segunda-feira, 15 de abril de 2013

1984 - Folha do Sul / 14.Jan.2013

1984

               George Orwell, um dos grandes escritores do século passado, foi um grande crítico tanto do capitalismo como do comunismo. Quem não conhece “Granja dos bichos” (“Animal Farm”, também no formato de filme) com os famosos bichinhos, fazendo a sua revolução e caindo nos problemas do totalitarismo. Ao escrever “1984”, Orwell estava não apenas protestando contra os totalitarismo, de direita ou de esquerda, mas também estava mostrando como as coisas mudavam na política aos favores dos ventos e como toda uma população é manipulada em torno disso. Orwell estava particularmente horrorizado com a mudança de atitude dos Estados Unidos e da Inglaterra, que em menos de 3 anos (1945-1948) tinham transformado a União Soviética de aliada em grande inimiga, e a Alemanha e o Japão em aliados. A pergunta que ele coloca em “1984” é qual tinha sido afinal de contas a razão da segunda guerra!? Alias o titulo “1984” vem de 1948, trocando a ordem do 4 e do 8. 1948 foi o ano em que ele escreveu o livro.

Agora vamos ver a nossa situação “orwelliana”: ao longo de todos estes anos, o carvão nacional em geral e o de Candiota em particular foram alvo de uma campanha de difamação que supera o inimaginável. Não se pode negar que carvão seja poluente, mas TODAS as fontes de energia são poluentes, com as exceções da eólica e da solar, fontes ainda sem momentum para pesar na balança da política energética nacional. O desastre no Golfo do México três anos atrás é um bom exemplo disso. A maioria do efeito estufa é causado pelo uso do petróleo. E assim por diante. Para mostrar como é quase um linchamento público pela mídia, poderíamos lembrar que o carvão nacional não representa nem 7 % da matriz energética nacional, contra cerca de 30 % a nível mundial. Mas por causa de pressões internacionais, exatamente de países que usam intensamente o carvão, o governo (escrevo isso sem matiz ideológica ou partidária) em Brasília resolveu escolher o carvão mineral como o patinho feio.

Por conta desta escolha, toda uma população que vive em torno da labuta diária de extrair o carvão e de aproveitar a energia contida no mesmo, repito novamente, toda uma população se viu presa do stress de repentinamente poder ficar desempregada. Os boatos sobre diminuição do uso do carvão e da má vontade política para aproveitamento do mesmo fizeram com que anos de investimento se perdessem.

Voilá! De repente o patinho feio virou o belo cisne. Precisamos do carvão, concluem as autoridades em Brasília, algumas das quais estavam apedrejando o mesmo. A possibilidade de apagão fez com que estas mesmas autoridades descobrissem, com um certo atraso, que não podemos passar sem as termelétricas.

Uma alternativa melhor para os tomadores de decisão seria romper com a lógica orwelliana de elegermos inimigos na medida das “necessidades” políticas e tentarmos seguir uma linha positiva para a solução dos nossos problemas. Uma solução seria o uso de tecnologias modernas na geração de energia. Ciclo combinado, gaseificação, leito fluidizado, etc, são alguns dos itens que algumas cabeças coroadas em Brasília deveriam estar estudando, ao invés de ficarem maquinando e planejando qual será o próximo passo em demonificar ou endeusar o carvão, dependendo é claro do momento político. Essas maquinações aparentemente não levam em conta as pessoas que labutam em torno deste precioso mineral.

Um outro aproveitamento, não para uso energético, seria o uso do carvão para obtenção de produtos carboquímicos. Dado o histórico das políticas nacionais, sempre aleatórias, talvez seja chegado o momento de Brasília relegar a carboquímica em prol da energia, pois assim sobraria carvão para queima, não importa se isto é melhor ou pior para o pais ou para a população local a longo prazo, ou mesmo qual a rentabilidade e geração de renda em questão. George Orwell deve estar se remexendo no seu túmulo.

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