Política e Tragédia
Política e tragédia parecem andar de mãos dadas. O
vácuo deixado na passagem de eventos trágicos, provocados ou não, é sempre
difícil de ser medido. O que teria acontecido se um determinado líder não
tivesse morrido repentinamente? A História, não só a brasileira, está cheia
destas situações. Alguns personagens centrais de tragédias que abalaram
profundamente o desenrolar dos acontecimentos estão presentes no subconsciente
coletivo de tal forma que muitas vezes uma época da História de um determinado
pais é lembrado pelo nome destes lideres.
O suicídio de Getúlio Vargas em 1954 é lembrado até
hoje, mais de meio século, como um acontecimento tão marcante que muitos
historiadores acreditam que o golpe militar de 1964 foi adiado por dez anos tal
o impacto da atitude extrema do presidente. O movimento tenentista só
conseguiria impor sua ideologia ao pais após uma grande diluição do legado que
Vargas deixou.
O assassinato de Lincoln, o falecimento de
Roosevelt e o (também) assassinato de John Kennedy e a profunda consternação
coletiva resultante são exemplos na História Norte Americana de que não é um
“privilégio” nosso que lideres sejam vistos com tanta importância que toda uma
época seja lembrada ligada ao nome deles. Lincoln será sempre lembrado como o
libertador dos escravos nos EUA e o líder que manteve o pais livre de uma
separação dos estados do sul, o nome de Roosevelt estará sempre ligado à saída
da Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial e o fim da crise dos misseis em
Cuba sem que o planeta tivesse sido incendiado por uma guerra nuclear é talvez
o maior legado da administração Kennedy.
Aqui no Brasil tivemos a morte de Tancredo Neves
como um episódio com paralelo apenas na morte de Vargas. Todo o pais
praticamente parou para ver o presidente que tanta esperança tinha dado ao povo
após 20 anos de obscurantismo ser levado ao seu repouso final.
A morte do Senhor Eduardo Campos não tem talvez o
mesmo impacto que outros personagens mas certamente fica a pergunta sobre o que
poderia ter acontecido se a tragédia não tivesse se abatido sobre o candidato.
Uma pergunta sem respostas. O Brasil como um todo fica mais empobrecido com a
saída de cena deste personagem em um momento crítico como é qualquer disputa
eleitoral. Mas pelo clima de tristeza e consternação em Pernambuco é possível
ver que a perda para o pais é talvez irreparável.
Ainda na ante véspera da campanha eleitoral, pouco
foi debatido sobre este ou aquele candidato, mas com a atenção despertada pela
tragédia, pode-se ver o Senhor Campos dentro da perspectiva histórica ainda que
com a visão distorcida pela emoção do momento. O trabalho de Campos como
governador de Pernambuco seriam seu melhor cartão de visitas para a proposta de
trabalho que ele iria apresentar ao povo brasileiro. O exemplos mais
expressivos são talvez a fábrica da Fiat e a Refinaria da Petrobras. Seus
investimentos em ensino básico tais como aumento no salário dos professores e a oferta de bônus
por desempenho mostram que o administrador Campos era muito mais que outro
político de promessas vagas na área educacional, que tem sido o nosso gargalo
na construção de uma sociedade realmente dinâmica. O setor industrial de
Pernambuco que antes da sua administração era de 10% hoje é 25%. Decididamente
os pernambucanos tem motivo de sobra para o clima de tristeza no estado.
Resta para nós, cidadãos e também eleitores, a
esperança que o falecimento do senhor Campos sirva para pelo menos termos uma
campanha de alto nível e após a eleição ficarmos com uma administração a altura
de um Brasil moderno como é a esperança da maioria das pessoas.
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