terça-feira, 23 de julho de 2013

A Ponta do Iceberg - Folha do Sul / 22.Julho.2013



 A Ponta do Iceberg

Espionagem é uma atividade das mais antigas. Na Bíblia José acusa seus irmãos de espiões e Josué usa este serviço para saber como tomar Jericó. Da maneira como estas estórias são descritas, pode-se ver que isto já era naquela época algo bem sedimentado. De lá para cá as coisas se sofisticaram bastante. Alguns nomes e siglas conhecidos, reais ou de ficção: James Bond, Mata Hari, CIA, KGB, Mossad, etc. Todos com a intenção de saber informações vitais dos adversários. A inteligência se tornou crucial para o correto desempenho de operações militares ou até para o desfecho de guerras inteiras.
Com o advento do fenômeno conhecido como terrorismo, ou pelo menos aquilo que o sistema governante dominante considera como tal, a espionagem desenfreada em cima do próprio cidadão se tornou endêmica. Aqui no Brasil, o SNI da época da ditadura se tornou tristemente famoso. Escutas eram usadas de todo jeito e sem controle do Judiciário no intuito de proteger não os cidadãos, mas o sistema. Não um privilégio nosso, mas de todo e qualquer sistema ditatorial.
Nestes tempos de internet, ficou muito mais barato e abrangente fazer este tipo de coleta de dados. Cidadãos, empresas, governos, entidades não governamentais, enfim todo mundo é passível de estar sendo violado na sua privacidade.
A revelação que foi feita que o Governo Americano teria um sistema destes extremamente amplo (e pelo visto também extremamente ineficiente – vide atentados em Boston) choca, não pela revelação, mas por todo mundo se mostrar chocado de tomar conhecimento da mesma! Alguém teve alguma vez dúvida de que estes sistemas de espionagem existiam (coloco no plural de propósito)? Será que o governo americano seria o único a usar isso? Mais uma conspiração da CIA?
A existência de tais sistemas não deveria ser tema de surpresas, pois todo mundo, pelo menos por quem conhece minimamente a internet, sabe que existem maneiras de se interceptar mensagens ou de se introduzir virus em computadores alheios. Cavalos de Troia em todo sentido da palavra.
O rumo do debate poderia ser como iremos combater e cercear isto em vez de apenas apontarmos dedos. Espionagem dos cidadãos pelo sistema é algo tão danoso quanto cerceamento de ir e vir. Como lidar com isso à nível local, nacional e internacional? Estamos em águas novas, onde pouco sabemos das pedras abaixo da superfície.
A liberdade não pode ser sacrificada em nome da segurança, mas a segurança também não pode ser tolhida em nome da liberdade. Uma e outra precisam andar juntas. O ponto de equilíbrio desta estória precisa ficar sem que nos sintamos desamparados, mas que também tenhamos a percepção que temos liberdade, no amplo sentido da palavra.
Talvez o mais importante é que este debate comece, que possamos adaptar os ideais democráticos do iluminismo para tempos bem diferentes. Graças aos ensinamentos daqueles pensadores e filósofos (incluindo os revolucionários americanos!), pudemos romper com o passado de trevas e tirania total das sociedades que nos precederam. Que as lições aprendidas nos sirvam de degrau para podermos aprimorar o sistema social e político em que vivemos, em que a segurança do cidadão possa ser assegurada sem que sua liberdade individual, até o ponto máximo da lei, seja quebrada.
Este é um debate que transcende fronteiras e que está apenas começando!

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