Reflexões da Copa
Na minha humilde posição de não fanático por
futebol, confessada algumas semanas atrás em outra coluna, me sinto a vontade
para tecer alguns comentários sobre este evento (a Copa) que termina neste
domingo sem estar inebriado por energias pessoais de nenhum tipo, positivas ou
negativas. Estou escrevendo o artigo ainda no sábado e ainda não sei qual será
o resultado do match Argentina versus Alemanha.
A primeira constatação é que mesmo sendo a seleção
alemã a nossa carrasco em jogo anterior, o brasileiro médio irá torcer pela
mesma seleção, aliás não é bem assim, a torcida na verdade é contra a
Argentina. Definitivamente nossa rivalidade futebolística é mesmo contra os
“hermanos”. Na falta da seleção brasileira, qualquer outra serve, mesmo a que
desclassificou a seleção canarinho da final, contanto que derrote a nossa grande rival. Casos de brasileiros
torcendo pela seleção platina são tratados no noticiário como se fossem alguma
espécie de mutação genética extremamente rara. Com certeza a reação dos
hermanos seria a mesma numa situação semelhante, apenas contra nós, os grande
rivais, afinal todos nós temos o calor latino a correr nas veias.
Segue-se a atitude da grande mídia, com um foco
excessivo na Copa. Parecia que nada mais existia. Foi acabar o jogo contra a
Alemanha e voltamos a ver as noticias de sempre. Quase despercebido foi o
viaduto que caiu em Belo Horizonte e a motorista, esta sim a grande heroína,
que na sua morte conseguiu salvar inúmeras vidas. 26 anos, jovem, bonita e com
toda uma vida pela frente, Hanna Cristina deixou uma filha de cinco anos e teve
a presença de espírito de frear o ônibus e evitar uma tragédia maior. O
acidente com Neymar é lamentável, mas muito mais é o que aconteceu com esta
moça. Outras partidas de futebol virão para Neymar, mas não teremos mais a
companhia da Hanna. Certamente a tragédia de Minas merecia mais atenção do que
o holofote, talvez excessivo, que foi jogado sobre os jogadores, muitas vezes
em situações sem nenhuma relação com o esporte. Um pouco menos de estrelismo e mais
humildade teria ajudado o time.
O time alemão também mostrou algo importante no
futebol e na vida. Não tivemos estrelas lá, tivemos uma equipe. Nada de
patrões, mas lideres, onde cada um colabora no esforço comum, sem estrelismo
excessivo. Com todos os craques que tínhamos, este espírito de equipe poderia
ter sido maior. Faço esta observação correndo o risco de estar escrevendo algo
que outros irão discordar fortemente, até porque futebol não é exatamente a
minha praia. Mas a verdade é que o time da Alemanha jogou com um grande
espírito de equipe e a vitória, quer queiramos ou não, foi merecida. A sorte também
jogou contra a nossa seleção e certamente o placar de goleada reflete isso.
Agora no final, acusações já são tecidas contra o Senhor
Luiz
Felipe Scolari, técnico
da seleção canarinho, vaias foram feitas contra o time, etc. Enfim, temos todo
um cenário de linchamento público. Gostaria de lembrar que dentre dezenas de
países, somos (no momento) o quarto melhor do mundo, título que agradaria
muitos povos, além de sermos penta campeões. Derrotas não desmerecem ninguém em
nenhum esporte. Vitória e derrota caminham juntas. O importante é que tanto em
uma como em outra saibamos manter o espírito esportivo. Com certeza toda a
seleção brasileira, não apenas os jogadores, mas incluindo-se ai o quadro técnico,
de apoio, etc, fez o possível ao seu alcance. Injusto é, depois de tudo, se
querer imediatamente a demissão do técnico, mudanças no time, etc, sem no
entanto não pararmos para pensar que talvez a mudança tenha que ser no preparo
da equipe ou na cultura excessiva de estrelismo, sem necessariamente cortar
cabeças para se achar bodes expiatórios.
Enfim a vida continua após a Copa. Precisamos
lembrar que Brasil é muito mais que um time de futebol. Brasil é uma nação, uma
das maiores do mundo, com um povo, uma história, diversidade cultural,
tradições, etc. difíceis de se encontrar em outros lugares. Nossas maiores
rivalidades com os hermanos são via de regra dentro de um campo de futebol,
mostrando a índole pacífica e boa da nossa gente, algo nem sempre encontrado
neste mundo tão maltratado por guerras e violência. E Copas? Outras virão!
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