quarta-feira, 27 de setembro de 2023

REPETIÇÃO DOS MESMOS PROBLEMAS - 27.09.2023

 REPETIÇÃO DOS MESMOS PROBLEMAS

Semana passada, meio da madrugada, a cidade de Bagé toda acordou ao mesmo tempo com o bombardeio de pedras de gelo. O barulho parecia que estávamos sob ataque no meio de uma guerra. Granizo, como este fenômeno natural é chamado, acontece vez por outra. O granizo da semana passada foi excepcional. Muitos danos. E a natural mobilização das pessoas para resolver os estragos.

 

 Domínio Público

Granizo é um fenômeno natural, assim como são tempestades, tornados, estiagens, etc. Muitos dos seus efeitos não podem ser evitados. Mas alguns podem. Na verdade existem problemas que não precisavam estar ocorrendo. Mas ano após ano, continuamos com a mesma situação, com os mesmos problemas. Não que se possa evitar uma pedra de gelo no telhado, não podemos. Mas existem outros problemas que já deveriam ter sido resolvidos, ou pelo menos minimizados.

 

Domínio Público

Com o granizo, também temos a chuva e os ventos. E as ruas de Bagé ficam parecendo queijo suíço. O granizo trouxe a falta de luz em alguns pontos da cidade. Juntando tudo, andar de carro a noite em Bagé a noite se tornou uma aventura. Muitos dos buracos já podem inclusive receber nomes, de tão grandes. Se as crateras da lua podem receber nomes, porque não os buracos das ruas de Bagé? Até proponho um nome para a primeira inauguração... basta encontrar alguma cratera bem grande, destas que quando o nosso carro passa por não podermos evitar, e parece que o veículo vai desmontar todo, sugiro definitivamente o nome "Cratera do Estrondo". Em outras poderíamos batizar com o nome de alguns gestores atuais ou passados. Uma homenagem mais que justa.

 


Buraco em rua - autor Rodrigo Tetsuo Argenton - Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0

Uma das coisas que mais impressionam é que os buracos parecem se repetir sempre no mesmo lugar. Aparecem, crescem, até que por fim a municipalidade cumpre com a sua obrigação, e vai lá e remenda o buraco, que está a caminho de ser promovido a cratera. Existem situações em que antes mesmo do município tomar uma atitude, alguns cidadãos levam pedras e barro para tapar as quase-crateras.

 

 Domínio Público

Mas porque no mesmo lugar? E por que em outros pontos não aparecem buracos? O serviço de reparos deveria ser mais robusto e apropriado em certos lugares. O gasto seria maior, mas se evitaria ter que refazer o serviço e os recursos poderiam ser empregados de forma mais racional.

O mesmo pode ser dito sobre ruas de grande circulação de veículos e que continuam sem asfalto ou qualquer tipo de pavimentação. Basta qualquer chuva e transitar naquela rua se torna uma verdadeira aventura. Para que está sem carro e vai a pé, mais que aventura. Assim podemos sentir como deve ser a aventura destes rallies tipo Dakar mundo afora. O dinheiro que é gasto semana após semana consertando os buracos no barro seria melhor investido se se asfaltasse a rua.

Ai temos o problema inverso, estiagem. Os prefeitos se sucedem, todos prometem nas campanhas resolver o problema com a tal Barragem da Arvorezinha. Tem até "inauguração", pelo menos em outdoors na estrada. Mas ai quando vem a época da estiagem, novamente temos racionamento cidade afora.

 Domínio Público

Certamente é impossível evitar ter o telhado danificado por uma pedra de gelo que mais parecem bolas de esporte de tão grandes. E infelizmente os mais atingidos são como sempre os mais humildes. Mas certamente não tem razão de ser as ruas continuarem com os mesmos problemas, e a falta d'água continuar a nos assombrar ano após ano.

A cidade de Bagé, sua população, não merece certamente isto. Seu povo acorda cedo, muitas vezes em um frio de rachar, para trabalhar, estudar, labutar. No meio destas atividades a população paga seus impostos, taxas e todas estas formas que são encontradas pelos assim chamados gestores para amealhar recursos das pessoas, via de regra humildes. E ai a cidadã, ou o cidadão, não tem água em casa, racionada por causa de uma barragem que pelo visto só existe pronta apenas na imaginação do "alcaide" (nome antigo para prefeito). Pior, ao sair de casa, as pessoas continuam a enfrentar buracos, barro, lama.

 

 Autor Alan Santos - Creative Commons Attribution 2.0

Deixo aqui minha solidariedade com as pessoas que sofreram com o granizo, e que também, dia após dia, mês após mês, ano após ano, continuam a ter os mesmos problemas, agora agravados pelos buracos no telhado.

 

Professor Sérgio Meth Morgenbesser    

 

Para citar este artigo:

http://prof-sergiometh.blogspot.com/2023/09/repeticao-dos-mesmos-problemas-27092023.html

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

PEDIDOS DE DESCULPAS - 21.09.2023

 PEDIDOS DE DESCULPAS


No Blog passado citei um livro, e gostaram. Recebi comentários positivos sobre isto. Então a minha primeira desculpa é sobre não estar há mais tempo indicando livros que sejam realmente interessantes.

 Autor Ninara - Creative Commons 2.0 - Imagem modificada

No caso deste Blog, quero indicar, até mesmo porque é uma referência importante, o livro "FEBEAPA", do Stanislaw Ponte Preta, o nome artístico do meu xará, o Sérgio Porto, que como bom carioca, levava as coisas sempre brincando. Para aqueles que criticam o jeito meio debochado do carioca, que contrasta bastante com o jeitão mais sério dos gaúchos, digo em defesa dos cariocas, já que me considero cariúcho (um misto híbrido), que para aguentar certas situações lá no Rio de Janeiro, só mesmo levando na gozação, se não a gente fica doido. Assim fica meu segundo pedido de desculpas, que é o fato de as vezes este meu lado carioca vencer o lado gaúcho e eu colocar um pouco de cinismo nos meus textos e vídeos.

Para quem não sabe, FEBEAPA, o nome do livro, significa "Festival das Besteiras que Assolam o Pais". Algo assombroso, pois talvez queiram punir o Sérgio Porto por escrever as baboseiras que ele via ao redor publicadas nos jornais e colocar pimenta no ensopado, ou melhor, no livro. Assim, em nome do Sérgio Porto, eu peço desculpas por ele ter satirizado situações que beiram o total ridículo, para dizer o mínimo. Por favor, não processem o autor do FEBEAPA, até porque ele já é falecido, infelizmente.

Na manhã de hoje, ouvindo o noticiário, onde se relata que existem lideranças políticas em Brasília, que, por estarem insatisfeitas com o Senhor Ministro da Justiça, Senhor Dino, estariam pensando em dividir o Ministério da Justiça em duas, ou talvez mais partes. Quero antes de mais nada pedir desculpas ao ministro, pois nem sei qual é a insatisfação deles, mas o nome dele está lá citado, também desculpas ao Ministério, e assim por diante.

Mas esta situação no Ministério da Justiça me lembra uma das situações do FEBEAPA, descrita magistralmente pelo Sérgio Porto, situação esta em foi considerada, por alas do governo fluminense na época, a troca do talão de multas de duas vias para três vias, com o intuito de coibir suborno aos guardas de trânsito. Ora, nas palavras do Sérgio Porto, se o guarda é subornável, temos que trocar o guarda, mas no Rio de Janeiro aparentemente se considerava a troca do talão de multas (?). Novamente peço desculpas aos envolvidos neste episódio em nome de Sérgio Porto.

Ai vem o problema com o Ministério da Justiça, se o Ministro não é adequado, deveria se trocar o Ministro. Mas tal como o talão de multas, a solução é para realmente não resolver nada, ou pelo menos maquiar uma pseudo solução. Aqui peço desculpas ao Ministro Dino, novamente, pois realmente não sei qual o motivo de tanta perturbação. Considerando o histórico de Brasília, pode-se imaginar que deve ser tudo, menos algo que tenha alguma lógica. 

Também, devido aos possíveis problemas que o meu blog anterior possa ter causado por descrever a situação que estamos passando, quero pedir desculpas aos gestores municipais, atual e passado, que temos e tivemos. Assim por favor acreditem que a nossa cidade está uma maravilha, sem buracos, temos pleno emprego, tudo corre como deveria por aqui, cada vez melhor. Recebi muitas críticas por ter citado no blog anterior a quantas andamos na nossa cidade. Certamente eu deveria estar sonhando, tendo pesadelos e acabei citando isto. Assim peço mil desculpas. Sugiro que quem for a rua, ao ver pessoas idosas catando lixo, desempregados, comércio fechando, a emigração dos nossos jovens, etc, que por favor, pensem que nada disso é verdade, pois assim iremos ter políticos gestores cada vez mais felizes. Tentem ver tudo como uma miragem, mais nada. 

Termino este blog com um pedido de desculpas geral, por ter escrito o que pode ser constatado simplesmente saindo na rua. Talvez eu seja alvo de algum processo por estar sendo tão calunioso ao descrever a realidade....... Por isso este pedido de desculpas, geral, feito com muita seriedade.... Aliás dá para entender porque usei a imagem de uma avestruz procurando um buraco na areia para esconder a cabeça???

 

Professor Sérgio Meth Morgenbesser    

 

Para citar este artigo:

http://prof-sergiometh.blogspot.com//2023/09/pedidos-de-desculpas-21092023.html

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

MUDANÇAS E LIDERANÇAS - 18 DE SETEMBRO DE 2023

Mudanças e Lideranças

Um dos meus livros favoritos é "A Longa Jornada" escrito por Richard Adams. Li este livro na minha juventude, bem mais de uma vez. Não sei onde ele foi parar nas minhas estantes. Provavelmente irei comprar algum por ai, em algum sebo. É com certeza uma obra de arte sobre a evolução das sociedades humanas e das dinâmicas que as mesmas passam.

 Fonte: Círculo do Livro

Por incrível que pareça, é um livro sobre coelhos. Coelhos selvagens, que vivem numa colônia em um terreno que ninguém dá muita atenção. Mas surgem indícios que irão ocorrer coisas muito ruins, que a colônia irá ser destruída. Tudo isto é levado ao líder maior, que como todo "grande governante" acha tudo aquilo muita besteira e que o melhor é não fazer nada, não importa o que venha a acontecer. Entre os coelhos surgem lideranças e particularmente uma, um coelho mais que corajoso, que lidera uma "revolta" onde vários coelhos escapam, para fundar outra colônia, longe da destruição, que acaba acontecendo. A nova colônia floresce. A história mostra bem como é o choque entre ideias. O "coelho líder" da revolta faz a mesma com risco da própria vida.

 Domínio Público

A história humana está cheia destas situações. Lideranças conservadoras é o que não falta. Mas se tivemos progresso ao longo destes milênios de Civilização Humana, deveríamos olhar com atenção para estes líderes que pregam pela mudança, e que sabem o momento e como fazer os fatos ocorrerem. Getúlio Vargas foi um destes líderes. Os revolucionários americanos, George Washington, em particular, foram outros. Temístocles, de Atenas, e assim por diante. Nos momentos de crise, foram as pessoas certas, na hora certa, tomando decisões, na maior parte das vezes certas.

 Domínio Público

Acho que aqui no Brasil, José Bonifácio de Andrade e Silva, assim como Vargas, se encaixa muito bem neste modelo da "Longa Jornada". Ambos os personagens viveram momentos de crise e souberam administrar mudanças que o momento demandava. A influência de José Bonifácio na nossa Independência é, na minha modesta opinião, muito diminuída pelos historiadores. Muitas vezes lembramos Benjamin Franklin, mas José Bonifácio tem uma presença histórica que proporcionalmente é mais excepcional que Mr. Franklin, mantidas as proporções que cada nação, no caso o Brasil e os EUA, viveram.

 Domínio Público

Escrevo isto com muita preocupação e reflexão sobre o momento em que estamos passando, No Brasil em geral, e nesta Fronteira Sul em particular. Minhas preocupações foram aumentadas pelo assim chamado "Sábado Azul". Os tais sábados azuis, para quem não conhece Bagé, são sábados em que a Secretaria de Desenvolvimento fecha metade de uma das avenidas (a Avenida Sete de Setembro) para que comerciantes e industriais mostrem seus produtos.

 Domínio Público

Fiquei muito feliz de ver as iniciativas das pessoas da cidade. Mas também preocupado e muito, de ver que continuamos no rumo de queda econômica no que diz respeito as iniciativas relativas a indústria e mesmo do comércio. Depois de praticamente um quarto de século, em que extrema esquerda e extrema direita se revezaram no controle da cidade, parece que não saímos do lugar, pelo contrário, estamos retrocedendo. Temos fábrica de móveis locais, mas não estavam representados na tal "feira", além de outros ramos, mostrando as deficiências no apoio institucional para os nossos empreendedores.

Muito triste ver os tais governantes, chamados prefeitos, que ficam colocando indivíduos na tal Secretaria de Desenvolvimento, que se espera tenham um mínimo de conhecimento de Economia e Desenvolvimento Econômico e Social, e que após um quarto de século, continuamos sem o tal desenvolvimento. Poderiam mudar o nome da Secretaria, seria assim menos paradoxal, para dizer o mínimo.

Escrevo estas breves linhas pensando nas inúmeras possibilidades, na capacidade empreendedora da nossa gente, e no discurso vazio, de sempre, dos prefeitos, que se julgam sempre os tais, de que estamos numa "nova Bagé". Talvez seja nova para eles, mas para a população, que espera trabalho, oportunidade e a chance de levar uma vida digna, as coisas continuam difíceis como sempre.

Iremos ter eleições municipais ano que vem. tanto no Brasil em geral, mas muito em particular nesta nossa região Precisamos sair desta polarização perigosa em que nos encontramos. Nenhum destes dois lados trouxe o tão prometido desenvolvimento, nesta nossa região em particular. Temos um êxodo cada vez maior dos jovens, que preferem ir para Porto Alegre, Florianópolis ou qualquer outro lugar onde possam tocar a vida de forma digna e honesta. A nossa tão querida cidade está num ciclo vicioso, que parece não ter fim.

Nossas escolhas nestas eleições serão cruciais. Precisamos dar um basta nesta situação. Precisamos de lideranças verdadeiras, que entendam que temos uma cidade com um potencial enorme, que temos toda uma população empreendedora, e que podemos mudar isto, para estarmos em pé de igualdade com outras cidades do Rio Grande do Sul que romperam com o eterno ciclo do atraso. Assim como no livro dos coelhos, esta liderança tem que ter visão e coragem, não inventar coisas ou bancar o coroné de interior. A Agropecuária é fundamental nesta mudança, mas precisamos de indústrias, Indústrias que mandem produtos de qualidade para fora e tragam recursos, gerando renda, emprego e desenvolvimento.

Para aqueles que acham que uma reflexão sobre o fracasso destas políticas é desnecessário, sugiro que pensem no quanto poderíamos estar melhor, com menos idosos catando lixo, mais renda para todos, mais oportunidades e uma cidade melhor em todos os sentidos. Neste momento de crise, é que precisamos de lideranças, lideranças de verdade e não demagogos baratos, com discursos que parecem ter sido tirados daquela novela do Dias Gomes, "O Bem Amado". Não precisamos nem viajar para outras areas do nosso país. Basta uma viagem de 4 horas para sentirmos a distância que nos separa economicamente de outras regiões do nosso próprio estado.

Novamente sugiro a leitura do livro que citei no inicio deste Blog. É nesta crise que está a grande chance de mudança para a nossa região. Precisamos da liderança para catalisar isto.

 

Professor Sérgio Meth Morgenbesser    

 

Para citar este artigo:

http://prof-sergiometh.blogspot.com/2023/09/mudancas-e-liderancas-um-dos-meus.html

 

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O MUNDO A NOITE

O Mundo a noite

A imagem montada abaixo, sobre o mundo a noite, mostra como estamos em termos de desenvolvimento comparados com outras regiões. Nosso Brasil, fora algumas regiões, se mostra sem a pujança de outros lugares, e isso não muda, ano após ano.


Fonte: Nasa - Domínio Público

Deixo este pequeno blog apenas para reflexão. E lembrando que a decisão mundo afora, não só pelo aspecto econômico, mas também pelo ambiental, é pela opção "renovável", ou seja eólica e solar.

Sugiro o vídeo sobre esta mudança, na China:

https://www.youtube.com/watch?v=b1LQSezKxnA

Enquanto se muda toda uma matriz energética mundo afora, estamos aqui querendo explorar petróleo na região amazônica. Vamos colocar em risco um ecossistema sensível, de enorme valor, para que?

Pergunto para os fanáticos na política, que insistem em falar em esquerda, direita e outras porcarias, para dizer o mínimo: qual a real diferença que estamos realmente tendo de um governo para o outro, para podermos deslanchar nosso imenso potencial humano, social, econômico e geopolítico.

 

 Professor Sérgio Meth Morgenbesser    

 

Para citar este artigo:

http://prof-sergiometh.blogspot.com/2023/09/o-mundo-noite-imagem-montada-abaixo.html

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A MESMA NOVELA - Camaçari e Candiota

 A MESMA NOVELA - Camaçari e Candiota

 

Na década de 1980, o Polo Petroquímico de Camaçari na Bahia ia de vento em popa. Um Polo projetado para produzir os principais produtos petroquímicos consumidos no Brasil e que tinha sido uma prioridade para sua implantação pelos governos na década de 1970-1980, na fase da ditadura militar. Os investimentos foram da ordem de bilhões de dólares. Os lucros extraordinários. Também os empregos. Até onde se sabe, mais de 30.000 pessoas trabalhavam lá neste período, com uma renda bem maior que a obtida nos empregos nas cidade vizinhas, mesmo em Salvador, capital do estado, cerca de uma hora de carro do Polo..

 

Fonte: Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-NC-SA 2.0)

O investimento foi portanto pago, renda foi gerada, o comércio local se desenvolveu e as coisas foram muito bem por mais de 20 anos, desde o inicio da implantação até meados da década de 1990. Já no meio dos anos 1980, as administrações das empresas já viam uma tempestade no horizonte. Além da natural defasagem tecnológica dos processos, estava em curso a mudança dos sistemas analógicos para os digitais, mundo afora. Em Camaçari não foi diferente. Os sistemas foram sendo mudados. Onde antes se precisava de 5, 10 empregados na produção, agora bastava 1, com economia de tempo de até 90 % nos processos.

Neste ponto do texto, quero fazer uma defesa das direções das empresas. As pessoas se conheciam ali há anos. Os laços só faltavam ser familiares. Havia também o sindicato, bem atuante, diga-se de passagem. Enfim, ninguém queria ter problemas, pois no final as empresas estavam dando lucros, ótimos lucros, e para que mexer em time que está ganhando?

Mas ai venceu a eleição o senhor Collor de Melo. Seu discurso era de modernização e de abertura da economia brasileira, retirando as barreiras alfandegárias e forçando as empresas a se adaptarem. Por conta disso muitas empresas, Brasil afora, que estavam totalmente defasadas tecnologicamente e que não tiveram nem tempo nem chance de se modernizarem, acabaram fechando as portas, ou minimamente cortando na gordura, na carne e até no osso, no jargão empresarial. Grande parte deste ajuste foi feito via demissões, em massa. 

Não quero colocar aqui a culpa aqui exclusivamente no senhor Collor. Todos os políticos e lideranças empresariais sabiam que a hora da verdade iria chegar. Como o senhor Collor vivia repetindo, nossos carros eram carroças, nossos computadores também, talvez ele mesmo se comparasse a uma carroça, pois vinha de uma família mais que "tradicional" de Alagoas.

O resumo enfim da história é que a indústria não soube se preparar, ou se preparou jogando o preço da mudança nos empregados, que foram sumariamente demitidos. De 30.000 empregados, ficaram 5.000, se tanto, em Camaçari. O choque no comércio em Salvador foi enorme. O preço dos imóveis desabou. A cidade, que vivia em grande parte da renda que vinha do Polo de Camaçari, se ressentiu tremendamente. A situação só iria se normalizar anos mais tarde, com a entrada de novas empresas, modernização de muitas e fechamento de várias. O Polo Petroquímico voltou a ter peso na economia baiana, mas o preço humano, social e econômico foi enorme.

Os acontecimentos recentes aqui na nossa região, com a venda, já feita, ou pelo menos anunciada, da CGTTE em Candiota, parece ter todos os contornos daquela situação. Posso afirmar isso pois trabalhei mais de meia década numa das empresas de Camaçari como Engenheiro, e pude ver os fatos bem de perto.

 

 Fonte : Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-NC-SA 2.0)

 O primeiro fato que me chama a atenção é o tamanho do investimento, bastante elevado. O número de empregados, em relação ao tamanho do lugar, também bastante alto. Quando eu vejo os ônibus na estrada levando e trazendo o pessoal das termelétricas de Bagé para Candiota, me lembra bastante os ônibus na estrada Camaçari - Salvador.

Um fato que sempre foi dito, é que o ICMS de Bagé com 120.000 habitantes, vivendo basicamente de agropecuária, seria equivalente ao de Candiota com menos de 10.000 habitantes. Considerando-se que boa parte do ICMS de uma cidade, arrecadado pelo Estado, reverte para o município, seria de se esperar uma condição "pouquinha" coisa melhor em Candiota. Este é outro paralelo com o Polo Baiano, pois a maior parte dos ganhos nos anos áureos do Polo Petroquímico acabaram indo mesmo para Salvador e seu comércio pujante, com enormes supermercados e Shopping Centers.

Mas tanto em um caso como no outro, o chamamento do mundo foi inevitável. No nosso caso, são as energias renováveis, particularmente a solar, que irá ficar cada vez mais barata nos próximos anos. O ocaso da energia gerada por termelétricas é inevitável e já começou.

Aparentemente a empresa compradora pagou pouco mais de 10 milhões de dólares. O investimento inicial teria sido de pouco menos de 500 milhões. Na verdade a empresa está comprando o valor residual. Vai tirar o que der até o final do ano que vem e se não tiver mais jeito, irá sucatear, vender a sucata e deixar o passivo ambiental para o Estado resolver.

Provavelmente boa parte dos empregados irão ser demitidos nas próximas semanas, como aconteceu em Camaçari. Muitos irão embora. O comércio local, já não muito bem das pernas, irá sofrer um baque tremendo. Os valores dos imóveis irão ter uma queda significativa. A arrecadação dos impostos irá desabar, etc, etc.

 

 Fonte: Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-NC-SA 2.0)

 O pior de tudo é ver políticos quererem tomar vantagem da desgraça alheia e prometerem aquilo que não vão ter como cumprir. Já vi esta novela antes na Bahia, e por algum motivo, nenhum quer falar nada além de abobrinhas. Aliás recomendo aos senhores trabalhadores para tomarem muito cuidado com estes senhores. Nas palavras de Charles Chaplin: "Tudo prometem e nada cumprem".

Ocorreram "encontros" ou "seminários", ou seja lá o que for, em que se "debateu" como iria ser a "luta até a vitória". Luta contra o que? Contra o avanço tecnológico que retirou do carvão a primazia de ser a energia mais barata? Me desculpem, mas tudo isso é um monte de besteirol que acredita quem quer. Me recusei a toma5r parte neste tipo de "debate", até porque não existe argumento. Vamos manter, por "lei", unidades anacrônicas, obsoletas e antieconômicas, com o consumidor pagando o preço? Por favor, um pouco de seriedade não faria mal nestas paragens tropicais.

Quanto a solução, ela existe, chama-se Carboquímica. Mas para que esta seja posta a funcionar, será necessário seriedade, pessoas competentes e menos discursos demagogos de gente que não sabe distinguir reforma a vapor de destilação, como eu escutei (estava na porta) em seminário recente. Para esclarecer alguns pontos, a tecnologia tem que ser de ponta. Não adianta ficar fazendo teste em planta piloto (soa hilário). Precisamos de empresas com experiência internacional no ramo e que saibam como resolver os problemas, inclusive os ambientais.

Tivemos mais de dez anos para nos preparar e fazer as coisas acontecerem. Vi muita politicagem, muita demagogia e pelo visto enquanto a elite local não entender o tamanho da pedra que está vindo, vamos continuar pelo mesmo caminho. Parabéns aos responsáveis. Minha carta, escrita com os professores Dweck e Osvaldo, da Escola de Química da UFRJ, para o então Governador Tarso Genro, continua atual, tal como mais de dez anos atrás. A pergunta fica para os dirigentes políticos, empresariais e acadêmicos: O que foi feito? Esta é a pergunta a ser feita quando convocarem estes encontros demagógicos que a nada levam.


Professor Sérgio Meth Morgenbesser    

 

Para citar este artigo:

http://prof-sergiometh.blogspot.com/2023/09/a-mesma-novela-camacari-e-candiota.htm