Energia e Democracia
Nosso pais está contaminado. Uma
doença contagiosa que se alastra por várias outras nações. Os especialistas no
assunto a denominam “Maldição do Petróleo”. É basicamente quando o poder em um
pais produtor de petróleo é tomado de assalto por um determinado grupo que usa
de todos os meios para se manter lá. As benesses do monopólio do “óleo da
terra” são usufruídas por este grupo que joga migalhas para o povo, esmagando
de todas as formas toda e qualquer oposição. Qualquer atitude ou intervenção
vale, legal ou não, contanto que o dinheiro no pipeline petrolífero continue
fluindo. Exemplos bem tipificados disto são Venezuela, Nigéria e Líbia. Apesar
de toda a riqueza que o petróleo traz, ela acaba concentrada na mão de poucos.
Se alguém tem dúvidas sobre isso, basta se debruçar na situação atual da nossa
vizinha Venezuela, imersa em problemas.
Felizmente, Deus é brasileiro (para
contrabalançar, temos um papa argentino!) e não nos foi dada a facilidade de se
extrair o petróleo como em outros países. Nosso óleo, apesar de abundante, é de
difícil extração, e caro, realmente caro. A diferença entre o custo de extração
do óleo na Arábia Saudita e no pré-sal é de 10 ou 20 vezes. Por “conspiração”,
falta de organização, ou burrice mesmo, não se têm estes dados com exatidão. Mas
mesmo com os dados divulgados, com certeza este nosso petróleo é bem caro,
falando-se em um custo de extração em alguns campos de até 70 dólares
americanos por barril (um barril equivale a 159 litros). Com o preço em queda,
tendendo a menos de US$ 60 por barril, fica difícil, fora razões estratégicas,
justificar o uso deste petróleo verde-amarelo mais caro. Estamos doentes com a
tal “maldição”, mas no nosso caso, a doença é leve, e provavelmente depois da
“cura”, teremos anticorpos contra uma nova contaminação. A ação dos entes
judiciais públicos contra a corrupção na nossa estatal petrolífera é mais que
bem vinda pela imensa maioria da sociedade. Petróleo significa riqueza, mas
também apresenta lamentáveis vícios socioeconômicos de origem. Em outras
palavras, na realidade do dia a dia, o discurso é outro.
Mas algo novo está no ar. Novas
fontes de energia estão disputando palmo a palmo o terreno com o negro
petróleo. Energias eólica, hidrelétrica, geotérmica, etc. estão, a cada dia,
mais baratas e eficientes. Estas fontes de energia não são monopólio deste ou
daquele grupo. Muito embora provavelmente podemos esperar para em breve serem
criados grupos de trabalho conspirando em Brasília para criarmos uma “Ventobrás”
estatal para deixarmos o monopólio dos ventos brasileiros com o governo. As
criancinhas que forem ao parque de diversão precisarão primeiro ver se isto já
não virou em lei pois ao usarem seus cata ventinhos de brinquedo estarão
quebrando o monopólio e portanto serão passiveis de cadeia e processo criminal.
Apesar da brincadeira, com o histórico de nossos gestores em Brasília, podemos
esperar de tudo.
A grande vantagem destas novas
fontes, cada dia mais eficientes, eu repito, é que dificilmente se poderá justificar
uma “Ventobrás”. Mesmo o setor elétrico é, a cada dia, mais tendencioso para
desregulamentação e investimentos privados. A administração de um negócio de
características privadas e descentralizadas pelo governo cria distorções
imensas difíceis de serem administradas. O resultado acaba sendo corrupção ou
tendência à mesma. Nossos problemas com empresas estatais, Petrobrás a frente,
têm portanto raízes estruturais profundas que só podem ser eliminadas com uma
mudança estrutural profunda incluindo se ai desregulamentação. A questão que
fica é se a sociedade brasileira está pronta a aceitar isto. As mudanças no
setor telefônico, apesar de parciais e limitadas, mostraram a força disto. A
democracia se consolidou com a democratização dos telefones, que apesar de
ainda serem caros, tanto em nível do padrão econômico da população como em
comparação com outros países, permitindo que a população como um todo pudesse
finalmente usufruir deste meio de comunicação moderno. Democracia, tanto
política como econômica, é exercida com desregulamentação, descentralização,
ética e respeito à lei. É por isso que as energias renováveis, mais do que bem
vindas, poderão ser a base de uma sociedade muito melhor e infinitamente mais
democrática.
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