Um
Brasileiro
Espíritos fortes e livres assustam! Muitas vezes ao
denunciarem a injustiça são execrados, denunciados e difamados. O mais
contraditório é que o elemento mais assustado é sempre o mais fraco e o
injustiçado. Mudanças são sempre difíceis. Em um Brasil que prima pelo
conservadorismo há mais de 5 séculos, a simples sugestão de mudanças já causa
arrepios na maioria. A inércia, muitas vezes anacrônica, na sociedade
brasileira tem sido historicamente um anátema difícil de quebrar. Aqueles que
por idealismo, ou porque simplesmente tem a visão que a realidade poderia ser
diferente, lutam por mudanças, espíritos livres que são, e acabam tendo que se
bater de frente com este conservadorismo rancoroso e retrógrado que nos rodeia.
Nascido em Montes Claros, Minas Gerais em 1922, em
um Brasil essencialmente rural, dominado pela aristocracia “café com leite”,
Darcy Ribeiro iria ao longo dos próximos 75 anos, até seu falecimento em 1997,
acompanhar e fazer parte dos capítulos dramáticos de mudança da sociedade
brasileira. Seria um dos espíritos fortes e livres, um daqueles elementos
incomodadores da ordem existente, capaz de provocar temor e esperança ao mesmo
tempo.
Formado em antropologia, acabaria se destacando não
só na sua área específica, mas também como educador, escritor e político. Seus
primeiros trabalhos, onde se destaca, são entre os índios de um Brasil ainda
“selvagem” e intocado. Seus trabalhos são referência para uma compreensão
melhor desta parte da sociedade brasileira, tão espezinhada, massacrada e
escravizada ao longo destes 5 séculos. É de sua autoria o projeto do Parque
Indígena do Xingu, que acabou se tornando realidade em 1961.
Ajudou na criação da Universidade de Brasília no
inicio dos anos 60 e foi também seu primeiro reitor. Foi ministro da educação e
chefe da Casa Civil no Governo do Presidente João Goulart. Como tantos
intelectuais de posições firmes e fortes, teve seus direitos políticos cassados
e por fim teve que se exilar. Ao fim da ditadura, retornou ao Brasil e se
elegeu vice-governador do Rio de Janeiro no primeiro governo de Leonel Brizola
(1983-1987), quando supervisionou em todas as etapas, a implantação dos
Brizolões (ou CIEPs – Centros Integrados de Ensino Público), uma ideia
inovadora, por fornecer educação de forma ampla para parcelas consideráveis da
população, em que as maiores reações contrarias vinham, como sempre, da elite
retrógrada, acostumada a se nutrir da miséria e ignorância do povo. Muito
embora a ideia original viesse de Anísio Teixeira, foi o Senhor Darcy que
levaria este projeto para a frente no Rio de Janeiro. No segundo mandato de
Brizola no Rio de Janeiro, recebeu a incumbência de coordenar a instalação da
Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF. Trazendo (e preservando nela) cientistas e
pesquisadores importantes fez da UENF uma das mais importantes instituições no
cenário acadêmico brasileiro.
Honrarias e reconhecimento nunca lhe faltaram, para
desespero da ala conservadora. Terminou seus dias, após muitos anos de combate
ao câncer, como senador da república. Deixou como legado livros e ideias, para
um Brasil que ele sempre sonhou mais justo e mais livre, mais para os
brasileiros e sem o anacronismo do atraso.
Uma das suas frases mais famosas foi: “Fracassei em
tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não
consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade
séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e
fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar
de quem me venceu.” Apenas não concordo com o Professor Darcy no que se refere
aos fracassos. Aqueles que momentaneamente venceram, não tinham as ideias com a
mesma força e permanência. Ao contrario, a mensagem do Professor e Antropólogo
Darcy Ribeiro é eterna e será sempre o principal legado para as gerações
vindouras.
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