Choque da Modernidade e a
Fronteira
Dois séculos atrás um
escritor genial de origem alemã juntou peças de um quebra cabeças literário e
escreveu um dos melhores livros sobre o mundo contemporâneo. O autor se chamava
Goethe e o livro “Fausto”. “Fausto” na verdade é um personagem que sendo
tentado e se vendendo para “Mephistófeles”, faz com que toda uma conjuntura de
coisas mude. Nada mais importa para Fausto, apenas a mudança em nome do
“progresso”. Goethe estava apenas colocando ideias antigas mas que na época, no
inicio da revolução industrial, estavam ganhando cada vez mais força, e estas
ideias davam e dão respaldo ao assim chamado liberalismo econômico. 100 anos
depois, um economista não menos genial chamado Schumpeter, desta vez austríaco,
nos trouxe um modelo econômico baseado no que ele chamou de “criação
destrutiva”, ou seja o novo, sendo mais eficiente que o antigo, iria
naturalmente deslocar o último. Muitas vezes não prestamos atenção nisto, mas
estas ideias, na verdade mais constatações que ideias, acontecem o tempo todo
ao nosso redor. Ao contrario dos nossos avós, para os quais qualquer novidade
seria surpresa, nós precisamos de “mudança”. A área de informática é um bom
exemplo: a toda hora temos computadores melhores e mais potentes; não
conseguimos viver sem internet! Mas não é apenas a informática: imagine a vida
sem um celular! Ou então compare um carro estilo popular com outro de 10, 15
anos atrás. E a cada ano, as vezes num espaço de tempo ainda menor, temos
novidades e estamos ávidos por elas. Nos tornamos todos “faustos” em que muitas
vezes a mudança é a única coisa que importa. Houve todo um mundo,
principalmente nas grandes capitais brasileiras, que se perdeu, que derreteu e
que o “vento levou”. Parte desta mudança aconteceu nas cidades pequenas e
médias, parte não. A modernização é importante, mas também é importante saber
de onde viemos, o que nos manteve e nos mantém unidos como sociedade. Por isso
que esta parte do Brasil tem um charme e apelo todos especiais que muitas vezes
as pessoas não se dão conta. E cada vez mais, com o turismo sendo a atividade
importante que é na vida moderna, este lado tradicional será um magneto para
que pessoas de outros lugares queiram saber porque somos tão especiais aqui com
nossas tradições, nossos costumes, nosso linguajar local tão especial, mas bah
tche! Bagé e redondezas estão mudando, constroem-se novas ruas, novos prédios,
estradas são abertas, escolas são inauguradas, empresas se instalam, o novo vai
mudando e o antigo precisa se adaptar para sobreviver. Estamos aqui vivendo
toda uma epopéia Goethiana e Schumpeteriana e precisamos saber conviver com
isso sem perder os nossos laços com o passado e assim podermos olhar com
tranquilidade para o futuro. Talvez acha quem diga que isto é bobagem. Então eu
recomendo que caso esteja no Rio de Janeiro, pergunte a qualquer passante na
Praça 15 o que é o prédio antigo no meio de muitos modernos (na verdade o Paço
Imperial, onde morou D. João VI) e que poucos sabem ou para ir mais longe, como
estão as tradições nordestinas nas grandes capitais como Salvador ou Recife.
Muitas das tradições afro de Salvador que foram eternizadas nos livros de Jorge
Amado estão pouco a pouco desaparecendo. Nosso rincão aqui tem sabido se
modernizar sem perder o vínculo com o passado, mas é necessário sempre manter
viva a chama sob o risco de perdermos a nossa identidade.
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