terça-feira, 9 de julho de 2013

O Umbigo - Folha do Sul / 08.Julho.2013


 O Umbigo

Os habitantes locais chamam o lugar de Rapanui e a si próprios de rapanuis. No dialeto local, este é o significado de “umbigo do mundo”. Uma ilha perdida no meio do Oceano Pacífico. O lugar mais próximo fica distante 2.000 quilometros a oeste. O capitão holandês Jacob Roggeveen a descobriu no século dezoito (1722). Como era um domingo de Pascoa, a ilha ficou conhecida como a Ilha da Pascoa. Na verdade um lugar imerso em muita controvérsia!
Estatuas conhecidas como Moais estavam em toda parte, quase mil delas. Algumas com dez metros de altura. A população era pequena, de algumas centenas de pessoas. Separados em grupos que se guerreavam entre si e praticavam canibalismo. A ilha em si estava arrasada, sem terra para cultivo nem florestas. Mas o que mais chamava a atenção eram as tais estatuas. Hoje se sabe que a ilha foi habitada desde o século V, chegando a ter uma população de quase 20.000 habitantes. Uma civilização florescente, com técnicas de cultivo adequadas e relações sociais sadias o suficiente para uma convivência pacífica. Então a elite governante resolveu que precisava mostrar poder. As estatuas começaram a ser feitas, uma atrás da outra. O capital, na forma de florestas, foi sendo consumido pouco a pouco. As terras ficaram sem proteção contra os fortes ventos do Pacífico. Em determinado momento ocorreu a inevitável quebra social e a comunidade se viu imersa no caos. Os habitantes começaram a se caçar uns aos outros, regredindo na escala civilizatória.
As lições de Rapanui são claras. Não podemos simplesmente acreditar que podemos fazer tudo. Humildade é um grande remédio contra o nosso orgulho moderno. Os recursos naturais e o capital, tanto humano como monetário são para ser usados com sabedoria.
Escrevo isso pensando nesta Copa do Mundo. Estamos com estádios de primeiro mundo. Nossos governantes podem se ufanar mundo afora de que somos a “capital do futebol”. Mas de que isso adianta se continuamos a ter um monte de problemas em educação, saúde, segurança, infraestrutura, etc... Muito capital foi gasto para o erguimento dos nossos “moais futebolísticos” em detrimento de outras áreas.
Pior do que isso, as vezes parece que quem dá as ordens é a FIFA, uma organização estrangeira. Um exemplo é a noticia que o cordão de isolamento da policia nos estádios foi feito no perímetro delimitado pela FIFA! Aparentemente quem está no comando não é exatamente o governo.
Tudo isto está sendo feito com os nossos impostos, diretos ou indiretos. A inflação, que está de volta, aparentemente acelerando, é uma forma de imposto indireto. Não é por acaso que a construção de Brasília nos anos 50 nos deixou com uma inflação persistente de muitos anos. A construção de ‘moais” tem o seu custo em qualquer sociedade. A construção destes estádios irá deixar uma marca de muitos anos na nossa economia. A pergunta que fica é qual o retorno efetivo que iremos ter além de pagar a conta nos anos que virão? O lucro certamente irá para os gringos, que irão pegar a grana e guardá-la em algum banco suiço.
A grande esperança é que no meio de toda esta controvérsia, aparentemente o povo acordou e consegue enxergar isso. Por mais que os grandes meios de comunicação tentem mostrar que seremos uma “grande potência”, pelo menos no futebol, podemos dizer que queremos ser uma grande potência sim, também no futebol, mas que temos prioridade e que estas incluem educação, saúde, infraestrutura, segurança, etc.

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