Dependência
Na Antiguidade, dois mil anos atrás, a principal
fonte de energia era “solar”, ou seja agricultura. Alimentos eram plantados e
através de escravos e animais, transformados em energia útil. O “lucro” da
operação era auferido pelos donos dos escravos e animais. O ponto máximo deste
sistema ocorreu na Roma Antiga. Mas do ponto de vista de eficiência, um dos
piores sistemas, sob qualquer ponto de vista, econômico, social, humano, etc.
Aqui no Brasil, O Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e
Silva, tentou provar aos seus conterrâneos, escravocratas, que tal sistema era
anacrônico e ineficiente, sem sucesso infelizmente. O fim da escravidão teria
que esperar ainda meio século dentro do contexto de um Brasil já independente.
Na Europa feudal, fontes diferentes de energia
começam a aparecer. Moinhos de vento e rodas d’água são de uso cada vez mais
disseminado. Navios a vela se tornam muito mais eficientes. Os europeus não
teriam nenhuma chance em montar seus impérios com navios movidos a remo como as
antigas galés romanas. Este panorama vai perdurar, pelo menos na Europa, até o
inicio da Revolução Industrial.
Com a necessidade de maior eficiência na fabricação
de produtos e também o mercado ampliado, a necessidade de fontes de energia se
torna urgente. A máquina a vapor toma o cenário industrial na Europa ao longo
do século 19. A fonte de energia foi o carvão mineral. Conhecido há muito
tempo, só passa a ser usado como fonte energética na Inglaterra devido ao
extermínio sistemático que vinham sofrendo as florestas inglesas devido a
extração de lenha. O carvão mineral foi a principal fonte de energia até meados
do século 20. Hoje continua a ser uma das principais fontes e inclusive ensaia
uma volta triunfal como principal fonte energética.
No meio do século 19, uma nova fonte começa a ser
explorada, inicialmente não para uso em motores, mas apenas para iluminação.
Apesar de ser conhecido há milênios, devido a afloramento naturais, o petróleo
começa a ser explorado comercialmente após se provar a possibilidade de
exploração do mesmo em poços perfurados na terra. Durante quase 50 anos, apenas
a fração querosene era usada. Após uma destilação, muitas vezes em alambique,
todo o resto era jogado fora, sendo aproveitada apenas a fração para uso em
lamparinas.
O uso de motores a gasolina e a diesel mudou todo
este panorama. Muito mais eficientes que os motores a vapor com queima de
carvão ou lenha, estes novos atores tomam o cenário e se firmam como soberanos
mundiais ao longo do século 20. Surgem exatamente na hora em que com o advento
da luz elétrica, o uso de querosene começa a cair, particularmente nas grandes
cidades.
Outro ator surge junto! Muitas vezes associado ao
petróleo, outras sozinho, o gás natural acabou se tornando no final do século
20 mais uma das opções ao nosso dispor.
Hoje temos outras fontes de energia. Junto com a
milenar biomassa, temos hidráulica, eólica, solar, etc. Pouco a pouco cada vez
mais eficientes, particularmente a eólica. Mas continuamos com nossa dependência
com os combustíveis fosseis em geral (carvão, petróleo e gás) e com o petróleo
em particular. Atualmente todos os aspectos de nossas vidas são tocados por
eles. Sem eles não teríamos transporte, plásticos, mesmo fertilizantes no nível
de eficiência que permite que a sociedade moderna possa existir. Ficamos
dependentes a um nível que muitas vezes não nos damos conta.
Estas fontes fósseis apresentam problemas, o
principal é o fato de serem esgotáveis, ou seja não renováveis. Em particular o
petróleo é uma incógnita. O tamanho real das reservas é um segredo muito bem
guardado. As novas descobertas (sempre em lugares de extração cara e difícil,
tais como o ártico, sibéria, e mesmo o pré-sal brasileiro) não conseguem cobrir
atualmente o aumento da demanda. O reflexo disto são os preços sempre
crescentes. No nível de 100 dólares o barril, outras fontes, incluindo a solar,
se viabilizam! Não é surpresa que o preço do barril, no mercado mundial,
encontre seu equilíbrio na competição não entre os produtores de petróleo, mas
com as outras fontes de energia. Ao longo deste século novas mudanças irão
inevitavelmente retirar a coroa do rei petróleo e a pergunta, como em toda
sucessão imperial, é quem será o novo soberano!?