Infância Perdida
Um dos meus filmes favoritos é “Out of Africa” com Meryl
Streep e Robert Redford. Não sei por que motivo colocaram o nome em portugues
de “Entre dois amores”?! Uma das cenas mais interessantes é aquela em que a
Meryl, no papel da fazendeira, resolve fundar uma escola para as crianças
filhas dos trabalhadores. O chefe da tribo impõe que apenas crianças com altura
menor que a roda de uma carroça poderão lá estudar. A fazendeira não entende e
ele explica que desta forma ninguém irá desafia-lo enquanto ele estiver vivo.
Em outras palavras, ele tem plena consciência do papel de micro ditador e que
pretende manter esta situação o mais que possível.
Exploração
infantil, trabalho escravo com o uso de crianças, isto é tão velho quanto o ser
humano. Crianças sempre foram usadas em trabalhos degradantes, muitas vezes com
a anuência dos pais. A Revolução Industrial, desde o Século 18 apenas agravou
um quadro já bem complicado que só iria começar a sofrer alguma mudança em
meados do Século 20. Mesmo nos Estados Unidos, na época da Grande Depressão
(anos 1930), temos relatos de uso de crianças em fábricas.
Aqui no Brasil,
de umas décadas para cá, tivemos progressos, mas muito ainda precisa ser feito.
Desde o Brasil Colônia que temos o uso abusivo de crianças nas mais diversas
areas de produção e sempre em trabalhos repetitivos e extenuantes. O emprego de
crianças para se produzir carvão vegetal e no descascamento da castanha de caju
não são fatos novos. O que choca é que esta prática ainda exista no pais.
Antes de mais
nada, lugar de criança é na Escola. Digo Escola com letra maiuscula, com
professores gabaritados e dignamente pagos. Existem paises no mundo em que é
lei que uma criança tenha que ir para a escola. Não digo “lei letra morta” e
sim a que é cumprida com todos os rigores. Precisamos entender que uma criança
fora da escola é um cidadão que em 10, 15 anos, será mais um elemento não
qualificado para o mercado de trabalho. Ou o que é pior, na porta do mundo do
crime. A criança que vemos nos sinais, principalmente nas grandes capitais, são
candidatos certos para criminalidade ou prostituição. Onde estão as autoridades
constituidas quando vemos crianças mendigando muitas vezes com alguem adulto
sendo o responsavel por tais práticas?
Mas a pergunta
que fica é quem é que lucra com esta situação? Tal e qual na situação do filme,
acabamos por entrar numa armadilha histórica. O dono do “negócio”, seja uma
carvoaria, uma fábrica de castanhas de caju, uma pedreira, etc, não vai ter
interesse em modernizar o seu negócio se ele tem uma opção barata e fácil.
Simplesmente ele continua do jeito que está. Para que mudar?
A solução é
muito simples! Escola para a gurizada, penalidades da lei para aqueles que
empregarem crianças, digo isto incluindo os responsaveis pelos menores. Muito
foi feito no Brasil, mas certamente muito precisa ser feito. A maior riqueza de uma nação está exatamente
no seu povo e é nele que tem que serem feitos os maiores investimentos. Temos
que ter um jurídico cada vez mais rigoroso neste item, infraestrutura adequada
(escolas de qualidade), e professores motivados e bem pagos. Por maior que seja
o custo, será este investimento que irá nos trazer o retorno de termos um pais
definitivamente nos trilhos. Outros paises fizeram isso: investimento no ensino
básico e fundamental. Um dos mais recentes vem da Coréia do Sul. Devastada pela
guerra meio século atrás, entre outras coisas, foram feitos investimentos
enormes em educação, em todos os niveis. Hoje a Coréia do Sul desponta como uma
potência de ponta internacionalmentel. Produtos “made in Coréia” se tornaram
comuns e o Indice de Desenvolvimento Humano é dos maiores.
Um Brasil cada
vez melhor, esta é a nossa intenção. Precisamos fazer com que os “ditadores da
aldeia” parem de querer bloquear o nosso desenvolvimento social e que todas as
crianças, do Oiapoque ao Chui estejam no lugar que lhes cabe, e este lugar é na
Escola e não em alguma cabana fétida ou estrada empoeirada fazendo trabalho de
adultos ou o que é pior, de máquinas.
Ao buscar informações sobre escolas em Bagé me deparei com seu texto - que, por sinal, adorei! Mas tenho precauções quanto ao endeusamento da Coreia do Sul (até o presidente Obama mencionou algo a respeito, não é mesmo?). Falo como professora, como professora que trabalhou com os diferentes níveis de ensino em nosso país e, especialmente, como mãe (que deseja o melhor para seus filhos, of course). O respeito dado à educação pelos coreanos é ímpar – mas ele traz junto a si um caráter obsessivo que pode aniquilar a infância e/ou a adolescência.
ResponderExcluirO que pude observar na última década é que os melhores resultados escolares se dão quando há um envolvimento familiar com o processo educacional. Conheço famílias várias (de classe média) para as quais não faz o menor sentido comprar livros ou proporcionar cultura, que jamais perguntam ao filho como foi seu dia na escola. Educação, para estas pessoas, é “despesa” – não é encarada como investimento. Imaginemos, então, como funciona a questão escolar em uma família que não possui as condições mínimas de sobrevivência que garantam sua dignidade!
Quanto ao trabalho escravo infantil - que tira nossos pequenos do ambiente educacional – é assustador saber que o mesmo continua existindo aos borbotões em nossas cidades. Me refiro especialmente àquelas crianças que perdem a infância (e a escola) presas (muitas vezes literalmente) em casa, cuidando de irmãos menores.
Nossa realidade faz com que muitos de nós achemos “normal” o que, em verdade, é chocante. Não é normal criança fora da escola. Não é normal trabalho infantil. Não é normal falta de condições materiais no ambiente escolar. Não é normal profissionais desqualificados e malíssimamente pagos. Não, não é normal – e isso me arrasa como brasileira e como ser humano. Porque eu, assim como você, desejo um país cada vez melhor – para todos.