terça-feira, 8 de abril de 2014

A Mesa / Folha do Sul - 7.Abril.2014



A Mesa

Para que estudar História? Entre muitas coisas, é com o conhecimento do passado que podemos evitar cometer os mesmos erros, entender o presente e planejar o futuro. Seres humanos são elementos sociais e como tal, parte de comunidades, desde a mais primitiva tribo até a mais avançada civilização. Nos grupamentos humanos, a comunicação entre os elementos componentes é parte fundamental. Com a comunicação surge a etapa seguinte que é a negociação entre os elementos do grupo. O estudo da História Humana nos mostra que nossos erros e acertos provem do nosso contato uns com os outros e da forma como estabelecemos nossas relações, pessoais, comerciais, trabalhistas, etc. Estas relações são de certa maneira provindas de negociações, negociações estas que podem ter ocorrido há muito tempo atrás.
Um dos melhores exemplos de como uma negociação pode ser péssima nos leva de volta ao Tratado de Versalhes celebrado ao fim da Primeira Guerra Mundial. As potências europeias vencedoras (Inglaterra e França) quiseram impor aos derrotados (Alemanha) um acordo com cláusulas leoninas. Os motivos que tinham levado os países em questão a um massacre mútuo continuavam no mesmo lugar sem solução. Além disso obrigaram a Alemanha a pagar uma indenização absurda. Keynes, que havia participado das negociações, ficou horrorizado com aquilo, chamando o acordo de Paz Cartaginesa e que a Europa como um todo estava se punindo a si mesma. Como resultado do tal acordo, a Alemanha entrou em uma crise profunda nos anos que se seguiram a guerra. A ascensão dos nazistas e a Segunda Guerra tem assim as suas raízes na Primeira Guerra Mundial. Todo um conjunto de problemas foi mantido sem solução e pelo contrario, agravado pela teimosia dos países vencedores que se julgavam capazes de tudo. A intransigência a nível de governo apenas piorou os problemas em vez de soluciona-los. No fim da Segunda Guerra, aparentemente as lições tinham sido aprendidas pois apesar da rendição incondicional da Alemanha, projetos foram feitos para ajudar a reconstruir a Europa devastada (ao invés de punições) e toda uma nova situação política surgiu sem as tensões existentes de antes. O fim de rivalidades tradicionais, como entre Alemanha e França, e acordos de integração europeia são o resultado de um entendimento mútuo em que as partes conseguem se entender e também reconhecem os interesses de cada componente da negociação.
A preocupação na nossa comunidade se refere à greve dos funcionários municipais, agora engrossada com a greve dos técnicos da Universidade Federal do Pampa. O que chama a atenção é como os problemas se repetem todos os anos sem solução. Parecemos não aprender neste ponto com o passado. Não é minha pretensão aqui defender ou atacar nenhum dos lados. Como no caso dos europeus de cem anos atrás, temos uma situação em que dois lados tem os seus interesses e limitações. Da mesma forma, de nada irá adiantar se um dos lados quiser impor a sua vontade, com ou sem acordo formal, a situação irá continuar sem solução e poderá estar até mesmo pior daqui a um tempo, voltando tudo de novo. Se alguém duvida disto então porque será que sempre temos problemas no setor público? Ano após ano, a situação se repete. A conversa, o diálogo e a negociação, com uma boa dose de boa vontade, parecem ser o único caminho ao invés de um endurecimento das partes.
Um setor público forte é do interesse de todos. Professores desestimulados apenas levam a uma má educação das crianças, os trabalhadores de amanhã, uma policia sem o devido reconhecimento gera como consequência os problemas de segurança que todos nós conhecemos, e assim por diante.
A abertura de um dialogo, dialogo este construtivo, e que neste dialogo surjam negociações com um viés positivo e que se tente resolver as raízes dos problemas são necessidades de primeira linha hoje na nossa comunidade da fronteira.

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