A Bênção Brasileira
Existe uma expressão na indústria do petróleo: “The
Oil Curse”, significando em inglês “A Maldição do Petróleo”. A expressão seria
relativa ao fato de que a imensa maioria dos países produtores e exportadores
de petróleo seriam também os pesadelos políticos que encontramos ao escutar o noticiário internacional. Um grande exemplo e bem do nosso lado é a Venezuela,
com petróleo para abastecer o mundo por décadas, se não séculos. Este pais,
antes um bastião da democracia e conhecido por ser um lugar acolhedor, sofreu
transformações em nome de uma tal “revolução bolivariana” e atualmente é um
pesadelo comprar até mesmo papel higiênico e pão nas ruas de Caracas, capital
dos nossos vizinhos. Com a economia parada e à mercê dos negócios de petróleo,
muita coisa sendo importada, pois é mais fácil importar que trilhar o difícil
caminho da industrialização, crise aguda de desemprego, etc, não causa surpresa
que estourem protestos sem fim nas ruas. A situação econômica local é tão ruim
que estão importando petróleo. O importante para o grupo no governo é controlar
os poços de petróleo (de onde vem a renda), para tal precisa ganhar as eleições
(maquiadas ou não), isto sendo feito com o dinheiro obtido da venda do
petróleo. Assim se estabelece um circulo vicioso de difícil saída.
Desnecessário lembrar que muitos dos negócios, em que muita grana está em jogo,
são feitos por debaixo dos panos.
Inúmeros outros exemplos deste modelo sócio-político-econômico
movido à petróleo existem mundo afora: Nigéria, Líbia, Iran, Iraque, Arábia
Saudita, etc. Quando se têm noticia de modificação (ou tentativa) na estrutura
política, como aconteceu recentemente na Líbia, esta modificação vem através de
guerra civil, mas com o intuito básico de se trocar o grupo controlador das
reservas de petróleo por outro. Em outras palavras, se trocam os ratos para o
mesmo queijo. Os paises consumidores, reféns da situação, pois precisam do
produto para manter suas economias funcionando, procuram se acomodar nesta
situação com os grupos políticos controladores. Soluções drásticas, como a
invasão do Iraque pelos Estados Unidos já provaram que são contraproducentes. A
solução mais fácil continua a ser o suborno e a cooptação dos governos títeres
locais, que de maneira geral, praticamente universal, acham mais fácil e
lucrativo ficar neste jogo. O coronel Kadhafi, da Líbia, ficou décadas no
poder, e seria talvez o melhor exemplo deste tipo de situação. Para manter o
povo no seu devido lugar, todo tipo de repressão era usado, até que por fim foi
morto, com a família, num levante violento, cujas repercussões na Líbia
continuam, até que o próximo grupo se consolide, numa situação que dificilmente
irá ser diferente da anterior, apenas com nomes novos. A questão que fica é
que, se o dinheiro do petróleo tem tanto poder, por que a maioria dos países
produtores e exportadores está nesta situação?
Aqui no Brasil, com a descoberta do petróleo na tal
camada do “pré-sal”, foi vendida a ideia de que teríamos agora recursos a rodo
para educação, saúde, infraestrutura, etc. Isso foi repetido a exaustão,
havendo inclusive um candidato (por sinal derrotado) que pregava que iria pedir
um “adiantamento” dos royalties. Alias os royalties acabaram sendo uma das
fontes de muita briga e discussão no Congresso Nacional. Com os recentes escândalos envolvendo a nossa estatal de petróleo, é possível ver que
exatamente por correr dinheiro fácil nesta indústria, é ela alvo de muita
maracutaia. Se ainda nem chegamos ao tal patamar proclamado pelo governo e já
temos tantos problemas, imagine quando chegarmos lá? Uma das barreiras que
estão no caminho é o fato de que esse petróleo do pré-sal é de extração muito
cara para os padrões normais. A profundidade da lâmina d’água é enorme e uma
camada equivalente de rocha e sal ainda precisa ser perfurada até chegar no
petróleo. Com este e muitos outros problemas, certamente não iremos ter o petróleo de extração barata da Venezuela ou Nigéria, mas também certamente será
mais difícil escorregarmos para o caminho fácil que estes países escolheram.
Considerando o noticiário policial, aparentemente não faltam tentativas de nos
colocar nesta trilha.