segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Poder da Terra - Folha do Sul / 18.Fev.2013

O Poder da Terra

          A maior parte da história da humanidade, no que entendemos como civilização, é ligada à sociedades agrarias. No mundo antigo, e mesmo no Brasil Colônia e ainda no Império, a função das cidades era principalmente administrativa. Não existiam indústrias no sentido em que estamos acostumados. Nestas sociedades as relações sociais eram (ou ainda são, dependendo de que parte do mundo estamos falando) escravagistas ou feudais. A maior riqueza é portanto a própria posse da terra. Isto explica o fenômeno da “nobreza” hereditária. Poderíamos dizer que de uma forma ou de outra, este foi o modus operante econômico durante 10.000 anos, começando no antigo Egito e na Mesopotâmia (onde é o atual Iraque). Com o advento da indústria, processo este iniciado na Inglaterra 250 anos atrás, a agropecuária começa a passar por mudanças no sentido de uma “modernização” em um processo que está longe de terminar.

Algumas mudanças já são bem claras, principalmente nos países desenvolvidos. A agropecuária deixou de ser extensiva e ineficiente e passou a ser uma atividade altamente capitalista, onde cada centímetro de terreno tem que ser explorado para gerar lucro e justificar o investimento. A modernização das técnicas é outro sintoma claramente sentido. Algo que pareceria estranho aos nossos ancestrais é o fim do “campesinato tradicional”. A população que vive diretamente da terra é cada vez menor!! Números como 3% são comuns. E o mais impressionante é que com uma parcela ínfima do numero de trabalhadores que labutavam anteriormente, muito mais alimento é gerado por hectare. Devido a estrutura altamente competitiva do mercado, a modernização das propriedades e a mudança das relações sociais se tornam uma necessidade real.

Sempre existirão os saudosistas que querem manter um mundo que já não existe mais ou que rapidamente se desintegra em contato com a modernidade. Mas as forças históricas são poderosas e impiedosas.

Na nossa região, a criação de gado extensiva é uma tradição desde os tempos do Brasil colônia. Houve uma época em que o gado solto se multiplicou sózinho e na ausência de predadores maiores, se tornou uma das maiores forças econômicas da época. Esta natureza favorável aos bovinos foi a força motriz que gerou toda uma cultura. Dai para as charqueadas foi um passo. Interessante relembrar que o grande motivo que detonou a Revolução Farroupilha foi a negativa do Governo Imperial de não taxar a carne importada da Argentina.

A criação extensiva de gado se tornou assim a mola mestra da economia local. Isto só começa a mudar com as culturas de arroz, que chega trazendo novas técnicas e modos de produção. Hoje a grande mudança está com a soja. Basta viajar um pouco na região para vermos a diferença nos campos. Mesmo assim a soja não tirou área do arroz nem diminui o tamanho dos rebanhos. Mas certamente o produtor rural se vê forçado, até para manter a rentabilidade mínima exigida pelo seu negócio, a modernizar cada vez mais as áreas tradicionais.

Ainda não sentimos a força desta mudança na economia local. Mas certamente em 3 anos ou um pouco mais, poderemos perceber que a pujança do nosso rincão, que sempre foi marcada pela Terra, estará mais do que nunca presente. As oportunidades para empreendedores ousados, que montarem indústrias baseadas em produtos de origem agropecuária serão enormes.

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