A Ponta do Iceberg
Espionagem é uma atividade das mais antigas. Na Bíblia José acusa seus irmãos de espiões e Josué usa este serviço para saber
como tomar Jericó. Da maneira como estas estórias são descritas, pode-se ver
que isto já era naquela época algo bem sedimentado. De lá para cá as coisas se
sofisticaram bastante. Alguns nomes e siglas conhecidos, reais ou de ficção:
James Bond, Mata Hari, CIA, KGB, Mossad, etc. Todos com a intenção de saber
informações vitais dos adversários. A inteligência se tornou crucial para o
correto desempenho de operações militares ou até para o desfecho de guerras
inteiras.
Com o advento do fenômeno conhecido como
terrorismo, ou pelo menos aquilo que o sistema governante dominante considera
como tal, a espionagem desenfreada em cima do próprio cidadão se tornou
endêmica. Aqui no Brasil, o SNI da época da ditadura se tornou tristemente
famoso. Escutas eram usadas de todo jeito e sem controle do Judiciário no
intuito de proteger não os cidadãos, mas o sistema. Não um privilégio nosso,
mas de todo e qualquer sistema ditatorial.
Nestes tempos de internet, ficou muito mais barato
e abrangente fazer este tipo de coleta de dados. Cidadãos, empresas, governos,
entidades não governamentais, enfim todo mundo é passível de estar sendo
violado na sua privacidade.
A revelação que foi feita que o Governo Americano
teria um sistema destes extremamente amplo (e pelo visto também extremamente
ineficiente – vide atentados em Boston) choca, não pela revelação, mas por todo
mundo se mostrar chocado de tomar conhecimento da mesma! Alguém teve alguma vez
dúvida de que estes sistemas de espionagem existiam (coloco no plural de
propósito)? Será que o governo americano seria o único a usar isso? Mais uma
conspiração da CIA?
A existência de tais sistemas não deveria ser tema
de surpresas, pois todo mundo, pelo menos por quem conhece minimamente a
internet, sabe que existem maneiras de se interceptar mensagens ou de se
introduzir virus em computadores alheios. Cavalos de Troia em todo sentido da
palavra.
O rumo do debate poderia ser como iremos combater e
cercear isto em vez de apenas apontarmos dedos. Espionagem dos cidadãos pelo
sistema é algo tão danoso quanto cerceamento de ir e vir. Como lidar com isso à
nível local, nacional e internacional? Estamos em águas novas, onde pouco
sabemos das pedras abaixo da superfície.
A liberdade não pode ser sacrificada em nome da
segurança, mas a segurança também não pode ser tolhida em nome da liberdade.
Uma e outra precisam andar juntas. O ponto de equilíbrio desta estória precisa
ficar sem que nos sintamos desamparados, mas que também tenhamos a percepção
que temos liberdade, no amplo sentido da palavra.
Talvez o mais importante é que este debate comece,
que possamos adaptar os ideais democráticos do iluminismo para tempos bem
diferentes. Graças aos ensinamentos daqueles pensadores e filósofos (incluindo
os revolucionários americanos!), pudemos romper com o passado de trevas e
tirania total das sociedades que nos precederam. Que as lições aprendidas nos
sirvam de degrau para podermos aprimorar o sistema social e político em que
vivemos, em que a segurança do cidadão possa ser assegurada sem que sua
liberdade individual, até o ponto máximo da lei, seja quebrada.
Este é um debate que transcende fronteiras e que
está apenas começando!
Nenhum comentário:
Postar um comentário