Crédito e Renda
Desde o fim da ditadura no inicio dos anos 80 do
século passado, o Brasil passou por mudanças significativas. O padrão de vida
da população melhorou, isto ninguém pode negar. A maneira como esta mudança
ocorreu é tema de debate e discussão. Ao olharmos o panorama, podemos ver que
ocorreu uma oferta maior de crédito sem que no entanto a renda média da
população tenha aumentado significativamente. Esta conclusão é de vários
economistas, em todo o espectro político e ideológico. Eu iria mais adiante: em
termos de comparação internacional, podemos dizer que ocorreu até uma
regressão. Escrevo isto baseado num simples fato: estivemos de fato em uma
recessão técnica pois crescemos menos que a média mundial! Obviamente a renda
da população não poderia crescer mais que o crescimento do Produto Nacional.
Assim tivemos um “crescimento” que além de ter sido
menor que o do resto do mundo, foi baseado em políticas de crédito bastante
generosas. Isto não acontecia desde os anos 70 com a política “Brasil Grande”
do Delfim Neto. Assim como nos anos 70, aparentemente este modelo está se
esgotando, à olhos vistos. A desvalorização do Real junto com o esfriamento
econômico, mais sintomas que causas da presente situação, deverão trazer mais
problemas ainda, alimentando negativamente uma situação já complicada, assim
como uma bola de neve vai aumentando a medida que desce o morro. Sociólogos e
historiadores diriam que na verdade estas são as contradições do sistema.
Este situação obviamente não é permanente e em
algum momento terá de haver uma reversão. Existem muitos fatos que são
distintos dos anos 70. O primeiro é que não estamos numa ditadura e que teremos
eleições ano que vem. Ano eleitoral é sempre ano de debate e em que o governo
deve pelo menos em teoria prestar contas a população. Outros e não menos
importantes são: a população está mais educada, baseado em crédito ou renda o
fato é que o padrão de vida melhorou e ninguém vai ficar muito satisfeito de
ter que voltar para trás, as expectativas são muito maiores do que se espera do
governo que há 40 anos atrás, etc.
Temos assim um quadro complexo em que ao mesmo
tempo a camada governante quer manter o status quo, temos uma população mais
demandante e a expectativa de uma recessão. Isso explica em grande parte as
demonstrações de protesto que explodiram pais afora. A população quer uma renda
maior!
Já foi dito que “as crises trazem dentro de si suas
soluções”. Provavelmente também será verdadeiro para a presente situação. Já se
pode ver isso na sombra desta crise que se aproxima. Nosso sistema educacional,
malgrado os problemas, e graças aos esforços dos professores e dos demais
colaboradores, é um dos maiores e melhores do mundo. Certamente não temos uma
Havard, ainda! Mas certamente temos um sistema educacional de dar inveja na
maior parte do planeta. Nossa indústria faz um esforço para se modernizar, até
pela força das circunstancias, pois sem modernização, ficará cada vez mais
difícil enfrentar a concorrência. Esta parte da concorrência então é mais
dramática, pois o ambiente de competição não é mais aquele nacional, com a
proteção do estado. Grandes tubarões internacionais estão mais do que nunca de
olho no mercado nacional e se faz mister que a nossa elite empresarial procure
se adaptar e adotar métodos modernos para garantir um lugar ao sol. A população
certamente faz um esforço como sempre descomunal, estudando, trabalhando e
tendo que muitas vezes aceitar serviços que estão aquém do esperado.
Com isso, chegamos ao coração do problema: a modernização
do sistema estatal, em todos os níveis e em todas as esferas. Não poderemos
pleitear um lugar permanente ao sol entre as maiores potências do planeta se
continuarmos a ter desperdício de recursos públicos. Nosso sistema judicial
carece de reformas para torná-lo mais ágil. O legislativo precisa de mudanças
urgentes. A crise certamente traz junto com ela toda uma reflexão sobre estes
pontos e muitos outros, ainda mais numa época de redes sociais e de demandas
sociais cada vez mais profundas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário