iríamos encontrar um mundo muito diferente em termos de
civilização. A Revolução Americana ainda está um quarto de século a frente, a
Europa é o paraíso dos regimes absolutistas, quase tudo de origem manufaturada
é feito de forma artesanal em casa por um sistema que os estudiosos no futuro
(nosso presente) iriam chamar de sistema doméstico. A imensa maioria da
população no mundo todo é analfabeta e vive no campo. Existe muita controvérsia
mas em geral se admite que a média de vida neste período não chega a quarenta
anos, alguns autores falam mesmo em trinta anos.
Então algo acontece! Começando exatamente nesta
época na Inglaterra e em seguida se espalhando pelo mundo, principalmente no
inicio na França, Alemanha e norte das Colônias (ou Nova Inglaterra, hoje
região entre Boston e Nova York). O sistema doméstico começa a ser substituído
pela fábrica e pelo capitalismo moderno. A sociedade se torna em todos os ramos
sedenta por novidades e por produtos mais baratos. O choque que esta mudança
provocou foi tão grande e poderoso que ainda hoje temos dificuldade em absorver
alguns dos aspectos desta mudança.
A Inglaterra, origem da mudança e deste novo modo
de produção, é também sede do inicio de uma serie de mudanças, revoluções
políticas, novas leis, sindicatos, etc. Uma serie de eventos ocorrem e novas
instituições aparecem nesta ilha ao norte da Europa que em poucos anos ela se
torna o pais mais poderoso do planeta, com um exército e uma esquadra
praticamente imbatíveis na época. Talvez a Inglaterra seja o primeiro e melhor
exemplo de que modernas instituições tais como sindicatos, liberdade de
imprensa e sistema legais modernos são uma necessidade e algo inevitável no
mundo moderno. Todas as tentativas no sentido de coibir estas instituições
acabam levando ao atraso ou a agitações e problemas sociais. Se olharmos o mapa
do Mundo atual veremos que querer se manter em regimes fechados como Coreia do
Norte apenas leva a atraso ou mesmo a fome em grande escala.
Mas a Inglaterra cometeu um erro. Deixaram uma área
se atrasar: educação. Ao final do Século dezenove a Alemanha e os Estados
Unidos tinham um sistema educacional, em todos os níveis, de vento em popa. A
indústria inglesa começa a ficar atrasada enquanto Alemanha e Estados Unidos se
destacam. Os ressentimentos e choque de interesses vão desembocar na Primeira
Guerra Mundial. Um nome errado já que foi essencialmente uma guerra europeia. O
choque entre Alemanha e Inglaterra / França só seria resolvido com a entrada
dos Estados Unidos ao lado da Inglaterra. Mas o impacto do investimento em
educação e pesquisa já tinha ficado bem claro para as camadas dirigentes mundo
afora. Não fosse o processo de obtenção de amônia/nitrato desenvolvido na Alemanha
em 1913, a mesma não teria condição de se manter na guerra nem por um ano pois
a frota inglesa tinha cortado o fornecimento do guano chileno, fonte natural de
nitratos, necessários à manufatura da pólvora. A indústria americana também
demonstra uma força enorme na época em áreas como petróleo e aço. A pesquisa em
áreas estratégicas tais como engenharia química e produção é feito
incessantemente em instituições tais como o MIT na Nova Inglaterra. Com levas
de estudantes se formando nas escolas de ensino básico e médio, estas
instituições só precisam se dar ao trabalho de pegar os mais brilhantes.
A Inglaterra se torna pouco a pouco uma potência
menor e isto que irá se refletir ao longo do século XX. O processo de
descolonização iniciado com a independência da Índia em 1947, será repetido em
todo o mundo nos próximos trinta anos. Seus reflexos e consequências ainda
estão longe de poder ser totalmente avaliados, mas uma coisa ficou bastante
certa para todas as elites esclarecidas mundo afora: o investimento na
população em educação e pesquisa é altamente vantajoso e que elas, elites,
teriam que se adaptar às mudanças inevitáveis nas estruturas antigas, agora
tornadas arcaicas. Hoje, no Brasil ainda estamos no meio desta transição,
enorme em tamanho, pois somos um pais continental e muito há a ser feito.
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