segunda-feira, 15 de abril de 2013

Francisco - Folha do Sul / 18.Mar.2013

Francisco

          Nossa civilização conseguiu alcançar patamares de conforto e bem estar dificilmente sonhados algumas décadas atrás. A idade média de vida hoje é de mais de 70 anos. Temos tecnologia, máquinas, nível de conforto, etc. Mesmo o trabalhador mais humilde consegue trazer para si e sua família bens e serviços que antes não estavam ao alcance dos seus avós. Toda uma estrutura educacional foi instalada e com ela menos ignorância e acesso a informação para praticamente toda a população, pelo menos para aqueles que quiserem ir atrás.

Tudo isto acabou tendo um efeito bumerangue. O cidadão hoje se tornou arrogante. Vivemos como se pudéssemos fazer tudo. Em outras palavras, ficamos mais materialistas. Numa sociedade como a medieval, 1000 anos atrás, haveria mais preocupação com o espírito! Os recursos eram imensamente menores e as pessoas viviam muito menos. Um escritor bom sobre o assunto é Maurice Druon, cuja serie “Os Reis Malditos” mostra muito bem como era a vida na França antes da Guerra dos Cem Anos e o contraste com os dias de hoje é imenso se não cruel.

Atualmente aprendemos que podemos viver mais do que antes, tanto qualitativamente como quantitativamente. Lamentavelmente tendemos a perder valores importantes, de cunho moral e social. Nossa sociedade atribui valores monetários aos seus membros, seja em estatísticas, como em seguros, em qualquer atividade ou investimento de cunho social, etc. Isto acontece devido ao caráter racional e lógico que acabou permeando todo o subconsciente coletivo. Um exemplo chocante disto foi a decisão por Truman de jogar as bombas atômicas no Japão ao fim da Segunda Guerra. Ele pesou todas as possibilidades e tomou esta decisão pois a considerou a menos dolorosa e melhor politicamente. Centenas de milhares de pessoas morreram em consequência disto. Muitos outros exemplos, não tão drásticos poderiam ser citados, inclusive no nosso país.

E é neste ponto que entram as religiões no cunho moderno que elas tomaram. Digo isso independente de qualquer uma. O valor do ser humano não pode ser quantificado, não podemos virar números de uma companhia de seguros ou de uma repartição governamental. É necessário que sejamos lembrados que mesmo na nossa arrogância moderna, ainda somos seres humanos. O respeito, amor e consideração pelo próximo é de importância fundamental se queremos construir uma sociedade melhor.

A Igreja Católica, depois do Concilio Vaticano II, tomou rumos importantes em uma serie de questões. Questões estas fundamentais nos caminhos em que hoje estamos. O dialogo com as outras vertentes religiosas, a tolerância e a lucidez se tornaram grandes instrumentos para uma Igreja renovada. Com o dialogo veio também a possibilidade de se assumir a liderança a nivel espiritual. Não uma liderança baseada na força ou na intimidação, mas aquela baseada na compreensão mútua e no desejo de paz, que é o intuito de qualquer uma das crenças modernas.

João Paulo II foi a encarnação viva deste espírito. Em qualquer parte do mundo, as pessoas ficavam extasiadas com ele, independente de serem católicas ou não. Lamentavelmente seu sucessor sucumbiu aos problemas conjuntos da idade e internos da própria Igreja. A eleição do Papa Francisco nos traz (com toda a carga de um passado dedicado ao próximo) algo muito importante: Esperança! Esperança de que Tolerância e Paz serão cada vez maiores neste mundo tão sofrido. “Habemus Papam” e que com ele venha junto toda esta atmosfera necessária para que possamos construir um  mundo cada vez melhor.

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