segunda-feira, 14 de julho de 2014

Reflexões da Copa / Folha do Sul - 14.Julho.2014



Reflexões da Copa

Na minha humilde posição de não fanático por futebol, confessada algumas semanas atrás em outra coluna, me sinto a vontade para tecer alguns comentários sobre este evento (a Copa) que termina neste domingo sem estar inebriado por energias pessoais de nenhum tipo, positivas ou negativas. Estou escrevendo o artigo ainda no sábado e ainda não sei qual será o resultado do match Argentina versus Alemanha.
A primeira constatação é que mesmo sendo a seleção alemã a nossa carrasco em jogo anterior, o brasileiro médio irá torcer pela mesma seleção, aliás não é bem assim, a torcida na verdade é contra a Argentina. Definitivamente nossa rivalidade futebolística é mesmo contra os “hermanos”. Na falta da seleção brasileira, qualquer outra serve, mesmo a que desclassificou a seleção canarinho da final, contanto que derrote a  nossa grande rival. Casos de brasileiros torcendo pela seleção platina são tratados no noticiário como se fossem alguma espécie de mutação genética extremamente rara. Com certeza a reação dos hermanos seria a mesma numa situação semelhante, apenas contra nós, os grande rivais, afinal todos nós temos o calor latino a correr nas veias.
Segue-se a atitude da grande mídia, com um foco excessivo na Copa. Parecia que nada mais existia. Foi acabar o jogo contra a Alemanha e voltamos a ver as noticias de sempre. Quase despercebido foi o viaduto que caiu em Belo Horizonte e a motorista, esta sim a grande heroína, que na sua morte conseguiu salvar inúmeras vidas. 26 anos, jovem, bonita e com toda uma vida pela frente, Hanna Cristina deixou uma filha de cinco anos e teve a presença de espírito de frear o ônibus e evitar uma tragédia maior. O acidente com Neymar é lamentável, mas muito mais é o que aconteceu com esta moça. Outras partidas de futebol virão para Neymar, mas não teremos mais a companhia da Hanna. Certamente a tragédia de Minas merecia mais atenção do que o holofote, talvez excessivo, que foi jogado sobre os jogadores, muitas vezes em situações sem nenhuma relação com o esporte. Um pouco menos de estrelismo e mais humildade teria ajudado o time.
O time alemão também mostrou algo importante no futebol e na vida. Não tivemos estrelas lá, tivemos uma equipe. Nada de patrões, mas lideres, onde cada um colabora no esforço comum, sem estrelismo excessivo. Com todos os craques que tínhamos, este espírito de equipe poderia ter sido maior. Faço esta observação correndo o risco de estar escrevendo algo que outros irão discordar fortemente, até porque futebol não é exatamente a minha praia. Mas a verdade é que o time da Alemanha jogou com um grande espírito de equipe e a vitória, quer queiramos ou não, foi merecida. A sorte também jogou contra a nossa seleção e certamente o placar de goleada reflete isso.
Agora no final, acusações já são tecidas contra o Senhor Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção canarinho, vaias foram feitas contra o time, etc. Enfim, temos todo um cenário de linchamento público. Gostaria de lembrar que dentre dezenas de países, somos (no momento) o quarto melhor do mundo, título que agradaria muitos povos, além de sermos penta campeões. Derrotas não desmerecem ninguém em nenhum esporte. Vitória e derrota caminham juntas. O importante é que tanto em uma como em outra saibamos manter o espírito esportivo. Com certeza toda a seleção brasileira, não apenas os jogadores, mas incluindo-se ai o quadro técnico, de apoio, etc, fez o possível ao seu alcance. Injusto é, depois de tudo, se querer imediatamente a demissão do técnico, mudanças no time, etc, sem no entanto não pararmos para pensar que talvez a mudança tenha que ser no preparo da equipe ou na cultura excessiva de estrelismo, sem necessariamente cortar cabeças para se achar bodes expiatórios.
Enfim a vida continua após a Copa. Precisamos lembrar que Brasil é muito mais que um time de futebol. Brasil é uma nação, uma das maiores do mundo, com um povo, uma história, diversidade cultural, tradições, etc. difíceis de se encontrar em outros lugares. Nossas maiores rivalidades com os hermanos são via de regra dentro de um campo de futebol, mostrando a índole pacífica e boa da nossa gente, algo nem sempre encontrado neste mundo tão maltratado por guerras e violência. E Copas? Outras virão!

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