segunda-feira, 17 de junho de 2013

Aprendemos com o passado? - Folha do Sul / 17.Junho.2013


 Aprendemos com o passado?

Transporte público! A própria palavra já diz: público! Algo que o governo, em qualquer esfera, deveria tomar conta e cuidar com a maior das atenções. Infelizmente não só no Brasil, mas de uma maneira geral no mundo, poderíamos descrever a situação como “salve-se quem puder”. Obviamente que no caso brasileiro temos agravantes e complicadores que não são exatamente exemplo para ninguém.
Particularmente nas grandes cidades brasileiras, e não apenas nas capitais, o serviço é caro e de baixíssima qualidade. O poder público fornece a licença de operação das empresas, leia-se concessão, através de editais públicos, e depois a impressão que se tem é que este mesmo poder público se exime de cobrar das concessionárias o cumprimento das suas obrigações. Ônibus ou trens cheios, chegando-se ao extremo de se ter trens reservados a mulheres devido a promiscuidade forçada, particularmente na hora do rush. O preço da passagem é de um nível quase abusivo, se não absurdo. Muitas vezes as linhas tem um roteiro tão tortuoso que pode-se levar até 2, 3 horas em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, para se ir de um ponto final a outro. Os motoristas e trocadores ficam submetidos com isto tudo a uma situação de estresse que acaba se refletindo no seu trabalho.

A solução encontrada foi a “democratização” do carro, com os resultados que vemos hoje. Além de um transporte no final caro, temos junto, engarrafamentos, problemas de estacionamento, acidentes, estresse dobrado, etc. A solução acabou se voltando contra o seu criador. Apesar de todo o apelo para mais conforto com o carro, a verdade é que este continua a ser extremamente caro para a maioria da população, que com prazer utilizaria o transporte público se este fosse mais seguro, confortável e barato.
Com a volta dos velhos problemas econômicos e com a população sentindo isto no próprio bolso, não causa espanto as manifestações que estão acontecendo em todo o Brasil. Isto já era de se esperar. Provavelmente iremos ter outras caso se insista em aumento das passagens.

Como em qualquer manifestação, existem sempre os elementos mais exaltados. Não se pode esperar homogeneidade neste tipo de evento. Contudo se espera que as autoridades não exerçam um papel, digamos, forte demais. Torna-se chocante ver a policia usar de violência para tentar dissolver protestos. Se este tipo de repressão funcionasse, teríamos até hoje um estado ditatorial. Choca mais ainda saber que existem pessoas que hoje estão nos governos e que saíram na rua para protestar contra a ditadura e que agora mandam a policia baixar o pau na população que no final está exercendo o seu direito de protestar. O policial que vai fazer seu trabalho numa manifestação deve ser treinado para não aceitar provocações e só intervir caso ocorra perigo de dano a pessoas ou patrimônio. Lamentavelmente o que se vê na televisão, claramente, é a policia reprimindo os manifestantes, aparentemente sem nenhuma discriminação.

No inicio dos anos 80, manifestações seguidas pararam avenidas importantes em protestos contra a ditadura, e malgrado poucos incidentes isolados, de uma maneira geral não haviam problemas. Fazem parte do jogo político democrático o protesto e a livre manifestação. Estes direitos estão assegurados num livro chamado Constituição e teoricamente esta deveria ser seguida pelas autoridades. Repressão só deve ser exercida caso ocorram desvios de conduta. Fora isso, a policia deveria ser apenas uma mera observadora, se queremos nos chamar de sociedade democrática.

Transporte público e liberdade de manifestação! Aprendemos alguma coisa com o passado ou estamos como naquela música da Elis Regina, sendo os mesmos e vivendo como os nossos pais?

Nenhum comentário:

Postar um comentário