terça-feira, 8 de abril de 2014

Origem da Diferença / Folha do Sul - 24.Março.2014



Origem da Diferença

Se pudéssemos voltar no tempo uns 250 anos, mais ou menos 1750. Com certeza iríamos encontrar um mundo muito diferente em termos de civilização. A Revolução Americana ainda está um quarto de século a frente, a Europa é o paraíso dos regimes absolutistas, quase tudo de origem manufaturada é feito de forma artesanal em casa por um sistema que os estudiosos no futuro (nosso presente) iriam chamar de sistema doméstico. A imensa maioria da população no mundo todo é analfabeta e vive no campo. Existe muita controvérsia mas em geral se admite que a média de vida neste período não chega a quarenta anos, alguns autores falam mesmo em trinta anos.
Então algo acontece! Começando exatamente nesta época na Inglaterra e em seguida se espalhando pelo mundo, principalmente no inicio na França, Alemanha e norte das Colônias (ou Nova Inglaterra, hoje região entre Boston e Nova York). O sistema doméstico começa a ser substituído pela fábrica e pelo capitalismo moderno. A sociedade se torna em todos os ramos sedenta por novidades e por produtos mais baratos. O choque que esta mudança provocou foi tão grande e poderoso que ainda hoje temos dificuldade em absorver alguns dos aspectos desta mudança.
A Inglaterra, origem da mudança e deste novo modo de produção, é também sede do inicio de uma serie de mudanças, revoluções políticas, novas leis, sindicatos, etc. Uma serie de eventos ocorrem e novas instituições aparecem nesta ilha ao norte da Europa que em poucos anos ela se torna o pais mais poderoso do planeta, com um exército e uma esquadra praticamente imbatíveis na época. Talvez a Inglaterra seja o primeiro e melhor exemplo de que modernas instituições tais como sindicatos, liberdade de imprensa e sistema legais modernos são uma necessidade e algo inevitável no mundo moderno. Todas as tentativas no sentido de coibir estas instituições acabam levando ao atraso ou a agitações e problemas sociais. Se olharmos o mapa do Mundo atual veremos que querer se manter em regimes fechados como Coreia do Norte apenas leva a atraso ou mesmo a fome em grande escala.
Mas a Inglaterra cometeu um erro. Deixaram uma área se atrasar: educação. Ao final do Século dezenove a Alemanha e os Estados Unidos tinham um sistema educacional, em todos os níveis, de vento em popa. A indústria inglesa começa a ficar atrasada enquanto Alemanha e Estados Unidos se destacam. Os ressentimentos e choque de interesses vão desembocar na Primeira Guerra Mundial. Um nome errado já que foi essencialmente uma guerra europeia. O choque entre Alemanha e Inglaterra / França só seria resolvido com a entrada dos Estados Unidos ao lado da Inglaterra. Mas o impacto do investimento em educação e pesquisa já tinha ficado bem claro para as camadas dirigentes mundo afora. Não fosse o processo de obtenção de amônia/nitrato desenvolvido na Alemanha em 1913, a mesma não teria condição de se manter na guerra nem por um ano pois a frota inglesa tinha cortado o fornecimento do guano chileno, fonte natural de nitratos, necessários à manufatura da pólvora. A indústria americana também demonstra uma força enorme na época em áreas como petróleo e aço. A pesquisa em áreas estratégicas tais como engenharia química e produção é feito incessantemente em instituições tais como o MIT na Nova Inglaterra. Com levas de estudantes se formando nas escolas de ensino básico e médio, estas instituições só precisam se dar ao trabalho de pegar os mais brilhantes.
A Inglaterra se torna pouco a pouco uma potência menor e isto que irá se refletir ao longo do século XX. O processo de descolonização iniciado com a independência da Índia em 1947, será repetido em todo o mundo nos próximos trinta anos. Seus reflexos e consequências ainda estão longe de poder ser totalmente avaliados, mas uma coisa ficou bastante certa para todas as elites esclarecidas mundo afora: o investimento na população em educação e pesquisa é altamente vantajoso e que elas, elites, teriam que se adaptar às mudanças inevitáveis nas estruturas antigas, agora tornadas arcaicas. Hoje, no Brasil ainda estamos no meio desta transição, enorme em tamanho, pois somos um pais continental e muito há a ser feito.

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