segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Gargalo - Folha do Sul / 19.Agosto.2013



 O Gargalo

Somos um pais continental! Achamos os Estados Unidos um pais gigantesco, mas no entanto, se tirarmos o Alasca, somos praticamente iguais em tamanho. A Europa cabe toda no nosso território, e não apenas em área: podemos recortar os países e com um pouco de esforço, dá para colocar todos eles encaixados no nosso mapa. Um grande ponto é que na maior parte deste Brasil enorme as áreas são verdes! Quem anda de avião nos Estados Unidos, vê uma grande mancha amarela, um imenso deserto. Aqui no Brasil a mancha é verde. Realmente, e sem demagogias, temos um pais abençoado como poucos no mundo. Em outros lugares como a Rússia, quando não são desertos, temos o frio, não de eventuais zero graus, mas de menos 30 em boa parte do ano.
O grande paradoxo é que se olharmos uma foto do mundo tirada a noite, podemos ver que fora o sul sudeste e a região do litoral, temos um imenso vazio sem luzes. Apesar de tanta potencialidade, ainda temos muito a fazer para realmente preenchermos as lacunas do interior brasileiro.
Portanto com tantos recursos naturais e este clima tão bom, precisamos aproveitar melhor as nossas riquezas. Para isto precisamos de infraestrutura, principalmente de transporte. Desde o governo JK foi feita a opção pela rodovia. Nossas estradas de ferro entraram em decadência e pouco a pouco ficamos viciados em carros e caminhões. Com a onda de privatizações na década de 90, esta tendência começou a se reverter, mas muito mal já tinha sido feito. O “custo Brasil” acaba no final sendo pago por toda a sociedade brasileira. Este custo é a manutenção dos caminhões, das estradas, o desgaste dos veículos devido a buraqueira, os grãos que ficam na estrada, a fila de veículos nos portos. Isto sem contar com o desgaste humano de tantos acidentes na estrada.
Transporte rodoviário é um investimento inicial relativamente mais barato que a ferrovia, mas ao longo do tempo o trem acaba sendo a melhor opção. Para um pais com as nossas dimensões, é estratégico termos uma malha ferroviária de primeira, se quisermos ocupar e utilizar economicamente os espaços que estão ai prontos para serem preenchidos. Nossa interiorização passa necessariamente pela instalação de uma infraestrutura que dê suporte para podermos cumprir o nosso destino e sairmos finalmente da armadilha histórica de ficarmos concentrados, pelo menos economicamente em certas áreas, sul, sudeste, litoral do nordeste, etc. A grande aventura brasileira está ai, na nossa frente, pronta para acontecer! Podemos escutar os ecos da grande marcha americana para oeste ou da russa para leste. Mas não temos desertos ou tundra congelada e sim um solo de primeira, clima fantástico e riquezas minerais que nem fazemos ideia. Nossa “aventura” será muito mais rica que as que nos precederam em outras partes do mundo.
Muito já foi feito. A agricultura é pujante no centro do pais, mas ainda temos muita pobreza lá e muito precisa ser feito se quisermos avançar. Em outras palavras, precisamos de eficiência para escoarmos nossa produção e termos competitividade à nível internacional. Com um giro maior de dinheiro, naturalmente estas áreas irão ter cada vez mais investimentos e será natural uma migração do litoral para o interior, devido ao atrativo que novas oportunidades de trabalho irão trazer.
Felizmente na nossa região temos tanto uma boa infraestrutura de transporte rodoviário como ferroviário. E mais importante ainda, ambas as vias levam ao Rio Grande, onde temos um porto de primeira. Com as novas culturas que estão ai, cada vez maiores, tais como a soja, pode-se esperar um uso cada vez mais intenso destes meios de transporte. Imagine-se se este nosso exemplo puder ser seguido Brasil afora. O interior do Centro-oeste ligado ao litoral por ferrovia. Quanta riqueza seria ganha ou deixaria de ser perdida com uma mudança estrutural do escoamento da produção.
Lamentável escutar na imprensa que o Governo insiste no trem bala entre Rio e São Paulo, orçado em quase 40 bilhões de reais, dinheiro que poderia ser empregado mais sabiamente no aumento e melhoria da malha ferroviária no interior do pais. O grande gargalo brasileiro para criação de riquezas não está nas grandes capitais e sim na conquista, não física, mas econômica do nosso enorme interior, cheio de potencialidades.

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