A Ajuda
Quando viajamos costumamos olhar apenas o lado
bonito das localidades. Procuramos não ver a parte feia ou que não nos atinge.
Lamentavelmente, e isto não é apenas no nosso pais, podemos ver que existe uma
parcela (considerável) da população vivendo na rua, ou de mendicância, ou
prostituição, ou mesmo de pequenos roubos. Dependendo do lugar, temos mais ou
menos gente percentualmente vivendo na rua, muitas vezes famílias inteiras.
Obviamente a nossa primeira atitude é dar uma
“ajudinha”, ou uma esmola. O problema é até que ponto isto leva a um círculo
vicioso, pois quem recebe a ajuda passa a achar mais fácil continuar na
atividade do que procurar uma atividade realmente útil. Por outro lado, temos
que considerar a perda que significa para a sociedade ter uma parcela
significativa da mão de obra simplesmente sem ser aproveitada. Quanta riqueza
deixa de ser criada por nos darmos ao luxo de deixarmos seres humanos largados
e sem esperança.
Este círculo vicioso é muito antigo mas felizmente
vivemos numa época em que pelo menos podemos refletir sobre isso com mais
profundidade. É bem verdade que as Igrejas sempre procuraram ajudar pessoas em
dificuldade. Temos desde a Idade Média ajuda que era dada aos pobres da
comunidade. Mas esta ajuda sempre foi mais um paliativo que solução pois
pessoas “sem-teto” são mais um reflexo da sociedade que uma questão filosófica
ou religiosa.
Em cima destes pontos precisamos ponderar alguns
pensamentos e talvez algumas conclusões para podermos propor soluções. Em
primeiro lugar precisamos entender que além do sofrimento humano que está ai na
nossa frente, temos este problema da falta de criação de riqueza por não
utilização da mão de obra. Segue-se a questão de que temos assim todo um efeito
dominó, pois não são gerados impostos, menos dinheiro circula e assim por
diante.
As soluções passam necessariamente pelo Estado, em
qualquer nível. Muita coisa tem sido feito pela Assistência Social, mas muito
precisa ser feito. A necessidade de assistentes é tão importante como a de
médicos, professores, engenheiros, etc. Somos imediatistas nas nossas demandas
políticas mas talvez seja possível uma mudança de paradigma, talvez pequena,
mas significativa. Um mendigo a menos na rua, é um cidadão a mais produzindo e
sendo útil para a coletividade.
Obviamente que além de assistência social, uma
política de emprego e trabalho, atuante e decidida é importante na retirada
destas pessoas da rua. A ajuda das instituições religiosas (ou não), a
Assistência do Estado e uma política de geração de empregos são o melhor
remédio para a recuperação destas pessoas para que antes de mais nada a própria
sociedade lucre com isso.
Obviamente não se deve fazer nada com quem não
quer. Existem pessoas que gostam de levar a vida na rua. Cada um faz a sua
opção, mas a alternativa deve e precisa ser oferecida. Outro flagelo são os
chamados “caça mendigos”. Uma doença social, pior que a mendicância, por ser
opcional e vinda de pessoas com um padrão social que acham que isto lhes dá
direito de brincar com a vida alheia. O caso do índio Galdino em Brasília é um
sintoma claro deste descaso com o semelhante. Ao serem indagados sobre porque
tinham feito aquilo, os delinquentes responderam que pensaram que era “apenas”
um mendigo, como se uma pessoa em extrema miséria não fosse um ser humano.
Felizmente vivemos em uma sociedade em evolução e
talvez possamos reverter este quadro dez vezes milenar para algo mais ameno.
Somente nós e apenas nós, através de pressão política, poderemos sensibilizar o
Estado para que este tenha uma atuação mais decisiva nesta área tão necessária.
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