terça-feira, 6 de agosto de 2013

Importação de Emergência - Folha do Sul / 5.Agosto.2013



 Importação de Emergência

Anos atrás tivemos uma crise no Rio de Janeiro. Por incrível que pareça faltou feijão preto no mercado. Para o carioca isso equivaleu ao fim do mundo. Feijão com arroz é a alimentação básica no Brasil em geral e no Rio de Janeiro em particular. E para o carioca, nada de feijão fradinho, mulatinho, branco, etc. O carioca gosta mesmo é do feijão preto. A solução encontrada pelo Ministro responsável pela área foi a de importar uma “mistura de algo” que iria substituir o alimento básico.... Não me lembro ao certo qual era a composição do negócio, mas os problemas que surgiram e o embaraço das autoridades, essa parte é memorável. A tal mistura era difícil de cozinhar e o que é pior, ninguém queria comer aquilo. Resultado: ficou encalhado nas prateleiras e o Governo teve no final que importar o feijão! Feijão de verdade!
2013! Povo na rua pedindo mais saúde, educação, etc. No item saúde, o governo identificou, com apoio da grande mídia, que temos falta de médicos. Aparentemente o item infraestrutura (hospitais, postos de saúde, equipamentos, etc) não é tanto importante, nem mesmo a falta de escolas de medicina. O negócio é a falta de médicos! Para resolver isso, a solução achada, tal como na importação da “mistura de algo”, é trazer médicos estrangeiros. Para agilizar isto, os burocratas de plantão, na Ilha da Fantasia (Brasília), resolveram que eles poderão vir apenas mostrando o diploma de onde se formaram, com uma análise mínima por parte dos órgãos competentes. Pelo menos isto é o que apareceu na imprensa. Como se isto não bastasse, o governo quer complicar ainda mais a vida dos estudantes de medicina locais com mais exigências.
Um diploma de qualquer tipo, reconhecido pelo Estado, dá ao portador o direito de exercer esta ou aquela profissão. Um médico, um engenheiro, um advogado, etc, enfim todos os profissionais passam por uma máquina de moer carne, ou pelos menos assim se espera, para que tenhamos a certeza de que temos profissionais qualificados nas mãos dos quais literalmente colocamos nossas vidas. Imagine-se sendo operado por um charlatão, ou um prédio sendo projetado por um “curioso” da área. As restrições e barreiras foram montadas para exatamente podermos ter um mínimo de confiança nos profissionais. Diplomas tirados no exterior, para serem revalidados aqui no Brasil seguem uma rota burocrática extenuante e por vezes até excessiva, onde anos podem se passar até que o mesmo seja aceito.
Como um pais de imigrantes, sempre acolhemos de braços abertos aqueles que quiseram escolher este nosso pais como nova pátria. Muitas vezes criticamos o Brasil por este ou aquele motivo, mas nos esquecemos de onde vieram nossos avós e quais as razões que os levaram a vir para cá, muitas vezes nas situações as mais precárias. Sendo assim, num pais construído por imigrantes e com tradição nisto, não há nenhuma razão para que profissionais estrangeiros de qualquer área não possam vir trabalhar aqui. O único problema é que estes profissionais, não importa de que área, tem que obrigatoriamente passar pela rito de revalidação de diploma estrangeiro, assim como todo mundo sempre passou, inclusive os próprios brasileiros formados no exterior.
A proposta do Governo, se for realmente implantada, abrirá um precedente perigoso, inclusive para outras áreas. Na falta de engenheiros, importaremos os mesmos sem qualquer critério, idem para advogados, enfermeiros, arquitetos e assim por diante. Um precedente deste tipo abrirá as portas para todo tipo de “solução” que nada irá resolver. Parecerá bom para os habitantes da Ilha da Fantasia, que assim poderão imaginar estar resolvendo os problemas fora da mesma Ilha.
Mas tal e qual na importação da “mistura de algo”, os problemas serão piores. Em vez do feijão preto, teremos médicos sem revalidação do diploma. Pouco saberemos deles e numa situação de emergência, coisas ruins podem acontecer e a quem iremos depois responsabilizar?! O Governo está tomando decisões perigosas em áreas sensíveis sem nem mesmo escutar, ou se fazendo de surdo, ao que os órgãos competentes e representantes de classe estão dissendo e enfatizando.Para nós, simples cidadãos, restará a esperança, nos anos que se seguirem, caso estas “importações” ocorram realmente, que o médico na nossa frente seja realmente qualificado como precisamos.

Um comentário:

  1. Além de professor, és vidente? ahuahauahuaha...Brincadeiras à parte, ao princípio dessa semana escutei na Gaúcha a notícia de que nossa presidente já está a estudar a vinda de engenheiros! E, em seguida, me deparo com a seguinte matéria - http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-08-13/importacao-de-medicos-engenheiros-e--professores-e-pipoqueiros.html

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