segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Polo Carboquímico / Folha do Sul - 8.Dezembro.2013



Polo Carboquímico

Está nas principais páginas dos jornais. O governo gaúcho assinou com os chineses um memorando de entendimento para que possa ocorrer uma parceria tecnológica na área do carvão mineral. Além da area de mineração, tem um destaque especial a parte de processamento do carvão, leia-se gaseificação e liquefação do mesmo. Atualmente o principal uso do carvão gaúcho, praticamente o único, é a queima direta para a produção de energia. A assinatura de tal memorando sinaliza que o governo do estado está mais do que consciente do grande potencial do nosso carvão. O domínio da tecnologia de gaseificação significará também a viabilização do uso do gás de síntese (resultante da gaseificação) na produção de energia e carboquímicos (metanol, amônia, polietileno, polipropileno, ureia, etc).
O grande pulo de desenvolvimento chinês nos últimos 30, 40 anos fizeram com que a produção de energia fosse um dos mais alavancados. A produção de eletricidade é gigantesca (mais de 1000 GW), 10 vezes a brasileira, e mais de 60% disto é obtido pela queima do carvão mineral. A grande vantagem chinesa na área não é apenas o gigantismo dos seus números, mas os avanços tecnológicos que naturalmente tendem a ocorrer lá. O programa de modernização da indústria carbonífera chinesa dá uma grande ênfase no aspecto ambiental. Certamente, até por causa de similaridades históricas, a parceria Brasil – China possui aspectos sinergéticos importantíssimos.
O avanço na absorção da tecnologia da gaseificação (e também da liquefação) significa uma melhor adequação das opções que a indústria possui hoje tanto na área de energia como de matéria-prima. Um exemplo imediato na nossa região é a indústria cerâmica. Possuímos argila de primeiríssima qualidade, argila esta que está entre uma camada e outra do carvão de Candiota. Na falta de compradores, esta argila é depositada de volta na mina. A possibilidade do uso desta argila criaria toda uma sequência de acontecimentos políticos e econômicos que são de difícil previsão. A possibilidade de obtenção de carboquímicos, que hoje são obtidos por via petroquímica, tais como o metanol, eteno, ureia, etc, geraria toda uma cadeia de eventos e interesses cujo único paralelo histórico seria talvez a instalação do polo petroquímico de Camaçari na Bahia.
O aspecto ambiental e o energético também seriam afetados numa escala sem precedentes na história da região. Uma maior eficiência na produção de energia com menos poluição, alias pelo contrario, com um melhor uso dos “resíduos” traria por si só benefícios tremendos. Coloco “resíduos” entre aspas pois os considero muito mais como matérias primas valiosas do que como problemas ambientais.
Aparentemente, pelo que foi publicado, está prevista a instalação de uma planta piloto para gaseificação no município de Candiota. Outros atores estão despertando para isto, incluindo empresas estrangeiras (não chinesas) e uma nacional. A empresa nacional também pretende instalar uma usina de energia, baseada em gaseificação e célula de combustível. Uma célula de combustível é um dispositivo em que eletricidade é produzida eletroquímicamente a partir do gás de síntese, evitando-se assim os desperdícios de um motor de combustão interna.
Carvão, carboquímica, polo cerâmico, aumento da produção energética, etc. Todo este desenvolvimento irá trazer consequências nas áreas de comércio e serviços. Certamente a estrutura política sofrerá modificações, para melhor. Mais pessoas, mais dinheiro circulando trarão inevitavelmente estas mudanças. Com as mudanças que já ocorrem na área agropecuária (soja, vinicultura, oliveiras, etc), uma nova mudança (para melhor) no Pampa Gaúcho está a caminho catalisada pela assinatura de um acordo em Porto Alegre.

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