segunda-feira, 13 de maio de 2013

Algo Necessário - Folha do Sul / 13.Maio.2013



Algo Necessário 

Existem conceitos que são relativamente recentes na história humana. Liberdade de pensamento e de expressão estão entre estas conquistas. 300 anos atrás muitos dos conceitos que hoje consideramos como “normais” dificilmente seriam considerados como tal. Absolutismo, arbitrariedades, falta de liberdade religiosa, etc, este era o normal e não a exceção. Se considerarmos que temos algum tipo de organização política por pelo menos 10.000 anos, os 200 e poucos anos que nos separam da Revolução Francesa que nos trouxe a Declaração de Direitos do Homem são apenas um piscar de olhos. Mesmo estes conceitos abstratos tem sido mantidos as vezes com muito sacrifício. É muito mais fácil para governantes com o poder nas mãos abafar a oposição do que ter que escutar críticas e assumir suas responsabilidades. Todos os estados ditatoriais sempre se valeram de algum modo de calar a imprensa e de preferência de ter divulgadas apenas as noticias desejadas e ditas de modo a não causar “problemas”. Desnecessário dizer que corrupção é parte mais do que integrante destes regimes sempre!
Aqui no Brasil, se considerarmos o estado republicano de antes de 1930, o Estado Novo e a Ditadura, teremos mais da metade do século 20 em que estivemos mergulhados em estados de exceção, em que o melhor seria manter a boca fechada sob o risco de se terminar em alguma prisão e sob a possibilidade de tortura ou mesmo morte. Nestas condições o amordaçamento da imprensa é de suma importância para que a comunidade não saiba da verdade e a única descrição dos fatos é aquela dada pelos canais oficiais.
Lutamos no inicio da década de 1980 pela restauração do estado de direito no nosso pais. Apesar dos pesares, pode-se dizer que temos uma atmosfera de liberdade continuamente desde esta época, cerca de 30 anos contínuos, um recorde absoluto para nós brasileiros. Existe toda uma nova geração para a qual “prisioneiros políticos, censura, dops, etc” soam como algo distante, de algum pais imaginário.
A falta de liberdade, e não apenas de pensamento e expressão, teve para nós um preço enorme nos anos da ditadura. Toda uma geração de líderes, políticos, empresariais, estudantis, foram manietados e impedidos de serem as luzes da comunidade. Jamais saberemos como o Brasil seria hoje se tivéssemos seguido um caminho legal em vez de um governo de exceção. Um dos preços que pagamos foi a falta de confiança e o excesso de decisões tomadas “de cima para baixo”. No final desta trilha acabamos entrando na hiperinflação e na quase total desgovernança. As raízes deste processo foram todas iniciadas pelos governos não eleitos pós-64 e só com muita dificuldade fomos saindo desta situação. Vinte anos de governo que muitos de nós ficamos felizes de ver para trás.
Não é por acaso que mesmo na atual situação de estado democrático em que vivemos, que de uma forma ou de outra, o governo tente amordaçar ou limitar a imprensa. Felizmente, até aqui a sociedade civil têm impedido este tipo de coerção. Temos muita coisa para ser modificada e aperfeiçoada na nossa Constituição mas não certamente o artigo 5 – IV: “é livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato” e IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação”. Estes pequenos itens são de suma importância se quisermos continuar a trilhar o caminho da civilização e não voltar ao estado da barbárie em que infelizmente nos metemos no pós-64.
Deixo aqui meus cumprimentos para os meus colegas que com tanta coragem escrevem neste jornal e em outros veículos de comunicação trazendo a verdade para o público. Jornalistas como David Nasser (já falecido, de origem libanesa) são grandes nomes que não deixam a verdade calar. Sem eles, jamais saberíamos a outra versão dos fatos além da oficial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário