segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Crédito e Renda - Folha do Sul / 23.Setembro.2013



Crédito e Renda

Desde o fim da ditadura no inicio dos anos 80 do século passado, o Brasil passou por mudanças significativas. O padrão de vida da população melhorou, isto ninguém pode negar. A maneira como esta mudança ocorreu é tema de debate e discussão. Ao olharmos o panorama, podemos ver que ocorreu uma oferta maior de crédito sem que no entanto a renda média da população tenha aumentado significativamente. Esta conclusão é de vários economistas, em todo o espectro político e ideológico. Eu iria mais adiante: em termos de comparação internacional, podemos dizer que ocorreu até uma regressão. Escrevo isto baseado num simples fato: estivemos de fato em uma recessão técnica pois crescemos menos que a média mundial! Obviamente a renda da população não poderia crescer mais que o crescimento do Produto Nacional.
Assim tivemos um “crescimento” que além de ter sido menor que o do resto do mundo, foi baseado em políticas de crédito bastante generosas. Isto não acontecia desde os anos 70 com a política “Brasil Grande” do Delfim Neto. Assim como nos anos 70, aparentemente este modelo está se esgotando, à olhos vistos. A desvalorização do Real junto com o esfriamento econômico, mais sintomas que causas da presente situação, deverão trazer mais problemas ainda, alimentando negativamente uma situação já complicada, assim como uma bola de neve vai aumentando a medida que desce o morro. Sociólogos e historiadores diriam que na verdade estas são as contradições do sistema.
Este situação obviamente não é permanente e em algum momento terá de haver uma reversão. Existem muitos fatos que são distintos dos anos 70. O primeiro é que não estamos numa ditadura e que teremos eleições ano que vem. Ano eleitoral é sempre ano de debate e em que o governo deve pelo menos em teoria prestar contas a população. Outros e não menos importantes são: a população está mais educada, baseado em crédito ou renda o fato é que o padrão de vida melhorou e ninguém vai ficar muito satisfeito de ter que voltar para trás, as expectativas são muito maiores do que se espera do governo que há 40 anos atrás, etc.
Temos assim um quadro complexo em que ao mesmo tempo a camada governante quer manter o status quo, temos uma população mais demandante e a expectativa de uma recessão. Isso explica em grande parte as demonstrações de protesto que explodiram pais afora. A população quer uma renda maior!
Já foi dito que “as crises trazem dentro de si suas soluções”. Provavelmente também será verdadeiro para a presente situação. Já se pode ver isso na sombra desta crise que se aproxima. Nosso sistema educacional, malgrado os problemas, e graças aos esforços dos professores e dos demais colaboradores, é um dos maiores e melhores do mundo. Certamente não temos uma Havard, ainda! Mas certamente temos um sistema educacional de dar inveja na maior parte do planeta. Nossa indústria faz um esforço para se modernizar, até pela força das circunstancias, pois sem modernização, ficará cada vez mais difícil enfrentar a concorrência. Esta parte da concorrência então é mais dramática, pois o ambiente de competição não é mais aquele nacional, com a proteção do estado. Grandes tubarões internacionais estão mais do que nunca de olho no mercado nacional e se faz mister que a nossa elite empresarial procure se adaptar e adotar métodos modernos para garantir um lugar ao sol. A população certamente faz um esforço como sempre descomunal, estudando, trabalhando e tendo que muitas vezes aceitar serviços que estão aquém do esperado.
Com isso, chegamos ao coração do problema: a modernização do sistema estatal, em todos os níveis e em todas as esferas. Não poderemos pleitear um lugar permanente ao sol entre as maiores potências do planeta se continuarmos a ter desperdício de recursos públicos. Nosso sistema judicial carece de reformas para torná-lo mais ágil. O legislativo precisa de mudanças urgentes. A crise certamente traz junto com ela toda uma reflexão sobre estes pontos e muitos outros, ainda mais numa época de redes sociais e de demandas sociais cada vez mais profundas.

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