O Impasse
Karl Marx certa vez escreveu que a História só se
repete como farsa. Na minha modesta posição eu tomo a coragem de discordar do
Senhor Karl Marx. Não tenho a pretensão, nem a mais leve, de ir contra toda uma
estrutura cultural acumulada ao longo de milênios, mas neste caso, eu me
permito ir contra. Não concordo particularmente com o que hoje acontece na
região que é hoje conhecida como Israel / Palestina. Cada vez que temos um
conflito acontecendo lá, parece cópia dos anteriores, apenas os personagens vão
mudando. Uma das coisas que também não muda é o número de mortos e feridos,
sempre elevado, incluindo ai muitos com sequelas para a vida.
Começamos com os Palestinos. Um governo em Gaza
(uma faixa de terra litorânea ao sul do tamanho de um município brasileiro) e
outro na Cisjordânia. A Cisjordânia foi dada aos palestinos pelo Rei Hussein da
Jordânia como parte do acordo com Israel para o estabelecimento de relações
diplomáticas. O Estado Palestino compreenderia assim a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia. Nas rodadas diplomáticas prévias, como parte de um acordo, haveria
um rearranjo (troca) de terras com Israel para se dar maior viabilidade
econômica ao novo pais. Obviamente toda esta conversa neste momento é letra
morta.
Então ficamos com a dinâmica da situação. Pelo
menos uma das lideranças dos dois lados, estando desgastada politicamente,
resolve tomar uma atitude, em geral uma provocação menor, dez anos atrás foi a
caminhada do Senhor Sharon no Domo da Rocha (o templo com a cúpula dourada em
Jerusalém, sob a administração dos clérigos muçulmanos), mais recentemente o
sequestro e morte de dois soldados israelenses na fronteira com o Líbano, e
nesta última situação, o sequestro e morte de três adolescentes israelenses.
Ambos os lados já estão cansados de saber que a reação do outro lado pode ser
bem pior do que esperado. Ambos os lados acabam provocando uma escalada da
violência, e ambos os lados sabem que ao final da troca de “mesuras” militares,
a fronteira estará no mesmo lugar e que teremos apenas que contar os mortos e
feridos. Muitos deles entre a população civil. Melhor nem falar na destruição
de prédios e infraestrutura em geral! O que se consegue de positivo no meio de
tanta loucura?
Qual era o objetivo do Senhor Sharon ao entrar no
Domo da Rocha, sabedor que ele era que o lugar tem um significado especial para
os muçulmanos? Ao provocar a Intifada II, com toda a violência que se seguiu,
ele terminou Primeiro Ministro. Qual o objetivo da liderança do Hamas, em um
momento de baixa popularidade? Eu apostaria que, no final deste novo ciclo de
violência, eles lá estarão na chefia de negócios em Gaza, assim como o Senhor
Netaniahu em Israel. Não consigo identificar, principalmente na atual situação,
outra razão além dos motivos das lideranças. Os dois lados erram em provocar o
outro e os dois lados erram ao aceitar a provocação.
Escrevo esta análise fria dos fatos com grande
pesar no coração. Nada mais iremos fazer no final desta estória além de contar
mortos e feridos e ver a chance de uma paz definitiva e justa mais longe. Ódios
ficarão queimando por mais uma geração e todo um esforço no sentido de uma
solução política e pacífica será relegado a segundo plano. A maior tristeza
fica por conta de tanta morte e destruição, seres humanos destruídos, muitos
deles que irão viver seus dias sem a plenitude a que teriam direito, não apenas
física, mas muitas vezes psicológica, pelo trauma da guerra.
Existe um ditado antigo que diz que apenas no
cemitério, os mortos encontram a paz na Terra Santa. Por que os dois povos em
conflito não se deixam adquirir de um pouco de bom senso e boa vontade? Tanto o
judeu como o palestino tem raízes na Terra Santa. Negar isto seria renegar mais
de 3.000 anos de História. Tanto um como o outro tem direito ao seu lugar ao
sol. Os dois povos, por mais “macho” que tentem demonstrar, são compostos de
seres humanos, que tem desde alegrias até tristezas, e que merecem ter uma vida
normal e plena.
Pelo fim da violência e guerra no Oriente Médio e
pela abertura imediata de negociações amplas de paz.
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