1984
Agora vamos ver a nossa situação
“orwelliana”: ao longo de todos estes anos, o carvão nacional em geral e o de
Candiota em particular foram alvo de uma campanha de difamação que supera o
inimaginável. Não se pode negar que carvão seja poluente, mas TODAS as fontes
de energia são poluentes, com as exceções da eólica e da solar, fontes ainda
sem momentum para pesar na balança da política energética nacional. O desastre
no Golfo do México três anos atrás é um bom exemplo disso. A maioria do efeito
estufa é causado pelo uso do petróleo. E assim por diante. Para mostrar como é
quase um linchamento público pela mídia, poderíamos lembrar que o carvão
nacional não representa nem 7 % da matriz energética nacional,
contra cerca de 30 % a nível mundial. Mas por causa de pressões internacionais,
exatamente de países que usam intensamente o carvão, o governo (escrevo isso
sem matiz ideológica ou partidária) em Brasília resolveu escolher o carvão
mineral como o patinho feio.
Por conta desta escolha, toda uma
população que vive em torno da labuta diária de extrair o carvão e de
aproveitar a energia contida no mesmo, repito novamente, toda uma população
se viu presa do stress de repentinamente poder ficar desempregada. Os boatos
sobre diminuição do uso do carvão e da má vontade política para aproveitamento
do mesmo fizeram com que anos de investimento se perdessem.
Voilá! De repente o patinho feio virou o
belo cisne. Precisamos do carvão, concluem as autoridades em Brasília, algumas
das quais estavam apedrejando o mesmo. A possibilidade de apagão fez com que
estas mesmas autoridades descobrissem, com um certo atraso, que não podemos
passar sem as termelétricas.
Uma alternativa melhor para os tomadores
de decisão seria romper com a lógica orwelliana de elegermos inimigos na medida
das “necessidades” políticas e tentarmos seguir uma linha positiva para a
solução dos nossos problemas. Uma solução seria o uso de tecnologias modernas
na geração de energia. Ciclo combinado, gaseificação, leito fluidizado, etc,
são alguns dos itens que algumas cabeças coroadas em Brasília deveriam estar
estudando, ao invés de ficarem maquinando e planejando qual será o próximo
passo em demonificar ou endeusar o carvão, dependendo é claro do momento
político. Essas maquinações aparentemente não levam em conta as pessoas que
labutam em torno deste precioso mineral.
Um outro aproveitamento, não para uso
energético, seria o uso do carvão para obtenção de produtos carboquímicos. Dado
o histórico das políticas nacionais, sempre aleatórias, talvez seja chegado o
momento de Brasília relegar a carboquímica em prol da energia, pois assim
sobraria carvão para queima, não importa se isto é melhor ou pior para o pais
ou para a população local a longo prazo, ou mesmo qual a rentabilidade e
geração de renda em questão. George Orwell deve estar se remexendo no seu
túmulo.
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