A Mesa
Para que estudar História? Entre muitas coisas, é
com o conhecimento do passado que podemos evitar cometer os mesmos erros,
entender o presente e planejar o futuro. Seres humanos são elementos sociais e
como tal, parte de comunidades, desde a mais primitiva tribo até a mais
avançada civilização. Nos grupamentos humanos, a comunicação entre os elementos
componentes é parte fundamental. Com a comunicação surge a etapa seguinte que é
a negociação entre os elementos do grupo. O estudo da História Humana nos
mostra que nossos erros e acertos provem do nosso contato uns com os outros e
da forma como estabelecemos nossas relações, pessoais, comerciais,
trabalhistas, etc. Estas relações são de certa maneira provindas de negociações,
negociações estas que podem ter ocorrido há muito tempo atrás.
Um dos melhores exemplos de como uma negociação
pode ser péssima nos leva de volta ao Tratado de Versalhes celebrado ao fim da
Primeira Guerra Mundial. As potências europeias vencedoras (Inglaterra e
França) quiseram impor aos derrotados (Alemanha) um acordo com cláusulas
leoninas. Os motivos que tinham levado os países em questão a um massacre mútuo
continuavam no mesmo lugar sem solução. Além disso obrigaram a Alemanha a pagar
uma indenização absurda. Keynes, que havia participado das negociações, ficou
horrorizado com aquilo, chamando o acordo de Paz Cartaginesa e que a Europa
como um todo estava se punindo a si mesma. Como resultado do tal acordo, a
Alemanha entrou em uma crise profunda nos anos que se seguiram a guerra. A
ascensão dos nazistas e a Segunda Guerra tem assim as suas raízes na Primeira
Guerra Mundial. Todo um conjunto de problemas foi mantido sem solução e pelo
contrario, agravado pela teimosia dos países vencedores que se julgavam capazes
de tudo. A intransigência a nível de governo apenas piorou os problemas em vez
de soluciona-los. No fim da Segunda Guerra, aparentemente as lições tinham sido
aprendidas pois apesar da rendição incondicional da Alemanha, projetos foram
feitos para ajudar a reconstruir a Europa devastada (ao invés de punições) e
toda uma nova situação política surgiu sem as tensões existentes de antes. O
fim de rivalidades tradicionais, como entre Alemanha e França, e acordos de
integração europeia são o resultado de um entendimento mútuo em que as partes
conseguem se entender e também reconhecem os interesses de cada componente da
negociação.
A preocupação na nossa comunidade se refere à greve
dos funcionários municipais, agora engrossada com a greve dos técnicos da
Universidade Federal do Pampa. O que chama a atenção é como os problemas se
repetem todos os anos sem solução. Parecemos não aprender neste ponto com o
passado. Não é minha pretensão aqui defender ou atacar nenhum dos lados. Como
no caso dos europeus de cem anos atrás, temos uma situação em que dois lados
tem os seus interesses e limitações. Da mesma forma, de nada irá adiantar se um
dos lados quiser impor a sua vontade, com ou sem acordo formal, a situação irá
continuar sem solução e poderá estar até mesmo pior daqui a um tempo, voltando
tudo de novo. Se alguém duvida disto então porque será que sempre temos
problemas no setor público? Ano após ano, a situação se repete. A conversa, o
diálogo e a negociação, com uma boa dose de boa vontade, parecem ser o único
caminho ao invés de um endurecimento das partes.
Um setor público forte é do interesse de todos.
Professores desestimulados apenas levam a uma má educação das crianças, os
trabalhadores de amanhã, uma policia sem o devido reconhecimento gera como consequência
os problemas de segurança que todos nós conhecemos, e assim por diante.
A abertura de um dialogo, dialogo este construtivo,
e que neste dialogo surjam negociações com um viés positivo e que se tente
resolver as raízes dos problemas são necessidades de primeira linha hoje na
nossa comunidade da fronteira.
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