segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Rei e o Presidente - Folha do Sul / 31.Dez.2012

O Rei e o Presidente

          Dois grandes nomes, separados por um século, fizeram com que a história do nosso pais tomasse um rumo diferente. Os dois enfrentaram a resistência e a oposição da elite conservadora e os dois no fundo preconizaram ideias semelhantes para a economia brasileira e o progresso social. Quando falo em elite conservadora, minha intenção é simplificar a nossa sopa de letras política em basicamente duas facções, os conservadores e os progressistas. Isto se torna muito claro particularmente aqui no Pampa, pois enquanto em uma cidade um partido enfrenta outro numa luta sem tréguas, em outra são aliados fortíssimos que nem mesmo pressões das cúpulas partidárias conseguem quebrar estas uniões. Os conservadores querem basicamente a continuação do status quo, sem industrialização nem progresso social, enquanto os progressistas sabem que é impossível ao pais simplesmente se fechar e não ter contato com um mundo cada vez mais dinâmico. Em outras palavras, os conservadores representam o arcaico e os progressistas a modernidade.

O primeiro nome é o do Senhor Irineu Evangelista de Souza, conhecido como pioneiro da industrialização, vindo de berço humilde, órfão de pai, através de esforço pessoal, conseguiu através de muito trabalho um patrimônio maior que o orçamento anual do Império e chegou ao título de Barão, e depois Visconde de Mauá. Era radicalmente contra a escravidão e acreditava que o futuro do Brasil estava ligado a industrialização, tendo sido pioneiro em várias áreas tais como ferrovias, estaleiro, transporte com barcos a vapor no Amazonas e no Guaíba, iluminação pública no Rio de Janeiro, instalação do cabo submarino entre o Brasil e a Europa, etc. Suas ideias sempre foram consideradas perigosas pela elite conservadora, a qual fez de tudo para arruiná-lo. No seu auge, o povo dizia que no Brasil havia um Imperador, D. Pedro II e um Rei, o Barão de Mauá. Mesmo depois de levado a bancarrota por seus inimigos, conseguiu se reerguer e ao falecer, tinha o coisa que mais lhe era cara no mundo dos negócios: um nome limpo.

O segundo nome é o do Senhor Getúlio Vargas, também conhecido como “pai dos pobres”. Apesar de toda a polêmica política que cerca a trajetória de Vargas (presidente de 1930 a 1937, ditador de 1937 a 1945 e novamente presidente de 1951 a 1954), certamente ninguém irá contestar o fato de que o rompimento com o passado “café com leite” (em que a elite agrária de São Paulo divida o poder com a de Minas Gerais em eleições em geral fraudulentas) foi fruto e obra dele e do seu grupo e que o pais que nos foi passado é totalmente diferente daquele que existia no inicio do século 20. A herança de Vargas inclui indústria siderúrgica, Petrobrás e toda uma série de incentivos para que o pais entrasse nos trilhos da modernização. Também Vargas foi alvo de tenaz oposição dos conservadores que não descansaram até que por fim o suicídio levou ao fim da vida deste grande brasileiro. Mas da mesma forma que Mauá, o resgate histórico da trajetória de Vargas nos é dado por sua carta testamento onde ele diz: “Eu vos dei minha vida, agora ofereço minha morte. Não receio, serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar para entrar na História”.

Mauá é natural de Arroio Grande, na época distrito de Jaguarão e Vargas é natural de São Borja e ambos faleceram no que hoje é o Estado do Rio de Janeiro. A trajetória de ambos é marcada pela oposição dos conservadores e ambos souberam se manter firmes nas suas ideias. Que dois nomes de tal grandeza na história brasileira sejam oriundos da nossa região deve e tem que ser motivo de muito orgulho  para os membros da nossa comunidade da fronteira.

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