Polo Carboquímico
Está nas principais páginas dos jornais. O governo gaúcho assinou com os chineses um memorando de entendimento para que possa
ocorrer uma parceria tecnológica na área do carvão mineral. Além da area de
mineração, tem um destaque especial a parte de processamento do carvão, leia-se
gaseificação e liquefação do mesmo. Atualmente o principal uso do carvão gaúcho, praticamente o único, é a queima direta para a produção de energia. A
assinatura de tal memorando sinaliza que o governo do estado está mais do que
consciente do grande potencial do nosso carvão. O domínio da tecnologia de
gaseificação significará também a viabilização do uso do gás de síntese
(resultante da gaseificação) na produção de energia e carboquímicos (metanol,
amônia, polietileno, polipropileno, ureia, etc).
O grande pulo de desenvolvimento chinês nos últimos
30, 40 anos fizeram com que a produção de energia fosse um dos mais
alavancados. A produção de eletricidade é gigantesca (mais de 1000 GW), 10
vezes a brasileira, e mais de 60% disto é obtido pela queima do carvão mineral.
A grande vantagem chinesa na área não é apenas o gigantismo dos seus números,
mas os avanços tecnológicos que naturalmente tendem a ocorrer lá. O programa de
modernização da indústria carbonífera chinesa dá uma grande ênfase no aspecto
ambiental. Certamente, até por causa de similaridades históricas, a parceria
Brasil – China possui aspectos sinergéticos importantíssimos.
O avanço na absorção da tecnologia da gaseificação
(e também da liquefação) significa uma melhor adequação das opções que a
indústria possui hoje tanto na área de energia como de matéria-prima. Um
exemplo imediato na nossa região é a indústria cerâmica. Possuímos argila de
primeiríssima qualidade, argila esta que está entre uma camada e outra do
carvão de Candiota. Na falta de compradores, esta argila é depositada de volta
na mina. A possibilidade do uso desta argila criaria toda uma sequência de
acontecimentos políticos e econômicos que são de difícil previsão. A
possibilidade de obtenção de carboquímicos, que hoje são obtidos por via
petroquímica, tais como o metanol, eteno, ureia, etc, geraria toda uma cadeia
de eventos e interesses cujo único paralelo histórico seria talvez a instalação
do polo petroquímico de Camaçari na Bahia.
O aspecto ambiental e o energético também seriam
afetados numa escala sem precedentes na história da região. Uma maior
eficiência na produção de energia com menos poluição, alias pelo contrario, com
um melhor uso dos “resíduos” traria por si só benefícios tremendos. Coloco
“resíduos” entre aspas pois os considero muito mais como matérias primas
valiosas do que como problemas ambientais.
Aparentemente, pelo que foi publicado, está
prevista a instalação de uma planta piloto para gaseificação no município de Candiota. Outros atores estão despertando para isto, incluindo empresas
estrangeiras (não chinesas) e uma nacional. A empresa nacional também pretende
instalar uma usina de energia, baseada em gaseificação e célula de combustível.
Uma célula de combustível é um dispositivo em que eletricidade é produzida
eletroquímicamente a partir do gás de síntese, evitando-se assim os
desperdícios de um motor de combustão interna.
Carvão, carboquímica, polo cerâmico, aumento da
produção energética, etc. Todo este desenvolvimento irá trazer consequências
nas áreas de comércio e serviços. Certamente a estrutura política sofrerá modificações,
para melhor. Mais pessoas, mais dinheiro circulando trarão inevitavelmente
estas mudanças. Com as mudanças que já ocorrem na área agropecuária (soja,
vinicultura, oliveiras, etc), uma nova mudança (para melhor) no Pampa Gaúcho
está a caminho catalisada pela assinatura de um acordo em Porto Alegre.
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