terça-feira, 19 de agosto de 2014

Política e Tragédia / Folha do Sul - 19.Agosto.2014



Política e Tragédia

Política e tragédia parecem andar de mãos dadas. O vácuo deixado na passagem de eventos trágicos, provocados ou não, é sempre difícil de ser medido. O que teria acontecido se um determinado líder não tivesse morrido repentinamente? A História, não só a brasileira, está cheia destas situações. Alguns personagens centrais de tragédias que abalaram profundamente o desenrolar dos acontecimentos estão presentes no subconsciente coletivo de tal forma que muitas vezes uma época da História de um determinado pais é lembrado pelo nome destes lideres.
O suicídio de Getúlio Vargas em 1954 é lembrado até hoje, mais de meio século, como um acontecimento tão marcante que muitos historiadores acreditam que o golpe militar de 1964 foi adiado por dez anos tal o impacto da atitude extrema do presidente. O movimento tenentista só conseguiria impor sua ideologia ao pais após uma grande diluição do legado que Vargas deixou.
O assassinato de Lincoln, o falecimento de Roosevelt e o (também) assassinato de John Kennedy e a profunda consternação coletiva resultante são exemplos na História Norte Americana de que não é um “privilégio” nosso que lideres sejam vistos com tanta importância que toda uma época seja lembrada ligada ao nome deles. Lincoln será sempre lembrado como o libertador dos escravos nos EUA e o líder que manteve o pais livre de uma separação dos estados do sul, o nome de Roosevelt estará sempre ligado à saída da Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial e o fim da crise dos misseis em Cuba sem que o planeta tivesse sido incendiado por uma guerra nuclear é talvez o maior legado da administração Kennedy.
Aqui no Brasil tivemos a morte de Tancredo Neves como um episódio com paralelo apenas na morte de Vargas. Todo o pais praticamente parou para ver o presidente que tanta esperança tinha dado ao povo após 20 anos de obscurantismo ser levado ao seu repouso final.
A morte do Senhor Eduardo Campos não tem talvez o mesmo impacto que outros personagens mas certamente fica a pergunta sobre o que poderia ter acontecido se a tragédia não tivesse se abatido sobre o candidato. Uma pergunta sem respostas. O Brasil como um todo fica mais empobrecido com a saída de cena deste personagem em um momento crítico como é qualquer disputa eleitoral. Mas pelo clima de tristeza e consternação em Pernambuco é possível ver que a perda para o pais é talvez irreparável.
Ainda na ante véspera da campanha eleitoral, pouco foi debatido sobre este ou aquele candidato, mas com a atenção despertada pela tragédia, pode-se ver o Senhor Campos dentro da perspectiva histórica ainda que com a visão distorcida pela emoção do momento. O trabalho de Campos como governador de Pernambuco seriam seu melhor cartão de visitas para a proposta de trabalho que ele iria apresentar ao povo brasileiro. O exemplos mais expressivos são talvez a fábrica da Fiat e a Refinaria da Petrobras. Seus investimentos em ensino básico tais como aumento no salário dos professores e a oferta de bônus por desempenho mostram que o administrador Campos era muito mais que outro político de promessas vagas na área educacional, que tem sido o nosso gargalo na construção de uma sociedade realmente dinâmica. O setor industrial de Pernambuco que antes da sua administração era de 10% hoje é 25%. Decididamente os pernambucanos tem motivo de sobra para o clima de tristeza no estado.
Resta para nós, cidadãos e também eleitores, a esperança que o falecimento do senhor Campos sirva para pelo menos termos uma campanha de alto nível e após a eleição ficarmos com uma administração a altura de um Brasil moderno como é a esperança da maioria das pessoas.

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