O Gargalo
Somos um pais continental! Achamos os Estados
Unidos um pais gigantesco, mas no entanto, se tirarmos o Alasca, somos
praticamente iguais em tamanho. A Europa cabe toda no nosso território, e não
apenas em área: podemos recortar os países e com um pouco de esforço, dá para
colocar todos eles encaixados no nosso mapa. Um grande ponto é que na maior
parte deste Brasil enorme as áreas são verdes! Quem anda de avião nos Estados
Unidos, vê uma grande mancha amarela, um imenso deserto. Aqui no Brasil a
mancha é verde. Realmente, e sem demagogias, temos um pais abençoado como
poucos no mundo. Em outros lugares como a Rússia, quando não são desertos,
temos o frio, não de eventuais zero graus, mas de menos 30 em boa parte do ano.
O grande paradoxo é que se olharmos uma foto do
mundo tirada a noite, podemos ver que fora o sul sudeste e a região do litoral,
temos um imenso vazio sem luzes. Apesar de tanta potencialidade, ainda temos
muito a fazer para realmente preenchermos as lacunas do interior brasileiro.
Portanto com tantos recursos naturais e este clima
tão bom, precisamos aproveitar melhor as nossas riquezas. Para isto precisamos
de infraestrutura, principalmente de transporte. Desde o governo JK foi feita a
opção pela rodovia. Nossas estradas de ferro entraram em decadência e pouco a
pouco ficamos viciados em carros e caminhões. Com a onda de privatizações na
década de 90, esta tendência começou a se reverter, mas muito mal já tinha sido
feito. O “custo Brasil” acaba no final sendo pago por toda a sociedade
brasileira. Este custo é a manutenção dos caminhões, das estradas, o desgaste
dos veículos devido a buraqueira, os grãos que ficam na estrada, a fila de
veículos nos portos. Isto sem contar com o desgaste humano de tantos acidentes
na estrada.
Transporte rodoviário é um investimento inicial
relativamente mais barato que a ferrovia, mas ao longo do tempo o trem acaba
sendo a melhor opção. Para um pais com as nossas dimensões, é estratégico
termos uma malha ferroviária de primeira, se quisermos ocupar e utilizar
economicamente os espaços que estão ai prontos para serem preenchidos. Nossa
interiorização passa necessariamente pela instalação de uma infraestrutura que
dê suporte para podermos cumprir o nosso destino e sairmos finalmente da armadilha
histórica de ficarmos concentrados, pelo menos economicamente em certas áreas,
sul, sudeste, litoral do nordeste, etc. A grande aventura brasileira está ai,
na nossa frente, pronta para acontecer! Podemos escutar os ecos da grande
marcha americana para oeste ou da russa para leste. Mas não temos desertos ou
tundra congelada e sim um solo de primeira, clima fantástico e riquezas
minerais que nem fazemos ideia. Nossa “aventura” será muito mais rica que as
que nos precederam em outras partes do mundo.
Muito já foi feito. A agricultura é pujante no
centro do pais, mas ainda temos muita pobreza lá e muito precisa ser feito se
quisermos avançar. Em outras palavras, precisamos de eficiência para escoarmos
nossa produção e termos competitividade à nível internacional. Com um giro
maior de dinheiro, naturalmente estas áreas irão ter cada vez mais
investimentos e será natural uma migração do litoral para o interior, devido ao
atrativo que novas oportunidades de trabalho irão trazer.
Felizmente na nossa região temos tanto uma boa
infraestrutura de transporte rodoviário como ferroviário. E mais importante
ainda, ambas as vias levam ao Rio Grande, onde temos um porto de primeira. Com
as novas culturas que estão ai, cada vez maiores, tais como a soja, pode-se
esperar um uso cada vez mais intenso destes meios de transporte. Imagine-se se
este nosso exemplo puder ser seguido Brasil afora. O interior do Centro-oeste
ligado ao litoral por ferrovia. Quanta riqueza seria ganha ou deixaria de ser
perdida com uma mudança estrutural do escoamento da produção.
Lamentável escutar na imprensa que o Governo
insiste no trem bala entre Rio e São Paulo, orçado em quase 40 bilhões de
reais, dinheiro que poderia ser empregado mais sabiamente no aumento e melhoria
da malha ferroviária no interior do pais. O grande gargalo brasileiro para
criação de riquezas não está nas grandes capitais e sim na conquista, não
física, mas econômica do nosso enorme interior, cheio de potencialidades.
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