Armadilhas Urbanas
Bloco quatro da Universidade Federal
do Pampa em Bagé. É onde fica, entre outras coisas, o Curso de Música. Duas
moças são presenças quase diárias neste bloco, na verdade mãe e filha, a
senhora Semira de Fátima Serpa e a senhorita Rosane Serpa Fraga. Rosane é, na
verdade, aluna do Curso de Música, e eu diria que tremendamente esforçada, pois
todos os dias as duas vem de Hulha Negra para as aulas da Rosane. A presença da
mãe da Rosane, Dona Semira, é necessária, devido ao fato de Rosane é deficiente
visual total.
O fato de ter nascido sem o dom da
visão não impede que Rosane tenha seus sonhos, que se esforce para alcança-los.
Na verdade muitas pessoas cegas acabam se tornando grandes músicos
provavelmente porque a audição se aguça para compensar a falta da visão. Fico
admirado em ver a perseverança e esforço da Rosane e o Amor e dedicação da Dona
Semira. Amor de mãe não se discute, mas Dona Semira é como um anjo para a
Rosane, que assim tem a possibilidade de conseguir concretizar seu sonho.
Outras pessoas com deficiência visual (e outros tipos de limitação física)
estão presentes no dia a dia da UNIPAMPA. Podemos vê-las no corredor e é
importante o apoio que é dado para que elas possam se realizar como pessoas e
cidadãos.
Mas será realmente necessária a
presença de um “cuidador” como a Dona Semira? Lamentavelmente quando vemos a
presença de buracos, pontas de ferro, e outros arranjos ao longo das calçadas
da cidade, ficamos a nos perguntar qual o sentimento de civilidade cristã que
temos com estas pessoas? Mesmo para as pessoas ditas “normais” muitas vezes é
complicado até mesmo atravessar uma rua. Quero deixar bem claro aqui que
normalidade também é uma coisa muito relativa, pois no final todos nós podemos
ser atingidos, num descuido qualquer, por um objeto a espreita no passeio ou no
meio fio.
Existem pontas de ferro brotando em
várias calçadas. Buracos aparecem a todo instante. Rosane me contou que já teve
amigos, também deficientes visuais, engolidos por bocas de lobo. As faixas de
travessia deveriam ter uma camada de asfalto pelo menos ali para permitir aos
cadeirantes uma travessia mais segura. Alias nos sinais de trânsito, um apito
indicador para os deficientes visuais seria de bom tamanho. Imagino que quem
poderia dizer melhor sobre estas necessidades seriam os próprios deficientes.
Estas pessoas são tão humanas como eu
e você. A presença destas armadilhas nos passeios fere a sensibilidade de
qualquer um e se tornam verdadeiras armas prontas a atingir estas mesmas
pessoas que o sistema deveria proteger e não permitir que elas possam ser
atingidas na sua integridade física por simplesmente exercerem seu direito de
sair na rua.
Uma sociedade humana deve primar por
ter sensibilidade com aqueles que tem algum tipo de limitação física. Nosso
grau como civilização é medido em grande parte por ai. Deixo a esperança que
este artigo toque a sensibilidade de algum centro de decisão na nossa cidade e
que alguma providência seja tomada para melhorar a qualidade de vida destas
pessoas.
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