segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Para onde vamos? / Folha do Sul - 17.Novembro. 2014



Para onde vamos?

Está no noticiário: a Policia Federal está colocando em cana dezenas de executivos de empresas de porte, entre os quais três presidentes de algumas das maiores empreiteiras (OAS, Queiroz Galvão e UTC), incluindo também mandados de busca (onde também consta o nome da Odebrecht) e congelamento de bens dos acusados (cerca de R$ 720 milhões). A trama é enorme dentro da maior empresa estatal brasileira, Petrobras, e parece não ter fim, envolvendo R$ 59 bilhões em contratos muito mal explicados. Aquilo que antes era tratado como conversa de cafezinho, fofoca tipo “aqueles ali são ladrões de colarinho branco e fazem e acontecem mas fica tudo por isso mesmo”, de repente se cristaliza na nossa frente no noticiário policial, envolvendo aquelas mesmas pessoas que se julgavam acima de qualquer suspeita mas que sempre eram exatamente alvo das conversas de cafezinho.
Os números são enormes, assim como o tamanho de tal conspiração. Podemos imaginar o tamanho da pressão sobre a Policia Federal e a Justiça. Muito dinheiro em jogo, e situações envolvendo também políticos em postos importantes. Qual será no final o desenrolar desta situação? Pessoas em cargos públicos de decisão precisam ter muito senso da responsabilidade que a posição traz. Estamos acostumados a pensar nas benesses destes cargos mas nos esquecemos da cobrança enorme que eles trazem.
Tudo isto traz junto muita preocupação. Brasil afora, existem muitas obras que ficaram pela metade e que tiveram junto com isso superfaturamento, sob os mais diversos argumentos. Um grande exemplo disso é a refinaria em Pernambuco, uma obra que acabou custando quase 10 vezes mais que o valor originalmente proposto. E por mera coincidência, também temos as mesmas empreiteiras envolvidas. Por curiosidade, no meio sindical se chamam as vezes as empreiteiras de “gatas”. Talvez seja devido por causa dos hábitos noturnos e furtivos destes animais, hábitos que pelo visto são reproduzidos por estas empresas.
Entre vários, um dos argumentos durante a campanha eleitoral do atual (e reeleito) governo para a continuidade do seu projeto era de que iriam fazer mover céus e terras para levantar toda a corrupção existente. Que bom. Apenas esperemos que não ocorram ameaças ao trabalho da Policia Federal. Independente de partido, corrente ideológica, ou seja lá o que for, o que o cidadão comum espera é saber a verdade. Ficamos a nos questionar que se pagavam 3% de propina em coisas desta magnitude, com certeza, ganhavam muito mais depois.
Desnecessário, mas sempre bom lembrar: a corrupção é paga pelos impostos altos, pela falta de recursos que atingem o estado, pela falta de oportunidades para aqueles que não pagam o propinoduto, pela pobreza do povo, pela falta de infraestrutura, enfim, por toda a sociedade, para que alguns, que se escudam nas instituições, possam se regalar nas suas orgias pessoais, feitas com dinheiro que não lhes pertencem.
Precisamos deixar de ser o pais do jeitinho, do onde tudo é assim porque tem que ser. Muitas vezes temos situações, em geral obras, pagas com dinheiro público, onde pelo dobro (ou mais) do preço, são feitos (ou adquiridos) bens pela metade, ou em quantidade, ou em qualidade, ou ambos. O cidadão contribuinte, aquele que paga a conta, está mais do que cansado de ver este tipo de situação. Precisamos deixar de ser alvo de corruptos no que de mais sagrado que existe para uma comunidade trabalhadora e de bem, que são seus impostos, e queremos, isso sim, ver nossos recursos sendo usados para o bem de todos e não para o locupleto de poucos.
Parabéns para a Policia Federal. Difícil será um cidadão de bem não ficar orgulhoso de termos uma instituição deste porte moral no pais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário