Importação de Emergência
Anos atrás tivemos uma crise no Rio de Janeiro. Por
incrível que pareça faltou feijão preto no mercado. Para o carioca isso
equivaleu ao fim do mundo. Feijão com arroz é a alimentação básica no Brasil em
geral e no Rio de Janeiro em particular. E para o carioca, nada de feijão
fradinho, mulatinho, branco, etc. O carioca gosta mesmo é do feijão preto. A
solução encontrada pelo Ministro responsável pela área foi a de importar uma
“mistura de algo” que iria substituir o alimento básico.... Não me lembro ao certo
qual era a composição do negócio, mas os problemas que surgiram e o embaraço
das autoridades, essa parte é memorável. A tal mistura era difícil de cozinhar
e o que é pior, ninguém queria comer aquilo. Resultado: ficou encalhado nas
prateleiras e o Governo teve no final que importar o feijão! Feijão de verdade!
2013! Povo na rua pedindo mais saúde, educação,
etc. No item saúde, o governo identificou, com apoio da grande mídia, que temos
falta de médicos. Aparentemente o item infraestrutura (hospitais, postos de
saúde, equipamentos, etc) não é tanto importante, nem mesmo a falta de escolas
de medicina. O negócio é a falta de médicos! Para resolver isso, a solução
achada, tal como na importação da “mistura de algo”, é trazer médicos
estrangeiros. Para agilizar isto, os burocratas de plantão, na Ilha da Fantasia
(Brasília), resolveram que eles poderão vir apenas mostrando o diploma de onde
se formaram, com uma análise mínima por parte dos órgãos competentes. Pelo
menos isto é o que apareceu na imprensa. Como se isto não bastasse, o governo
quer complicar ainda mais a vida dos estudantes de medicina locais com mais
exigências.
Um diploma de qualquer tipo, reconhecido pelo
Estado, dá ao portador o direito de exercer esta ou aquela profissão. Um
médico, um engenheiro, um advogado, etc, enfim todos os profissionais passam
por uma máquina de moer carne, ou pelos menos assim se espera, para que
tenhamos a certeza de que temos profissionais qualificados nas mãos dos quais
literalmente colocamos nossas vidas. Imagine-se sendo operado por um charlatão,
ou um prédio sendo projetado por um “curioso” da área. As restrições e
barreiras foram montadas para exatamente podermos ter um mínimo de confiança
nos profissionais. Diplomas tirados no exterior, para serem revalidados aqui no
Brasil seguem uma rota burocrática extenuante e por vezes até excessiva, onde
anos podem se passar até que o mesmo seja aceito.
Como um pais de imigrantes, sempre acolhemos de
braços abertos aqueles que quiseram escolher este nosso pais como nova pátria.
Muitas vezes criticamos o Brasil por este ou aquele motivo, mas nos esquecemos
de onde vieram nossos avós e quais as razões que os levaram a vir para cá,
muitas vezes nas situações as mais precárias. Sendo assim, num pais construído
por imigrantes e com tradição nisto, não há nenhuma razão para que
profissionais estrangeiros de qualquer área não possam vir trabalhar aqui. O
único problema é que estes profissionais, não importa de que área, tem que
obrigatoriamente passar pela rito de revalidação de diploma estrangeiro, assim
como todo mundo sempre passou, inclusive os próprios brasileiros formados no
exterior.
A proposta do Governo, se for realmente implantada,
abrirá um precedente perigoso, inclusive para outras áreas. Na falta de
engenheiros, importaremos os mesmos sem qualquer critério, idem para advogados,
enfermeiros, arquitetos e assim por diante. Um precedente deste tipo abrirá as
portas para todo tipo de “solução” que nada irá resolver. Parecerá bom para os
habitantes da Ilha da Fantasia, que assim poderão imaginar estar resolvendo os
problemas fora da mesma Ilha.
Mas tal e qual na importação da “mistura de algo”,
os problemas serão piores. Em vez do feijão preto, teremos médicos sem
revalidação do diploma. Pouco saberemos deles e numa situação de emergência,
coisas ruins podem acontecer e a quem iremos depois responsabilizar?! O Governo
está tomando decisões perigosas em áreas sensíveis sem nem mesmo escutar, ou se
fazendo de surdo, ao que os órgãos competentes e representantes de classe estão
dissendo e enfatizando.Para nós, simples cidadãos, restará a esperança, nos
anos que se seguirem, caso estas “importações” ocorram realmente, que o médico
na nossa frente seja realmente qualificado como precisamos.
Além de professor, és vidente? ahuahauahuaha...Brincadeiras à parte, ao princípio dessa semana escutei na Gaúcha a notícia de que nossa presidente já está a estudar a vinda de engenheiros! E, em seguida, me deparo com a seguinte matéria - http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-08-13/importacao-de-medicos-engenheiros-e--professores-e-pipoqueiros.html
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