segunda-feira, 28 de julho de 2014

O Impasse / Folha do Sul - 28.Julho.2014



O Impasse

Karl Marx certa vez escreveu que a História só se repete como farsa. Na minha modesta posição eu tomo a coragem de discordar do Senhor Karl Marx. Não tenho a pretensão, nem a mais leve, de ir contra toda uma estrutura cultural acumulada ao longo de milênios, mas neste caso, eu me permito ir contra. Não concordo particularmente com o que hoje acontece na região que é hoje conhecida como Israel / Palestina. Cada vez que temos um conflito acontecendo lá, parece cópia dos anteriores, apenas os personagens vão mudando. Uma das coisas que também não muda é o número de mortos e feridos, sempre elevado, incluindo ai muitos com sequelas para a vida.
Começamos com os Palestinos. Um governo em Gaza (uma faixa de terra litorânea ao sul do tamanho de um município brasileiro) e outro na Cisjordânia. A Cisjordânia foi dada aos palestinos pelo Rei Hussein da Jordânia como parte do acordo com Israel para o estabelecimento de relações diplomáticas. O Estado Palestino compreenderia assim a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Nas rodadas diplomáticas prévias, como parte de um acordo, haveria um rearranjo (troca) de terras com Israel para se dar maior viabilidade econômica ao novo pais. Obviamente toda esta conversa neste momento é letra morta.
Então ficamos com a dinâmica da situação. Pelo menos uma das lideranças dos dois lados, estando desgastada politicamente, resolve tomar uma atitude, em geral uma provocação menor, dez anos atrás foi a caminhada do Senhor Sharon no Domo da Rocha (o templo com a cúpula dourada em Jerusalém, sob a administração dos clérigos muçulmanos), mais recentemente o sequestro e morte de dois soldados israelenses na fronteira com o Líbano, e nesta última situação, o sequestro e morte de três adolescentes israelenses. Ambos os lados já estão cansados de saber que a reação do outro lado pode ser bem pior do que esperado. Ambos os lados acabam provocando uma escalada da violência, e ambos os lados sabem que ao final da troca de “mesuras” militares, a fronteira estará no mesmo lugar e que teremos apenas que contar os mortos e feridos. Muitos deles entre a população civil. Melhor nem falar na destruição de prédios e infraestrutura em geral! O que se consegue de positivo no meio de tanta loucura?
Qual era o objetivo do Senhor Sharon ao entrar no Domo da Rocha, sabedor que ele era que o lugar tem um significado especial para os muçulmanos? Ao provocar a Intifada II, com toda a violência que se seguiu, ele terminou Primeiro Ministro. Qual o objetivo da liderança do Hamas, em um momento de baixa popularidade? Eu apostaria que, no final deste novo ciclo de violência, eles lá estarão na chefia de negócios em Gaza, assim como o Senhor Netaniahu em Israel. Não consigo identificar, principalmente na atual situação, outra razão além dos motivos das lideranças. Os dois lados erram em provocar o outro e os dois lados erram ao aceitar a provocação.
Escrevo esta análise fria dos fatos com grande pesar no coração. Nada mais iremos fazer no final desta estória além de contar mortos e feridos e ver a chance de uma paz definitiva e justa mais longe. Ódios ficarão queimando por mais uma geração e todo um esforço no sentido de uma solução política e pacífica será relegado a segundo plano. A maior tristeza fica por conta de tanta morte e destruição, seres humanos destruídos, muitos deles que irão viver seus dias sem a plenitude a que teriam direito, não apenas física, mas muitas vezes psicológica, pelo trauma da guerra.
Existe um ditado antigo que diz que apenas no cemitério, os mortos encontram a paz na Terra Santa. Por que os dois povos em conflito não se deixam adquirir de um pouco de bom senso e boa vontade? Tanto o judeu como o palestino tem raízes na Terra Santa. Negar isto seria renegar mais de 3.000 anos de História. Tanto um como o outro tem direito ao seu lugar ao sol. Os dois povos, por mais “macho” que tentem demonstrar, são compostos de seres humanos, que tem desde alegrias até tristezas, e que merecem ter uma vida normal e plena.
Pelo fim da violência e guerra no Oriente Médio e pela abertura imediata de negociações amplas de paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário