O Umbigo
Os habitantes locais chamam o lugar de Rapanui e a
si próprios de rapanuis. No dialeto local, este é o significado de “umbigo do
mundo”. Uma ilha perdida no meio do Oceano Pacífico. O lugar mais próximo fica
distante 2.000 quilometros a oeste. O capitão holandês Jacob Roggeveen a
descobriu no século dezoito (1722). Como era um domingo de Pascoa, a ilha ficou
conhecida como a Ilha da Pascoa. Na verdade um lugar imerso em muita
controvérsia!
Estatuas conhecidas como Moais estavam em toda
parte, quase mil delas. Algumas com dez metros de altura. A população era
pequena, de algumas centenas de pessoas. Separados em grupos que se guerreavam
entre si e praticavam canibalismo. A ilha em si estava arrasada, sem terra
para cultivo nem florestas. Mas o que mais chamava a atenção eram as tais
estatuas. Hoje se sabe que a ilha foi habitada desde o século V, chegando a ter
uma população de quase 20.000 habitantes. Uma civilização florescente, com
técnicas de cultivo adequadas e relações sociais sadias o suficiente para uma
convivência pacífica. Então a elite governante resolveu que precisava mostrar
poder. As estatuas começaram a ser feitas, uma atrás da outra. O capital, na
forma de florestas, foi sendo consumido pouco a pouco. As terras ficaram sem
proteção contra os fortes ventos do Pacífico. Em determinado momento ocorreu a
inevitável quebra social e a comunidade se viu imersa no caos. Os habitantes
começaram a se caçar uns aos outros, regredindo na escala civilizatória.
As lições de Rapanui são claras. Não podemos simplesmente
acreditar que podemos fazer tudo. Humildade é um grande remédio contra o nosso
orgulho moderno. Os recursos naturais e o capital, tanto humano como monetário
são para ser usados com sabedoria.
Escrevo isso pensando nesta Copa do Mundo. Estamos
com estádios de primeiro mundo. Nossos governantes podem se ufanar mundo afora
de que somos a “capital do futebol”. Mas de que isso adianta se continuamos a
ter um monte de problemas em educação, saúde, segurança, infraestrutura, etc...
Muito capital foi gasto para o erguimento dos nossos “moais futebolísticos” em
detrimento de outras áreas.
Pior do que isso, as vezes parece que quem dá as
ordens é a FIFA, uma organização estrangeira. Um exemplo é a noticia que o
cordão de isolamento da policia nos estádios foi feito no perímetro delimitado
pela FIFA! Aparentemente quem está no comando não é exatamente o governo.
Tudo isto está sendo feito com os nossos impostos,
diretos ou indiretos. A inflação, que está de volta, aparentemente acelerando,
é uma forma de imposto indireto. Não é por acaso que a construção de Brasília
nos anos 50 nos deixou com uma inflação persistente de muitos anos. A construção
de ‘moais” tem o seu custo em qualquer sociedade. A construção destes estádios
irá deixar uma marca de muitos anos na nossa economia. A pergunta que fica é
qual o retorno efetivo que iremos ter além de pagar a conta nos anos que virão?
O lucro certamente irá para os gringos, que irão pegar a grana e guardá-la em
algum banco suiço.
A grande esperança é que no meio de toda esta
controvérsia, aparentemente o povo acordou e consegue enxergar isso. Por mais
que os grandes meios de comunicação tentem mostrar que seremos uma “grande
potência”, pelo menos no futebol, podemos dizer que queremos ser uma grande
potência sim, também no futebol, mas que temos prioridade e que estas incluem
educação, saúde, infraestrutura, segurança, etc.
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