quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Energia e Democracia / Folha do Sul - 5.Janeiro.2015



Energia e Democracia

Nosso pais está contaminado. Uma doença contagiosa que se alastra por várias outras nações. Os especialistas no assunto a denominam “Maldição do Petróleo”. É basicamente quando o poder em um pais produtor de petróleo é tomado de assalto por um determinado grupo que usa de todos os meios para se manter lá. As benesses do monopólio do “óleo da terra” são usufruídas por este grupo que joga migalhas para o povo, esmagando de todas as formas toda e qualquer oposição. Qualquer atitude ou intervenção vale, legal ou não, contanto que o dinheiro no pipeline petrolífero continue fluindo. Exemplos bem tipificados disto são Venezuela, Nigéria e Líbia. Apesar de toda a riqueza que o petróleo traz, ela acaba concentrada na mão de poucos. Se alguém tem dúvidas sobre isso, basta se debruçar na situação atual da nossa vizinha Venezuela, imersa em problemas.
Felizmente, Deus é brasileiro (para contrabalançar, temos um papa argentino!) e não nos foi dada a facilidade de se extrair o petróleo como em outros países. Nosso óleo, apesar de abundante, é de difícil extração, e caro, realmente caro. A diferença entre o custo de extração do óleo na Arábia Saudita e no pré-sal é de 10 ou 20 vezes. Por “conspiração”, falta de organização, ou burrice mesmo, não se têm estes dados com exatidão. Mas mesmo com os dados divulgados, com certeza este nosso petróleo é bem caro, falando-se em um custo de extração em alguns campos de até 70 dólares americanos por barril (um barril equivale a 159 litros). Com o preço em queda, tendendo a menos de US$ 60 por barril, fica difícil, fora razões estratégicas, justificar o uso deste petróleo verde-amarelo mais caro. Estamos doentes com a tal “maldição”, mas no nosso caso, a doença é leve, e provavelmente depois da “cura”, teremos anticorpos contra uma nova contaminação. A ação dos entes judiciais públicos contra a corrupção na nossa estatal petrolífera é mais que bem vinda pela imensa maioria da sociedade. Petróleo significa riqueza, mas também apresenta lamentáveis vícios socioeconômicos de origem. Em outras palavras, na realidade do dia a dia, o discurso é outro.
Mas algo novo está no ar. Novas fontes de energia estão disputando palmo a palmo o terreno com o negro petróleo. Energias eólica, hidrelétrica, geotérmica, etc. estão, a cada dia, mais baratas e eficientes. Estas fontes de energia não são monopólio deste ou daquele grupo. Muito embora provavelmente podemos esperar para em breve serem criados grupos de trabalho conspirando em Brasília para criarmos uma “Ventobrás” estatal para deixarmos o monopólio dos ventos brasileiros com o governo. As criancinhas que forem ao parque de diversão precisarão primeiro ver se isto já não virou em lei pois ao usarem seus cata ventinhos de brinquedo estarão quebrando o monopólio e portanto serão passiveis de cadeia e processo criminal. Apesar da brincadeira, com o histórico de nossos gestores em Brasília, podemos esperar de tudo.
A grande vantagem destas novas fontes, cada dia mais eficientes, eu repito, é que dificilmente se poderá justificar uma “Ventobrás”. Mesmo o setor elétrico é, a cada dia, mais tendencioso para desregulamentação e investimentos privados. A administração de um negócio de características privadas e descentralizadas pelo governo cria distorções imensas difíceis de serem administradas. O resultado acaba sendo corrupção ou tendência à mesma. Nossos problemas com empresas estatais, Petrobrás a frente, têm portanto raízes estruturais profundas que só podem ser eliminadas com uma mudança estrutural profunda incluindo se ai desregulamentação. A questão que fica é se a sociedade brasileira está pronta a aceitar isto. As mudanças no setor telefônico, apesar de parciais e limitadas, mostraram a força disto. A democracia se consolidou com a democratização dos telefones, que apesar de ainda serem caros, tanto em nível do padrão econômico da população como em comparação com outros países, permitindo que a população como um todo pudesse finalmente usufruir deste meio de comunicação moderno. Democracia, tanto política como econômica, é exercida com desregulamentação, descentralização, ética e respeito à lei. É por isso que as energias renováveis, mais do que bem vindas, poderão ser a base de uma sociedade muito melhor e infinitamente mais democrática.

Nenhum comentário:

Postar um comentário