segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dependência - Folha do Sul / 29.Julho.2013



 Dependência

Na Antiguidade, dois mil anos atrás, a principal fonte de energia era “solar”, ou seja agricultura. Alimentos eram plantados e através de escravos e animais, transformados em energia útil. O “lucro” da operação era auferido pelos donos dos escravos e animais. O ponto máximo deste sistema ocorreu na Roma Antiga. Mas do ponto de vista de eficiência, um dos piores sistemas, sob qualquer ponto de vista, econômico, social, humano, etc. Aqui no Brasil, O Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, tentou provar aos seus conterrâneos, escravocratas, que tal sistema era anacrônico e ineficiente, sem sucesso infelizmente. O fim da escravidão teria que esperar ainda meio século dentro do contexto de um Brasil já independente.
Na Europa feudal, fontes diferentes de energia começam a aparecer. Moinhos de vento e rodas d’água são de uso cada vez mais disseminado. Navios a vela se tornam muito mais eficientes. Os europeus não teriam nenhuma chance em montar seus impérios com navios movidos a remo como as antigas galés romanas. Este panorama vai perdurar, pelo menos na Europa, até o inicio da Revolução Industrial.
Com a necessidade de maior eficiência na fabricação de produtos e também o mercado ampliado, a necessidade de fontes de energia se torna urgente. A máquina a vapor toma o cenário industrial na Europa ao longo do século 19. A fonte de energia foi o carvão mineral. Conhecido há muito tempo, só passa a ser usado como fonte energética na Inglaterra devido ao extermínio sistemático que vinham sofrendo as florestas inglesas devido a extração de lenha. O carvão mineral foi a principal fonte de energia até meados do século 20. Hoje continua a ser uma das principais fontes e inclusive ensaia uma volta triunfal como principal fonte energética.
No meio do século 19, uma nova fonte começa a ser explorada, inicialmente não para uso em motores, mas apenas para iluminação. Apesar de ser conhecido há milênios, devido a afloramento naturais, o petróleo começa a ser explorado comercialmente após se provar a possibilidade de exploração do mesmo em poços perfurados na terra. Durante quase 50 anos, apenas a fração querosene era usada. Após uma destilação, muitas vezes em alambique, todo o resto era jogado fora, sendo aproveitada apenas a fração para uso em lamparinas.
O uso de motores a gasolina e a diesel mudou todo este panorama. Muito mais eficientes que os motores a vapor com queima de carvão ou lenha, estes novos atores tomam o cenário e se firmam como soberanos mundiais ao longo do século 20. Surgem exatamente na hora em que com o advento da luz elétrica, o uso de querosene começa a cair, particularmente nas grandes cidades.
Outro ator surge junto! Muitas vezes associado ao petróleo, outras sozinho, o gás natural acabou se tornando no final do século 20 mais uma das opções ao nosso dispor.
Hoje temos outras fontes de energia. Junto com a milenar biomassa, temos hidráulica, eólica, solar, etc. Pouco a pouco cada vez mais eficientes, particularmente a eólica. Mas continuamos com nossa dependência com os combustíveis fosseis em geral (carvão, petróleo e gás) e com o petróleo em particular. Atualmente todos os aspectos de nossas vidas são tocados por eles. Sem eles não teríamos transporte, plásticos, mesmo fertilizantes no nível de eficiência que permite que a sociedade moderna possa existir. Ficamos dependentes a um nível que muitas vezes não nos damos conta.
Estas fontes fósseis apresentam problemas, o principal é o fato de serem esgotáveis, ou seja não renováveis. Em particular o petróleo é uma incógnita. O tamanho real das reservas é um segredo muito bem guardado. As novas descobertas (sempre em lugares de extração cara e difícil, tais como o ártico, sibéria, e mesmo o pré-sal brasileiro) não conseguem cobrir atualmente o aumento da demanda. O reflexo disto são os preços sempre crescentes. No nível de 100 dólares o barril, outras fontes, incluindo a solar, se viabilizam! Não é surpresa que o preço do barril, no mercado mundial, encontre seu equilíbrio na competição não entre os produtores de petróleo, mas com as outras fontes de energia. Ao longo deste século novas mudanças irão inevitavelmente retirar a coroa do rei petróleo e a pergunta, como em toda sucessão imperial, é quem será o novo soberano!?

terça-feira, 23 de julho de 2013

A Ponta do Iceberg - Folha do Sul / 22.Julho.2013



 A Ponta do Iceberg

Espionagem é uma atividade das mais antigas. Na Bíblia José acusa seus irmãos de espiões e Josué usa este serviço para saber como tomar Jericó. Da maneira como estas estórias são descritas, pode-se ver que isto já era naquela época algo bem sedimentado. De lá para cá as coisas se sofisticaram bastante. Alguns nomes e siglas conhecidos, reais ou de ficção: James Bond, Mata Hari, CIA, KGB, Mossad, etc. Todos com a intenção de saber informações vitais dos adversários. A inteligência se tornou crucial para o correto desempenho de operações militares ou até para o desfecho de guerras inteiras.
Com o advento do fenômeno conhecido como terrorismo, ou pelo menos aquilo que o sistema governante dominante considera como tal, a espionagem desenfreada em cima do próprio cidadão se tornou endêmica. Aqui no Brasil, o SNI da época da ditadura se tornou tristemente famoso. Escutas eram usadas de todo jeito e sem controle do Judiciário no intuito de proteger não os cidadãos, mas o sistema. Não um privilégio nosso, mas de todo e qualquer sistema ditatorial.
Nestes tempos de internet, ficou muito mais barato e abrangente fazer este tipo de coleta de dados. Cidadãos, empresas, governos, entidades não governamentais, enfim todo mundo é passível de estar sendo violado na sua privacidade.
A revelação que foi feita que o Governo Americano teria um sistema destes extremamente amplo (e pelo visto também extremamente ineficiente – vide atentados em Boston) choca, não pela revelação, mas por todo mundo se mostrar chocado de tomar conhecimento da mesma! Alguém teve alguma vez dúvida de que estes sistemas de espionagem existiam (coloco no plural de propósito)? Será que o governo americano seria o único a usar isso? Mais uma conspiração da CIA?
A existência de tais sistemas não deveria ser tema de surpresas, pois todo mundo, pelo menos por quem conhece minimamente a internet, sabe que existem maneiras de se interceptar mensagens ou de se introduzir virus em computadores alheios. Cavalos de Troia em todo sentido da palavra.
O rumo do debate poderia ser como iremos combater e cercear isto em vez de apenas apontarmos dedos. Espionagem dos cidadãos pelo sistema é algo tão danoso quanto cerceamento de ir e vir. Como lidar com isso à nível local, nacional e internacional? Estamos em águas novas, onde pouco sabemos das pedras abaixo da superfície.
A liberdade não pode ser sacrificada em nome da segurança, mas a segurança também não pode ser tolhida em nome da liberdade. Uma e outra precisam andar juntas. O ponto de equilíbrio desta estória precisa ficar sem que nos sintamos desamparados, mas que também tenhamos a percepção que temos liberdade, no amplo sentido da palavra.
Talvez o mais importante é que este debate comece, que possamos adaptar os ideais democráticos do iluminismo para tempos bem diferentes. Graças aos ensinamentos daqueles pensadores e filósofos (incluindo os revolucionários americanos!), pudemos romper com o passado de trevas e tirania total das sociedades que nos precederam. Que as lições aprendidas nos sirvam de degrau para podermos aprimorar o sistema social e político em que vivemos, em que a segurança do cidadão possa ser assegurada sem que sua liberdade individual, até o ponto máximo da lei, seja quebrada.
Este é um debate que transcende fronteiras e que está apenas começando!

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Umbigo - Folha do Sul / 08.Julho.2013


 O Umbigo

Os habitantes locais chamam o lugar de Rapanui e a si próprios de rapanuis. No dialeto local, este é o significado de “umbigo do mundo”. Uma ilha perdida no meio do Oceano Pacífico. O lugar mais próximo fica distante 2.000 quilometros a oeste. O capitão holandês Jacob Roggeveen a descobriu no século dezoito (1722). Como era um domingo de Pascoa, a ilha ficou conhecida como a Ilha da Pascoa. Na verdade um lugar imerso em muita controvérsia!
Estatuas conhecidas como Moais estavam em toda parte, quase mil delas. Algumas com dez metros de altura. A população era pequena, de algumas centenas de pessoas. Separados em grupos que se guerreavam entre si e praticavam canibalismo. A ilha em si estava arrasada, sem terra para cultivo nem florestas. Mas o que mais chamava a atenção eram as tais estatuas. Hoje se sabe que a ilha foi habitada desde o século V, chegando a ter uma população de quase 20.000 habitantes. Uma civilização florescente, com técnicas de cultivo adequadas e relações sociais sadias o suficiente para uma convivência pacífica. Então a elite governante resolveu que precisava mostrar poder. As estatuas começaram a ser feitas, uma atrás da outra. O capital, na forma de florestas, foi sendo consumido pouco a pouco. As terras ficaram sem proteção contra os fortes ventos do Pacífico. Em determinado momento ocorreu a inevitável quebra social e a comunidade se viu imersa no caos. Os habitantes começaram a se caçar uns aos outros, regredindo na escala civilizatória.
As lições de Rapanui são claras. Não podemos simplesmente acreditar que podemos fazer tudo. Humildade é um grande remédio contra o nosso orgulho moderno. Os recursos naturais e o capital, tanto humano como monetário são para ser usados com sabedoria.
Escrevo isso pensando nesta Copa do Mundo. Estamos com estádios de primeiro mundo. Nossos governantes podem se ufanar mundo afora de que somos a “capital do futebol”. Mas de que isso adianta se continuamos a ter um monte de problemas em educação, saúde, segurança, infraestrutura, etc... Muito capital foi gasto para o erguimento dos nossos “moais futebolísticos” em detrimento de outras áreas.
Pior do que isso, as vezes parece que quem dá as ordens é a FIFA, uma organização estrangeira. Um exemplo é a noticia que o cordão de isolamento da policia nos estádios foi feito no perímetro delimitado pela FIFA! Aparentemente quem está no comando não é exatamente o governo.
Tudo isto está sendo feito com os nossos impostos, diretos ou indiretos. A inflação, que está de volta, aparentemente acelerando, é uma forma de imposto indireto. Não é por acaso que a construção de Brasília nos anos 50 nos deixou com uma inflação persistente de muitos anos. A construção de ‘moais” tem o seu custo em qualquer sociedade. A construção destes estádios irá deixar uma marca de muitos anos na nossa economia. A pergunta que fica é qual o retorno efetivo que iremos ter além de pagar a conta nos anos que virão? O lucro certamente irá para os gringos, que irão pegar a grana e guardá-la em algum banco suiço.
A grande esperança é que no meio de toda esta controvérsia, aparentemente o povo acordou e consegue enxergar isso. Por mais que os grandes meios de comunicação tentem mostrar que seremos uma “grande potência”, pelo menos no futebol, podemos dizer que queremos ser uma grande potência sim, também no futebol, mas que temos prioridade e que estas incluem educação, saúde, infraestrutura, segurança, etc.

sábado, 6 de julho de 2013

Um Ano - Folha do Sul / 1.Julho.2013



 Um Ano

Eu e a Folha do Sul estamos de aniversario. Um ano de mudanças, de questionamentos, de desafios. Um ano de História! Durante este ano, eu tive a oportunidade e a honra de escrever nesta publicação, de opinar e de questionar, de sugerir e de propôr soluções.
Muitas vezes me perguntam o porque de ter vindo para o Pampa, para Bagé!? A pergunta é sempre acompanhada de observações tais como: “o que tem aqui?” ou expressões do gênero. Minha resposta, a mesma de sempre, é de que o Pampa é um lugar dos mais chatos, destes bem sem ação, sem ter coisas emocionantes... Aqui não tem terremoto, algo extremamente emocionante. Na Califórnia foram 3 os que pude sentir, ainda bem que pequenos, mas suficientes para dar um bom susto. Também faltam aqui tiroteios, estive em um em Salvador, emoção a toda prova. Assaltos em ônibus merecem destaque, passei por alguns no Rio de Janeiro. Em Israel pude assistir da minha janela o bombardeio e tiroteio a cerca de dez quilômetros, gente se matando e morrendo por motivo nenhum. Para fechar o “currículo”, teve também o sequestro em Salvador, algo para ser guardado nas minhas lembranças. Para tornarmos o Pampa um lugar menos “chato”, sugiro importarmos terremotos, assaltos, tiroteios, bombardeios e sequestros, talvez somente assim poderemos ver o lugar maravilhoso em que vivemos hoje, sem nada disso.
Mas não posso deixar de falar nos amigos que fiz aqui. De todos os lugares em que estive, posso afirmar sem sombra de dúvida, que o gaúcho do Pampa rivaliza em hospitalidade com o nordestino do interior. Mais de uma vez, andando na calçada, fui parado por um grupo familiar, tomando seu chimarrão numa tarde de verão, para podermos trocar algumas ideias e saber como vai indo a vida. Conheci aqui desde as pessoas mais simples, até políticos importantes. O traço comum é o carinho e a recepção que sempre recebi, mesmo sendo um “forasteiro”.
Realmente sou carioca de nascimento, criado na Ilha do Governador, no subúrbio. Morei na Bahia, em Salvador, no interior do Piauí, em Israel, e por fim na Califórnia, de onde tomei a decisão bem fundamentada de que queria morar em um lugar aprazível, entre pequeno e médio. Quando soube do concurso da UNIPAMPA, fui ao Google ver algumas fotos de Bagé. Foi paixão a primeira vista. Momento seguinte eu estava fazendo minha inscrição no concurso e me preparando para o mesmo. Não descansei enquanto não soube que tinha passado e se tivesse que fazer tudo de novo, eu o faria. Sem arrependimentos!
Das minhas propostas ao longo de um ano de coluna, algumas estão hoje por ai. Temos as placas com o histórico dos lugares, temos novas agências bancárias... Mas ainda não temos um Shopping, precisamos urgente de uma política industrial mais firme, e também continuamos a esperar por voos para Porto Alegre.
Como escrevi na primeira coluna e tenho repetido sempre, minha esperança no futuro desta região é firme e forte. Todos os ingredientes para um grande avanço para o futuro estão prontos para serem servidos. Termelétricas, Polo Carboquímico, Cinema, Centros de Ensino Universitário e de nível médio, Institutos de Pesquisa. Enfim, todo o tipo de oportunidade está bem na nossa frente, acontecendo ou prestes a acontecer no futuro próximo, dependendo somente de nós mesmos.
Mais do que nunca, fico feliz de estar morando no lugar que escolhi e de ter o carinho e o respeito das pessoas que conheço, que considero como amigos e irmãos, e que me acolheram como se daqui fosse, e onde pretendo ficar.
Apenas ainda não me decidi entre o Grêmio e o Internacional. Talvez acabe me decidindo mesmo é pelo Guarani ou pelo Bagé!!